domingo, 31 de outubro de 2010

Vem vindo...

Marcela Benvegnu

Quem ainda não tem programação cultural para essa semana. Agende-se.

LUIS ARRIETA | Estará em cartaz no Teatro da Dança, em São Paulo, com Carnaval dos Animais. Composto sobre músicas do compositor francês Camille Saint-Saëns (1835-1921) a montagem é pontuada de humor com referências a questões como memória e herança genética. Segundo o coreógrafo a peça pode ser descrita como um trabalho expressionista em que os movimentos, às vezes abruptos e inesperados, investigam as possibilidades do corpo desde a gestação.  De 5 a 7 de novembro | Sexta às 21h, sábado às 20h, domingo às 18h | Ingressos R$ 4 e R$ 2 | Teatro de Dança.


Quasar Companhia de Dança | Divulgação

QUASAR CIA. DE DANÇA | A Companhia estreia no Teatro Alfa a coreografia "Tão Próximo" no final de semana. O talento e a fertilidade criativa do coreógrafo Henrique Rodovalho, associados a um singular elenco de bailarinos vem seduzindo platéias. Ao longo dos anos, a linha de pesquisa que vem sendo desenvolvida pela Companhia, com uma arrojada e característica exploração do movimento, resultou na criação de inconfundíveis signos rítmicos, que deram identidade própria à Quasar. Dias 6 e 7 de novembro | Sábado, 21h, domingo, 18h | Setor 1 e 2 = R$ 60 Setor 3 e 4 = R$ 40 | Teatro Alfa.


AINDA ROLA...

ECA | ARTES CÊNICAS | Na quinta-feira, dia 4, às 8h30, vou ministrar uma aula de história da dança na Universidade de São Paulo (USP) para o pessoal do primeiro ano de artes cênicas. Um passeio do renascimento ao final do século 19, ilustrado com vídeos e histórias. A atividade é fechada.


SPCD | Na sexta-feira, dia 5, começa a segunda fase da audição 2010 da São Paulo Companhia de Dança. Dedos cruzados porque a fase já é eliminatória. A atividade é fechada.

MÚLTIPLA DANÇA | No sábado, dia 6, acontece a última fase do projeto Múltipla Dança, em Jacareí. Os grupos irão apresentar seus trabalhos para seleção final. Serão escolhidas as cinco melhores propostas, que receberão uma verba e apresentarão posteriormente o resultado coreógrafico. Antes da apresentação explicarei aos grupos um pouco sobre o que é e os rumos da crítica de dança no Brasil. A atividade é fechada.

sábado, 30 de outubro de 2010

Inteligentes relações

Marcela Benvegnu

Em cartaz até amanhã no Teatro da Dança, em São Paulo, Relações Humanas, de Ricardo Scheir e Eduardo Menezes mostra como uma escola de dança pode e é capaz de homogeneizar corpos. RH é técnico, belo, sutil e inteligente. A começar pela escolha do fio narrativo. A montagem é inspirada nos pensamentos do filósofo, historiador e ensaísta americano Will Duran (1885-1981) que afirma que “a realidade básica da vida está nas relações humanas”. E é no contato dos corpos que essas relações sustentam a obra.

Eduardo Menezes abre as cortinas como um espectador. É o olhar de fora para dentro, do mundo das máquinas para dentro de cada relação, indivíduo, corpo, que demonstra suas particularidades, limites, facilidades, e ao mesmo tempo, em pouco mais de 30 minutos, revela uma gramática corporal reconhecível. É interessante quando se pode reconhecer um coreógrafo por ela: o modo Scheir e Menezes de coreografar e o modo Pavilhão D dos corpos responderem.

Nos solos, duos, trios, sextetos e no conjunto, a dança contemporânea se mistura com a clássica para revelar um trabalho consistente. O grupo fala o mesmo idioma de forma harmônica no espetáculo todo. O figurino de Alice Hayasaka se modifica com o passar do tempo, ou melhor, com a transformação das relações estabelecidas. As cores vão ficando mais fortes, a saia vira calça, vestido. Tudo é muito sutil e faz com que o olhar do espectador procure a diferença, o diferente, o pensamento, a fragilidade e o encontro. E a luz, às vezes mais clara ou mais escura, dança com eles.

As projeções, que figuram na cena desde o início do espetáculo, são bem colocadas. Em nenhum momento são maiores do que a coreografia, a não ser quando Menezes, ao final de seu solo, abraça um mundo de imagens imaginadas de cabeça para baixo. Um mundo em preto e branco, que as relações da vida nos fazem enxergar colorido.

O palco é preenchido durante todo o espetáculo e as transições coreográficas são bem amarradas. Bem ensaiado e dirigido (por Scheir e Claudia Riego), RH traz à cena um espetáculo de escola com cara de algo mais. O grupo reflete sua própria imagem, talvez outra realidade básica da vida. Espelho invertido? Na dança não é diferente, às vezes também é preciso olhar o outro para se (re)conhecer.

PARA VER - Relações Humanas, de Ricardo Scheir e Eduardo Menezes, no Teatro de Dança (avenida Ipiranga, 344, subsolo, Edifício Itália | Centro) em São Paulo. Amanhã, às 18h. Ingressos custam R$ 4 | R$ 2. Livre.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Baryshnikov e Ana Laguna: falta ar

Ana Laguna e Baryshnikov em Place, de Mats Ek | Foto: Divulgação
Marcela Benvegnu

Uma noite memorável em que o corpo do espectador é suspenso pela arte da dança. Uma noite em que a dança encontra a maturidade e ela se revela no palco. Uma noite para ficar guardada na memória do corpo.

Ontem quando Baryshnikov e Ana Laguna subiram ao palco do Teatro Alfa, em São Paulo, as mais de 900 pessoas que lotaram o local pareceram desaparecer. O espaço foi tomado por aqueles corpos que sabem o sentido do movimento. Não foi simplesmente técnica, muito menos execução. Foi dança.

O programa Três Solos e um Dueto, muito bem escolhido para a turnê brasileira, começa com Valse Fantasie, solo de Baryshnikov, coreografado por Alexei Ratmansky (2009). A coreografia é pontuada pela música de Mikhail Glinka e marcada pela definição de movimentos do intérprete. Inteiro de branco, com um casaco de forro azul, Baryshnikov não precisa mais dançar para dizer. Sua imagem fala sozinha.

Na sequência, o público pode apreciar um extrato da divina Solo For Two (1996), de Mats Ek, em que o astro divide o palco com Ana Laguna (que foi casada com Ek). Todos já sabem a força de Baryshnikov, mas ver Ana dançar é um presente aos olhos. Ela parece ser maior do que o palco. A dramaturgia, o modo como se move, a potencialidade do gesto, a força. Vale ser clichê: linda demais. Durante a coreografia quem estava na plateia precisou lembrar de respirar.

A noite ainda contou com Years Later (2006 e 2009) de Benjamin Millepied e Place (2007), de Ek. Years Later, solo de Baryshnikov, já tinha sido apresentado no Brasil na noite de abertura da 25a edição do Festival de Dança de Joinville, em 2007.  Agora, a versão revisitada ganhou uma pitada de humor, como por exemplo, uma cena em que o astro gira piruetas e elas são aceleradas a ponto de ser impossível uma real execução. Na coreografia Baryshnikov se olha no espelho e seu reflexo para plateia não poderia ser outro. Mito. O espetáculo termina com Place, coreografia que traz Ana novamente para o palco e que coloca em cena o diálogo da luz, dos objetos cênicos e dos corpos em movimento.

Mais do que coreografia,  Três Solos e um Dueto propõe história da dança viva por unir dois grandes intérpretes no mesmo palco. Que fique a lembrança, a falta de ar.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Andanças....

Nem vou mais me desculpar... e nem vou dar mais explicações sobre o tempo sem tempo para poder passar aqui. Esse blog que nunca teve textos em primeira pessoa, só críticas, artigos, ensaios, só tem essas mensagens agora. Um novo tempo mesmo. Hoje faz exatamente um ano que eu estou trabalhando em São Paulo. Gente, loucura. Passou tão rápido. Enfim, passei aqui hoje para indicar eventos bacanas que estão acontecendo por agora e que eu vou estar com o maior prazer do mundo!


Começa amanhã em Paulínia, a décima primeira edição do Brasil Internacional Tap Festival, que reúne os melhores sapateadores do mundo, entre eles a grande estrela do Emmy Awards, Jason Samuels Smith. Tem também aulas com Aaron Tolson, Maud Arnold, Steven Harper, Caio Nunes, Fernanda Bevilaqua, e claro, Christiane Matallo, organizadora do evento (espero profundamente não ter esquecido de ninguém). A programação inclui apresentações dos internacionais (amanhã, ás 20h30), dos amadores, na quinta, Jam session na sexta. Tudo é gratuito e rola no Theatro Municipal de Paulínia. Ah! Tem também o Clic do Tap, que é assinado por mim e está na oitava edição! Imperdível gente. 

Ainda no interior, no dia 6 de outubro, começa o 1 Festival de Dança de Piracicicaba. Um festival muito aguardado e esperado. Uma vontade política da gestão atual que acabou dando certo. (morro de medo de falar de política nesse período de eleição em que tudo pode ser configurado como campanha... pelo amor de Deus) e que confesso particularmente que ralei muito para que isso desse certo enquanto morei na cidade. O evento tem TUDO para ser muito bacana, jurados de peso, pessoas que pensam a dança e lutam por ela, além de grupos convidados que tem uma força muito representativa no cenáraio da dança brasileira. Não posso deixar de falar, sem e com modéstia, da São Paulo Companhia de Dança, que apresenta Tchaikovsky Pas de Deux, no dia 7, às 20h, no Municipal, com entrada gratuita. Os bailarinos da Companhia - Paula Penachio e Norton Fantinel - dão um show de precisão e técnica em cena. É imperdível gente. Um convite aos olhos.  Tem muita coisa interessante para ver: Frank Ejara, com a Discípulos do Ritmo, Steven Harper com "Combo", Galpão 1 Erika Novachi com "Momentos a Flor da Pele", a linda da Daniela Severian com a apresentação de dois trabalhos e muito, muito mais. Vou estar lá para aplaudir e para dividir o meu olhar com todo mundo nas mesas de avaliação que são seguidas de conversas com os grupos. A realização é da Semac, com direção geral de Camilla Pupa. | A foto dessa parte do post é do Reginaldo Azevedo e é uma interpretação de Tchaikovsky Pas de Deux, um balé Balanchine, que na ocasião estava sendo executado pela Aline Campos e pelo Ed Louzardo, também bailarinos da SPCD. 


 E para aqueles que estão mais longe, lá no Sul, a boa da vez é ir para o Bento em Dança (em Bento Gonçalves que fica a 1h30 de Porto Alegre), que tem coordenação artística da Bia Mattar e rola em duas fases. Muita gente bacana vai passar por lá, tem competição, cursos... Entre os nomes Caio Nunes, Amarildo Cassiano, Ricardo Scheir e outros. Vou ministrar uma palestra (dia 12) e claro, espero vocês para discutirmos o que olhar num trabalho coreográfico de festival e entender como a crítica que se dá ali tem que ser separada do gosto pessoal. Tarefa difícil, não é? Se vocês quiserem saber mais sobre esse evento, deêm uma passadinha no site que é www.bento-em-dança-com.br 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Dia da Bailarina

Marcela Benvegnu

Hoje é dia 1 de setembro.... trabalho numa Companhia de Dança e nem me lembrei que era Dia da Bailarina. Ando não me lembrando de muitas coisas, de muitas pessoas. Mas isso vai mudar. Mudou já. Preciso antesme lembrar de mim... 
Enfim... escrevi um texto sobre a "bailarina" para a Erika Novachi, primeiro minha amiga, minha irmã gêmea, depois minha sócia no Congresso Internacional de Jazz Dance por diversos motivos... Como nós (eu e ela) gostamos resolvi dividir com vocês. 
O texto também é um pouco para mim.... 



Para Erika Novachi
 
Ser bailarina é se encontrar todo dia, se reencontrar a cada passo.
Ser bailarina é se olhar no espelho e se reconhecer.
Ser bailarina é ter uma referência e ver que com o tempo você não precisa mais dela para sonhar.
Ser bailarina é acordar a todo tempo para uma nova realidade.
Ser bailarina é se reinventar a cada coreografia, gesto ou palavra.
Ser bailarina é encontrar a própria linguagem e ver que o seu corpo é capaz de dançar várias delas.
Ser bailarina é poder se reconhecer no corpo do aluno que tem você como referência.
Ser bailarina é se permitir sonhar por meio dos movimentos.
Ser bailarina é poder saber que nao é feio chorar porque cresceu.
Ser bailarina é sentir algo diferente a cada dia.
Ser bailarina é se permitir sentir o que quiser, sempre, sem se preocupar com o dia de amanhã.
Ser bailarina é viver o todo e não a metade inteira.
Ser bailarina é transformar o tempo em momento.
 

domingo, 29 de agosto de 2010

Emoções Baratas

 Marcela Benvegnu
Emoções Baratas: novo elenco, mesmo sabor | Foto de Luis Tripolli | Divulgação

...Há uma semana fui a convite do meu amigo Leandro dos Anjos assistir Emoções Baratas, de José Possi Netto, com direção musical de Guga Stroeter, no Estúdio Emme, em Pinheiros aqui em São Paulo. Ouvia até então burburinhos da montagem que explodiu na cidade nos anos 80 e pensava como poderia ser essa peça-musical-dança-teatro que tanto falavam e unia o jazz dance com o jazz music. 
Fui. E adorei. A big band que revisita o jazz de Duke Ellington é excelente, assim como as cantoras Bibba Chuqui e Karin Hils,que trazem à cena 29 canções. O elenco de bailarinos faz com que você também queria se movimentar na cadeira. Isso quando um deles não aparece e te toca, quase te convida para algo que não se pode desvendar na cena. A movimentação jazzística aparece forte no corpo dos intérpretes e e até causa um certo estranhamento, tamanha confusão que o estilo nos provoca (e nos coloca) hoje. 
Vale lembrar que no elenco de bailarinos original estavam Rui Moreira, Suzana Yamauchi,  Ana Mondini e outros e a peça é dedicada a todos os profissionais envolvidos na montagem de 1988. 
Recomendado.

PARA VER - Emoções Baratas, no Estúdio Emme (avenida Pedroso de Morais, 1.036, Pinheiros). Tel: 2626-5835. 5,ª, 21h; 6.ª, 21h30; sáb. 21h; dom. 19h. | Ingressos cusam entre R$ 50 e R$ 80. A montagem pode ser vista até dia 31 de outubro.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Gypsy: pode ver duas vezes


Marcela Benvegnu

Esse post é na verdade um recado:

Vale a pena ver Gypsy, de Charles Moeller e Claudio Botelho, em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo. Como protagonistas deste clássico da Broadway, que tem texto original de Arthur Laurents, música de Jule Styne e letras de Stephen Sondheim estão a estoneante Totia Meireles (Rose), Adriana Garambone (Louise – Gypsy Rose Lee) e Eduardo Galvão (Herbie). 

Recheado de 18 números musicais, as coreografias originais de Jerome Robbins (1918-1998) foram remontadas por Janice Botelho e Flávio Salles (sapateado), no Rio de Janeiro, e em São Paulo, o elenco infantil foi ensaiado por Kika Sampaio (sapateado). A montagem tem supervisão coreógrafica de Dalal Achcar.

A grande sensação do espetáculo (além do trio de protagonistas) é mesmo o elenco infantil. Fazem papel de gente grande, sapateiam de verdade. As coreografias tem a tônica do musical e apresentam força, ritmo e entrosamento. Muito bem trabalhados. Muito bom.
Vontade de ir de novo.


PARA VER: www.teatroalfa.com.br

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dzi Croquettes!

Marcela Benvegnu

Contei os dias para poder assistir "Dzi Croquettes", um filme de Raphael Alvarez e Tatiana Issa. Fiz contagem regressiva. Estava louca para ver e rever as coregrafias de Lennie Dale (1934-1994) e constatar mais uma vez como esse grupo foi importante para a emancipação da liberdade dos indivíduos de uma época, e como eles foram capazes de projetar um estilo de dança por vezes e sempre marginalizado: o jazz dance. 

Quando comecei a pesquisar a história do jazz no Brasil e "me encontrei" com Lennie (foto ao lado) foi amor a primeira vista. Eu queria ver e ouvir tudo o que existia sobre o grupo e sobre ele. Nunca soube se Lennie era um corpo que dançava, ou a dança em forma de corpo. 

Talvez eu nunca saiba.  
O filme começa com a sua voz ("And one, and two, and three, and four. That´s right children!") e ela já toma conta do corpo inteiro do expectador. As imagens, fotos e depoimentos que sucedem a obra, são um convite à história do jazz dance no Brasil. 

Permeado por depoimentos de ex-Dzi (dos 13 só restaram 5) e de figuras como Luis Fernando, Liza Minelli, Claudia Raia, Marília Pera, Ney Matogrosso, Nelson Motta, Gilberto Gil, Miguel Falabella, e outros, o filme narra de forma clara a importância do grupo no movimento da contracultura brasileira da década de 70, época em que o trabalho do Dzi não ganha somente as páginas dos jornais brasileiros, mas do mundo.


O Dzi Croquettes formado por Wagner Ribeiro, Lennie Dale, Cláudio Tovar, Cláudio Gaya, Ciro Barcellos, Bayard Tonneli, Rogério de Poli, Carlinhos Machado, Paollete, Roberto Rodrigues, Eloy, Bene, Reginaldo, foi  um grupo que transformou medo em liberdade e estranhamento em alegria. Rever esse movimento hoje na tela do cinema, é um privilégio. É ter aula de história em cores. Apesar de um pouco longo e repetitivo, o documentário (cartaz ao lado) é imperdível. 

Vejam o trailler em 
http://il.youtube.com/watch?v=Otch5bIi8L8&feature=related 
e corram para o cinema.

domingo, 18 de julho de 2010

SPCD no Cinema

Com direção de Evaldo Mocarzel (foto|crédito: divulgação Paulínia Cultura) "São Paulo Companhia de Dança", exibido ontem, às 18h30, no Paulínia Festival de Cinema é um convite aos olhos. Não posso escrever muito porque é diferente quando você conhece intimamente sobre o tema principal que o outro se debruça, conhece um pedaço da sequência, sabe como aquele ou este passo é complicado, sabe como as pessoas se doaram e se doam para que o todo seja realizado. Fato é que no filme, nos reencontramos. Assim, ele é todo verdade.

Reproduzo aqui trechos do texto de Celso Sabadim, para o Cineclick (UOL):

A boa notícia é que São Paulo Companhia de Dança, apresentado no sábado (17/7) no Festival de Paulínia, é encantador. Durante 30 dias, Evaldo e sua equipe acompanharam de perto todo o processo de criação do espetáculo Polígono, de Alessio Silvestrin, montado pela Companhia de Dança que dá nome ao documentário. Entrevistas como o coreógrafo? Depoimentos sobre como a vida de bailarino é difícil? Pais e mães contando sobre o cotidiano de seus filhos/artistas? Nem pensar! O filme é totalmente visual e sensorial. "A palavra aqui não é nem coadjuvante; eu diria que é acidental", diz o cineasta.

São pouco mais de 70 minutos de um belíssimo desfile de imagens e sensações onde o corpo humano é ao mesmo tempo objeto e ação. Com luz primorosa e montagem nunca menos que brilhante. Na apresentação de seu filme aqui em Paulínia Evaldo disse que brigou várias vezes com seu montador, que chegou a abandonar o projeto três vezes. Valeu a pena: está na edição/montagem do filme um de seus maiores trunfos.
São Paulo Companhia de Dança segue a linha contemplativa, intimista e reflexiva do também belíssimo Quebradeiras, do mesmo diretor. Tanto neste como naquele, Evaldo abandona a fala, o verbal, para apostar suas fichas e apontar suas lentes para o vislumbre visual que - de fato - enche os olhos. Mesmo porque "o cinema e a dança são duas artes que podem prescindir da palavra", diz o cineasta.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

São Paulo Companhia de Dança

 Tchaikovsky Pas de Deux, de George Balanchine | The George Balanchine Trust 2010 | Crédito: Reginaldo Azevedo

É o "fim do planeta" eu trabalhar na São Paulo Companhia de Dança e nunca postar nada por aqui. 
Então se ligue na agenda da SPCD nas próximas semanas. Vale a pena estar com a gente! Dúvidas: comunicacao@spdc.com.br

De 12 a 15 de julho tem Oficina Intensiva de Dança Clássica com Bóris Storokjov, na sede da SPCD. As vagas estão esgotadas. Se ligue no site da Companhia www.saopaulocompanhiadedanca.art.br que em breve tem novidades por aí.

Dia 13 tem Espetáculo Aberto para Estudantes no Auditório Claudio Santoro, em Campos do Jordão, às 16h. O espetáculo no Festival de Inverno está marcado para, às 21h. No repertório: Serenade, de George Balanchine e Gnawa, de Nacho Duato.

Dia 17 aqueles que estiverem no Paulínia Festival de Cinema devem conferir às 17h30 o lançamento do filme São Paulo Companhia de Dança, de Evaldo Mocarzel. Imperdível. 

Dia 18, em Indaiatuba, no encerramento do Passo de Arte 2010, Paula Penachio e Norton Fantinel interpretam Tchaikovsky Pas de Deux, de George Balanchine.

Dia 27 vale a pena conferir o último depoimento público da série Figuras da Dança 2010, com Sônia Mota. A atividade acontece às 20h, no Teatro Franco Zampari. A entrada é gratuita. 

Prestigie!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Tempo

Sabe quando o tempo aperta e você é sufocada por ele?
Quando o tempo provoca uma aceleração cardíaca... ou um aperto no peito?
Ou mesmo quando você, por mais que tente, corre contra ele sem sucesso?
É o tempo sem tempo.
Só me resta sair dele.
Só me resta dançar.
Seja com palavras. Gestos. Olhares.
Aí o tempo corre de mim. Aí eu respiro de novo.
E depois começa tudo outra vez.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sobre o Festidança

A 21a edição do Festidança aconteceu entre os dias 3 e 13 de junho, em São José dos Campos.
Confira abaixo as críticas da mostra competitiva do evento.

Festidança | Crítica 7 | Pelos Palcos da Vida


Foram oito dias de competição. Dez de apresentações. Muitas coreografias, muitos coreógrafos, muita gente pensando e fazendo dança. De fato a cidade do “avião” tem asas nos pés.

Foi ontem que o palco pegou fogo. A noite começou com o gênero estilo livre conjunto avançado e as meninas do Studio de Dança Gláucia Lacerda, de Santos, mostraram um forró “bomd+”. Além de expressivas o conjunto estava muito bem ensaiado.

O grupo Releve de Caieras, de Caieras, São Paulo fez do palco uma extensão do Pelourinho, quando apresentou “Batuque”, de Gaby Marques. Além de bem estruturada musicalmente, (a coreografia levou instrumentos percussivos para a cena com tambores e latas) o elenco era afinado.

Na dança contemporânea conjunto avançado o Grupo Viva Arte, de Valinhos, São Paulo, mostrou um trabalho totalmente baseado e estruturado em cima dos focos de luz assinado por Ruben Terranova. O primeiro Movimento Lina Penteado, com “Pequenas Percepções”, de Karina Almeida trouxe um pouco de poesia e qualidade de movimento. Os seis intérpretes eram fortes e a simbologia da flor (objeto cênico) trouxe a dramaturgia necessária para a obra.

Quem arrebatou toda a platéia foi novamente Arilton Assunção, com o seu Faces Ocultas Cia de Dança, de Salto, São Paulo. “Proparoxítona” é de uma beleza tão grande, de uma sincronia tão vivaz que fica difícil traduzir. Primeiro lugar em 2009, impossível não reconhecer que o grupo está cada vez melhor. Os 18 intérpretes em cena mostravam a combinação da força com a delicadeza do gesto. É para guardar na retina dos olhos e lembrar quando quisermos ter um bom trabalho em mente.
No jazz conjunto avançado a bateria abriu com “Alma Brasileira”, de Brisa Diamante e Monique Paes, pelo Monique Paes Studio de Dança, de Jacareí. Mostraram que o tempo pára sim. Pára para ver dança de qualidade. O Centro de Arte Lílian Gumiero, de Suzano, São Paulo, apresentou “Hairspray”: trabalho fiel ao original e bem colocado.

O Ballet Ana Araújo, de São José dos Campos, São Paulo, apresentou “Cinética”, de Ana Araújo. Um bom trabalho de conjunto, com uma projeção muito bem feita. E a Companhia Independente de Dança de São Paulo, de São Paulo, apresentou “The New Bossa Nova”, de Edson Santos, com casais bem preparados tecnicamente. Um trabalho limpo e bem pesquisado.

Vale rememorar. Foram-se os dias. A dança aconteceu e reinou na cidade. Ficam na memória trabalhos como o pas de deux de “Paquita”, de Marius Petipa interpretado por Paula Alves e Welber Pacheco (Especial Academia de Ballet | São Paulo),  “Auroras”, sapateado de Bruna Miragaia pelo Monique Paes Studio de Dança (Jacareí), a variação de La Fille Mal Gardée, com Fernanda Soares, do Ballet Elisa (São Bernardo do Campo), “Anton”, de Ricardo Scheir, pelo Pavilhão D; “Hip Hop Our Root”, de Henry Camargo, para a Cia de Dança Kahal, de Jundiaí.

Poderíamos listar aqui tantos outros que passaram pelo palco do 21º Festidança... Que fique a lembrança e a memória de que vale a pena fazer dança independente de colocação, independente da forma como o outro acha que a sua dança poderia ser feita. Que a próxima edição seja tão boa quanto esta. Que quando as cortinas se abrirem hoje, os aplausos sejam para ela: Roseli Rodrigues, que agora faz dança em outro lugar. “Tango Sob Dois Olhares”, merece ser visto e aplaudido de pé. Por ela, para ela.

Festidança | Crítica 6 | Doce Sabor para os Olhos

Marcela Benvegnnu


Finalmente talvez não seja a melhor palavra para começarmos este texto, mas já era hora voltarmos a sentir no Festidança aquela sensação em que o corpo se eleva da cadeira em alguns momentos, tamanha a beleza do conjunto das obras apresentadas. Sim, obras, porque dança é arte.
Quase na reta final do evento, ontem subiram ao palco do Teatro Municipal 25 trabalhos, divididos nas baterias de dança contemporânea (solo masculino e feminino avançado, duo e trio avançado) e jazz conjunto sênior.
No contemporâneo solo masculino avançado foram apresentados bons trabalhos. Intérpretes com qualidade de movimento e, sobretudo, consciência corporal. A dança contemporânea exige treino, técnica, não basta ser um bom bailarino de outro gênero, desconstruir algumas formas e entrar em cena. Pesquisa de corpo, não só de processos e mais processos.
No solo feminino avançado Eugênia Granha Vasconcelos, com a coreografia “Água e Sal”, de Eduardo Menezes, pelo Pavilhão D, de São Paulo, fez a plateia silenciar. A intérprete – que veio do Uai Q Dança, de Uberlândia e no ano passado levou o prêmio de melhor coreografia do Festival de Dança do Triângulo com “O Sabor de Uma Laranja”, de Armando Duarte - mostrou que continua “mais” linda.  A coreografia é extremamente bem construída, o foco central é bem colocado e tem um porque de estar ali. Não é água sal, nem café com leite. É mesmo arte para os olhos.
            Na bateria de dança contemporânea duo avançado o Grupo Corpo Livre, de Valinhos (foto) - crédito Adilson Machado) transformou o tempo em outra coisa, um instante de felicidade. Em cena os intérpretes são um único corpo, a horizontalidade do trabalho chama atenção pela construção inteligente (assinada por Ricardo Scheir), que não precisa ocupar o palco todo para dizer alguma coisa. A coreografia tem um contexto muito bem articulado com a movimentação. Doce sabor para os olhos.
            A Companhia Independente de Dança de São Paulo, que interpretou “Deixa-me Cair”, do talentoso Edson Santos, é tão poética quanto à música interpretada: “Valsa de Eurídice”, de Vinícius de Moraes. E por falar nas trilhas sonoras, ótimas escolhas. Quem nunca ouviu e não se emocionou ao som de “The Sound of Silence”, de Paul Simon?
            Para encerrar a noite quatro trabalhos de jazz dance conjunto sênior. A Escola de Dança Alice Arja, do Rio de Janeiro, com seu Forró Jazz, de Carlos Fontinelli levou ao palco uma típica festa junina do interior. No lugar da quadrilha, o forró. Na seqüência, o Grupo Juvenil Studio A, de Vinhedo, de Zeca Rodrigues, apresentou Barbie´s World (por que dar o nome da música?). O trabalho é visual, colorido. Depois foi a vez da Cia de Dança Kahal, de Jundiaí. “Pulsante”, de Camila Campos é forte. Às vezes até mais forte do que o necessário.
            Fechando a bateria o Ballet Ana Araújo, de São José dos Campos, apresentou “Gente Jovem”, de Ana Araújo. Talvez alguns não tenham entendido a proposta da coreógrafa: o “retrô”. Desde a música, ao figurino, aos pés descalços (com proteção), a dança virou protesto. Aquelas perguntas que fizemos aqui ao longo da semana podem ser respondidas. O nome da música não é o nome da obra. A movimentação é pertinente ao contexto apresentado. E o espaço é usado de forma brilhante: é possível ver as mesmas seqüências feitas para diversos pontos. Em nenhum momento o trabalho cria uma massa que se movimenta junta sem ter o porquê de estar ali. De fato “o novo sempre vem”, mas nem sempre é percebido pelo todo.

MAIS:
- RAÇA CIA DE DANÇA - Quem ainda não garantiu seu ingresso para assistir “Tango Sob Dois Olhares”, de Roseli Rodrigues, amanhã, no encerramento do 21º Festidança, com o Raça Cia. de Dança, o faça. A penúltima montagem de uma das mais importantes figuras do cenário do jazz dance brasileiro, que morreu em março desde ano, deve ser vista e não só gravada na memória. Deve ser gravada na carne de todos aqueles se transformam seus movimentos em dança.

Festidança | Crítica 5 | Dez pequenas reflexões sobre uma noite de dança



Marcela Benvegnu

1 | A quinta noite competitiva do 21º Festidança reuniu somente onze trabalhos. As categorias foram estilo livre conjunto, danças folclóricas e étnicas conjunto avançado e jazz conjunto júnior. Noite pequena. Letra pequena. Texto grande.
2 | No estilo livre quem levantou a platéia (que estava novamente motivada e o artista depende da platéia) foi o Studio D, de Avaré, São Paulo, com a coreografia “Alegria Nordestina”, de Mariana Camargo. O trabalho condiz com a proposta do estilo livre e apresenta uma concepção adequada à idade das intérpretes. O cuidado com o figurino e com as cores das sapatilhas foram evidentes. A narrativa proposta (que dialoga com o release) cumpre seu papel fundamental: ser dança. Ótimo trabalho.

3 | Em danças folclóricas e étnicas a Escola Livre de Dança, - Secult, de Santos, apresentou “Carteado”, de Melissa Ricci. Um bom trabalho de Irish (sapateado irlandês).  Sejam nos digs ou nos clics todas as intérpretes formaram um único corpo em cena. A coreógrafa pensou desde a concepção no uso do espaço e do figurino, pois as cores se misturavam de forma homogênea.


4 | Nas danças folclóricas o trabalho do Grupo de Dança Terracota, de Uberlândia, “De Angola ao Gueto”, assinado por Dickson Du-Arte, mostrou toda a força da ancestralidade africana. Cinco intérpretes usaram o palco de forma inteligente e abordaram os elementos das danças africanas e brasileiras com um toque de contemporaneidade. Um merecido e bom trabalho para trazer à tona a força da cultura negra.

5 | A bateria de jazz conjunto júnior requer aqui uma pausa maior. Antes de qualquer reflexão. O que é jazz dance? Tanto a música quando a dança conhecida com o nome de jazz é resultado de uma fusão de influências e relações que prosperaram nos territórios americanos a partir do século 18. Suas raízes estão diretamente ligadas ao coração da África onde a manifestação não era apenas um espetáculo, mas sim uma forma de diversão.

6 | Considerada uma manifestação unicamente própria de escravos negros das grandes plantações de algodão e tabaco, a cultura do jazz reflete influências de diversas índoles. Por uma parte se apreciam ritmos e bailes africanos que duraram muito na consciência coletiva dos negros, por outro lado estavam às manifestações de origem religiosa onde ritmos e etnias diferentes tinham em comum o mesmo ritual: dançar para a chuva, para pedir fecundidade, para celebrar nascimentos. Suas influências estão obviamente na cultura negra e suas características mais marcantes e visíveis inspiradas nas danças africanas.

7 | Uma outra grande influência nas manifestações de origem negra veio direto da música e da dança branca, mais propriamente da música popular de raiz européia. Assim, pelo que parece claro a influência se deu por via de imitação, as polcas, quadrilhas, marchas, danças irlandesas, bailes ingleses como o clog, começaram a se misturar com danças autônomas para dar lugar ao que conhecemos como jazz. Se bem que foram os negros que entretiam seus amos que elevaram as mudanças da dança africana transformando-a em jazz, mas foram os brancos que começaram a dançá-la primeiro em lugares abertos.

8 | Desde o começo do século 19, quando alguns grupos de bailarinos irlandeses começaram a atuar no país, as danças dos negros eram interpretadas por brancos, que por muitas vezes pintavam suas faces de negro para parodiar, cantar e dançar como tais. Este cenário mudou completamente com a emancipação dos escravos, acordo firmado por Abraham Lincoln no dia primeiro de janeiro de 1863: a dança e o canto dos bailes dos escravos negros agora poderiam sair de lugares restritos e irem para os públicos. Logo, essa dança que começou a tomar conta dos palcos era de negros e brancos e esse momento teve uma influência decisiva na Comédia Musical, que nada mais era do que os primeiros passos do que hoje conhecemos como jazz.

9 |  O  jazz dance é híbrido, nascido de uma multiplicidade de formas de espetáculos anteriores, é caracterizado pelo swing, por movimentos sincopados e pela polirritmia, que é a combinação dos movimentos do corpo em vários ritmos ao mesmo tempo. Existem algumas variações de gênero, como tradicional, lyrical, modern e musical.

10 | Agora sim talvez possamos olhar para a noite de ontem. Eram mesmo trabalhos de jazzdance? Outro detalhe importante: se pegamos a música de um balé de repertório como “Giselle”, colocarmos o nome da coreografia de “Giselle”, o que temos que fazer em cena? “Giselle”! Com o musical é a mesma coisa. Musical também é repertório. Tem que ser fiel. Caso contrário, numa releitura, que pode sim ser feita, não podemos chamar de “Giselle”, porque em cena o repertório se transforma em outra coisa. Dica dada.

MAIS
Sem mais...
 

Festidança | Crítica 4 | Esquentou, mas pode pegar fogo

Marcela Benvegnu


              Vamos refrescar a memória. A noite de domingo, dia 6 de junho, trouxe ao palco do Teatro Municipal de São José dos Campos três diferentes estilos de dança: balé clássico de repertório (variação masculina avançado), dança de salão (duo e conjunto avançado) e dança de rua (conjunto sênior). Hoje, alguns dias depois, quando o 21º Festidança retoma a segunda parte da competição é que temos a chance de parar o corpo e refletir.
A bateria de balé clássico de repertório variação masculina era composta por sete trabalhos. Welton Lucena, que garantiu o primeiro lugar no ano passado, apresentou uma precisa variação de Acteon (do balé Diana e Acteon*), remontada por Adriana Assaf pelo Ballet Adriana Assaf, de São Paulo. Já Edson Artur Machado Júnior, pelo Ballet Elisa, de São Bernardo do Campo, São Paulo, com sua Esmeralda*, mostrou um bom trabalho de pés e baterias.
O nervosismo tomou conta do palco em alguns trabalhos. Uma pena. Todos sabem como é difícil ensaiar horas a fio dentro de uma sala de aula e ter muitas vezes menos de dois minutos para mostrar meses de trabalho. Às vezes vale à pena respirar, pensar que não é uma competição, que os jurados nem estão aí, e dançar. A dança flui melhor, sai do corpo e é absorvido por ele. É preciso entrar em cena acreditando em si. Dançar para si, para preencher os vazios existentes na alma e claro, ter confiança. Talvez seja essa “pitada” que falte em alguns solistas ou mesmo grupos. É preciso acreditar mais. Sempre mais.
Na dança de salão o destaque ficou para o Grupo Viva e Dança, de São José dos Campos, São Paulo, que apresentou “Amor Intenso”, de Marcelo Ribeiro da Silva. As formações são inteligentes e a coreografia é bem articulada. É preciso dar mais valor a dança de salão e essa valorização tem que começar pelos próprios coreógrafos, que tem que tratar a dança, como arte. E trazer ao palco mais do que uma junção dos passos.
É preciso começar a responder questões que são apresentadas na cena faz tempo: Por que o nome da coreografia tem que ser o nome da música? Por que colocar em cena um banco e usá-lo como enfeite no começo e no final da coreografia? Objeto cênico tem que se tornar dança em cena. Qual é a narrativa que eu me proponho a fazer? E os releases? Por que escrever poemas se a coreografia não me fala nada sobre aquilo? Por que escrever “difícil” fazendo com que o assunto mais importante da obra se perca na palavra? Qual é a minha dramaturgia? Como o figurino se relaciona com a coreografia? Que luz eu desenho no espaço? Que formações são mais interessantes para essa dinâmica de movimento que é proposta? São muitas perguntas. Respostas difíceis.
Para encerrar a noite, a dança de rua conjunto sênior mostrou a força e a sincronia do gesto. A Yo! Hip Hop Dance Company, de Sumaré, com o seu “Hip Scratch Box”, de Clécio de Souza, respondeu algumas das perguntas acima. A narrativa era evidente. O nome da coreografia mantinha um diálogo direto com a proposta e o trabalho era muito forte. O Xtyle Project, do Rio de Janeiro, apresentou dinâmicas de movimento muito inteligentes no seu “Desconceito”, de Rodrigo Pires de Souza e Filipi Escudini de Moraes.
A CBS Street Factory apresentou “Elétrons”, de coreografia de Nicolas Karps – primeiro lugar em 2009. O trabalho cuja dramaturgia foca a atração e repulsão dos movimentos também cumpre a proposta que se propõe. Tudo no lugar. Mas indiscutivelmente a noite foi da Cia de Dança Kahal, de Jundiaí. “Êxodo”, de Henry Camargo tem boa música, apresenta uma movimentação que se apropria de elementos da dança contemporânea sem deixar de fazer dança de rua. O figurino é bem pensado e a mudança de música é sutil. Sem contar que quando a música muda, a intenção do corpo dos bailarinos também muda. Esse é um importante olhar para a coreografia.
De fato as noites vieram num crescente, esquentaram. Mas ainda podem pegar fogo... tomara que pegue.
MAIS:
Diana e Acteon – Alguns dizem que este balé, uma lenda grega, foi coreografado por Marius Petipa em 1902, outros que em 1931 Agrippina Vaganova teria recoreografado o pas-de-deux como conhecemos hoje. Fato é que a coreografia se tornou popular e é vista e dançada por diversas companhias no mundo. A versão mais usada é de Petipa, anteriormente coreografado para o balé “Esmeralda”.

Esmeralda – É um balé de três atos e cinco cenas coreografado por Jules Perrot. Estreou em 1844, em Londres e tem música de Cesare Pugni. A variação mais conhecida é a que a personagem, uma cigana, dança com um pandeiro.

Festidança | Crítica 3 | Variações Sobre Um Mesmo Tema

Marcela Benvegnu

Ontem na terceira noite da mostra competitiva do 21º Festidança foi a vez dos trabalhos de balé clássico de criação conjunto (júnior, sênior e avançado) e de dança de rua conjunto sênior subirem ao palco. A noite começa bem com o júnior da Escola de Dança Alice Arja | Rio de Janeiro. “Dreams”, de Daniela Silva é simples e revela meninas bem trabalhadas tecnicamente para a execução dos passos. O que é preciso rever diz respeito ao corte brusco da música (tema recorrente em todas as noites do evento).
Ainda no júnior, o Studio D | Avaré mostrou uma proposta adequada para a idade dos pequenos bailarinos em “Valsa”, de Luciana Grisolia. É interessante notar como ela harmoniza as potencialidades de cada um na cena. Um trabalho que pode crescer ainda mais.
No conjunto sênior “Biocenose I”, de Ricardo Scheir, para o Pavilhão D | São Paulo é instigante. Faz com que o espectador sentado na cadeira sinta a música e seja absorvido por ela. O conjunto é muito bem ensaiado e traz a marca Scheir. É interessante quando um coreógrafo assume seu estilo e deixa isso impresso no corpo dos bailarinos. Uma gramática corporal visível também em “Anton” (foto), do coreógrafo, que competiu na categoria avançada. Sobre a música “Flown”, de Rudy Nundes, o elenco afinado mostrou um trabalho inteligente. A concepção coreográfica articula muito bem os solos, duos e trios, que não deixam em nenhum momento de estar dentro do contexto proposto por Scheir. Um detalhe: o figurino - os rapazes inteiros de preto e as moças com saias de duas cores – exibia uma bela plasticidade.


DANÇA DE RUA – É na dança de rua que parecemos dar voltas, voltas e voltas e cair no mesmo lugar. Primeiro é preciso pensar no nome das coreografias que não dialogam com o que é visto em cena. O nome é a primeira referência que se tem de um trabalho. Depois é preciso pensar na escolha da trilha sonora e se preciso até traduzir algumas músicas. Em muitas coreografias a trilha contradiz a própria concepção apresentada. Também nos com idéias boas que não são desenvolvidas. A história é a mesma dos dias anteriores, porque colocar em cena um objeto cênico se ele não vai ser usado, ou seja, se ele não vai ser transformado em dança?
Também é preciso atentar as formações dos desenhos coreográficos (concepção coreográfica). A obviedade e simetria parecem indicar um padrão de comportamento, mas não é preciso ser óbvio e nem simétrico para fazer dança. Fato é que quando a coreografia começa o olhar treinado já sabe o que vai ver até o final (as poses finais são um capítulo a parte). As coreografias deixam de surpreender.
Ontem quem ousou foi Henry Camargo, com a Cia de Dança Kahal | Jundiaí com “Hip Hop Our Root”. A coreografia tem formações diferentes das convencionais e a movimentação é rica nas construções e desconstruções. O coreógrafo trouxe ao Municipal um trabalho bem ensaiado, que se relaciona com música e título. Também pensou nas cores dos figurinos casuais do conjunto, que quando dividido em duos, trios ou quartetos ficavam interessantes.
Alguns temas: Por que trocar de figurino em um trabalho de cinco minutos e ele não dizer nada? Por que dançar de cabelos soltos sendo que eles atrapalham o desempenho técnico (e plástico) do intérprete? Por que não prender os adereços para que eles não caiam no chão? São tantos por quês.... que ficamos variando mesmo sobre o tema que fazemos e vivemos diariamente: a dança.
Será mesmo preciso?

MAIS:
Início e fim – A coreografia começa na coxia e só termina quando o intérprete sai da cena.. Em alguns trabalhos quando a música termina e os bailarinos agradecem, eles saem do palco como se ali não fosse um lugar de exposição. Por favor, vamos sair do palco de forma organizada. O público agradece, o trabalho fica bem acabado e a dança aplaude.

Festidança | Crítica 2 | Provocações Inteligentes

Marcela Benvegnu


 Sem dúvida foi o sapateado que aqueceu a segunda noite competitiva do 21º Festidança ontem, que contou com trabalhos do gênero em conjunto avançado. A bateria reuniu seis coreografias. Cada uma com suas particularidades, pontos fortes e fracos. Na primeira parte da noite o público, que lotou o Teatro Municipal, também assistiu aos trabalhos de balé clássico de repertório (variação feminina junior, avançado, conjunto sênior e avançado).
            Em cena, os grupos da cidade mostraram sua força e comprovaram a tese de que aqui, na terra da tecnologia, o sapateado é soberano.  O Grupo Corpus (São José dos Campos), de Patrícia Stellet trouxe a cena um “Magnetismo” musical inteligente. Já “Ocre”, da Cia Feeling de Dança (também de SJC), de Charles Renato, mostrou o bom uso do elemento cênico (blocos de madeira), de como ele pode virar dança e ser uma extensão do corpo. E o Ballet Ana Araújo (SJC), com Ritmia, de Ana Paula Veneziani trouxe aos “ouvidos” a sonoridade de pés soltos e de um som limpo.
            Para não ser repetitiva (já sendo), o Monique Paes Studio de Dança (Jacareí) inovou novamente com Bruna Miragaia a frente de “Auroras” (foto). O trabalho provoca e é aí e por isso que se torna tão bom. A música é uma espécie de oração, o figurino mistura o brilho escondido (e revelado) da vida (detalhe para o capuz que não cai da cabeça dos intérpretes) e a coreografia emudece. Emudece no sentido de que é inteligentemente planejada, desde a configuração dos passos para não brigar com a música, mas ser um complemento dela, à disposição dos intérpretes, a simbologia do texto, a plasticidade. A música construída com os pés suspende o corpo do espectador, o espírito. Detalhe importante: Onde estava a coreógrafa durante a apresentação? Em cena. Ela estava no mesmo patamar dos alunos. O grupo era um só. Um único e importante corpo de “anjos de luz”.

BALÉ CLÁSSICO – Clássico de repertório é mesmo um desafio. Um desafio para o intérprete, um desafio para quem está à frente da adaptação. Na noite de ontem tivemos bons trabalhos, como a variação de La Fille Mal Gardée, com Fernanda Soares, do Ballet Elisa (São Bernardo do Campo); O Quebra-Nozes, de Marius Petipa (1818-1910), com Stefanina Petry, para o Ballet Adriana Assaf (São Paulo) e também o conjunto da Escola de Dança Alice Arja, do Rio de Janeiro, com séquito das Fadas da Bela Adormecida, também de Petipa. Trabalhos bem colocados, intérpretes seguras, bem ensaiadas e, sobretudo, com a carga emocional certa para o personagem.
Mas além da preocupação com a veracidade do balé original, com as cores dos figurinos, com o tamanho das coroas (podemos economizar porque a cada espetáculo temos coroas maiores), e claro, com o uso da técnica, um “incomodo” se instaura: (novamente) a qualidade da trilha sonora. Os diretores devem se preocupar com essa limpeza técnica urgentemente. Isso afeta a qualidade da obra, inclusive o modo de se olhar para ela.
Enfim, uma boa noite de sexta-feira. Que venham melhores.



MAIS:

Dia 25 de maio – Dia Internacional do Sapateado. É comemorado por conta do nascimento de Bill “Bojangles” Robinson (1878-1949).

Bojangles - Foi ele o responsável por trazer o sapateado para a meia-ponta. Conquistou Hollywood (em 1932), quando entra para história do cinema americano contracenando com Shirley Temple. Uma de suas mais famosas coreografias é “Backbird”, que dançava em cima de uma escada.

Datas (!!!!-!!!!) – As datas de nascimento e morte são importantes nos textos porque contextualizam um período na história da dança mundial já que não temos nenhum dicionário de dança no país. As publicações internacionais são valiosas, porém, não contemplam personalidades da dança brasileira.


Festidança | Crítica 1 | Nem cá(lá), nem (cá)lá


Marcela Benvegnu

A primeira noite competitiva do 21º Festidança, que reuniu trabalhos de balé clássico de repertório (variação feminina sênior, pas de deux júnior, sênior e avançado) e sapateado conjunto (sênior e junior) trouxe à cena importantes questionamentos, como por exemplo: como andar nas pontas dos pés?
"Paquita", da Especial: qualidadeA pergunta é das mais simples e óbvias, porém, a resposta, não é. Andar nas pontas é um grande desafio para a bailarina. Não é simplesmente caminhar, vai (muito) além disso. E se andar nas pontas requer atenção, escolher a sapatilha certa (para o pé certo) talvez tenha sido o grande desafio desta noite. Duelo difícil entre pés e coreografias.
Histórias de pontas e pés à parte, a bateria de balé de repertório apresentou um tema recorrente quando se trata de remontagens: o quanto de fidelidade com a montagem original tem cada obra apresentada? Existem muitas versões, mas no mínimo elas têm certa conexão e dialogam entre si. Complicado é ver montagens “novas” naquilo que repercute ao longo dos séculos (caso contrário, não se chamaria repertório).  Adaptar não é modificar o trabalho, e sim colocá-lo de forma correta e adequada no corpo dos intérpretes.
Primeiro lugar no ano passado, Fernanda Lopes, do Ballet Jovem de São Vicente | São Vicente, que concorria na categoria sênior com a variação de “Dom Quixote”*, de Marius Petipa* (1818-1910) mostrou evolução técnica e expressão para segurar uma interpretação deste nível. Não basta executar, é preciso dançar.  E quando Paula Alves e Welber Pacheco (Especial Academia de Ballet | São Paulo- foto) entraram em cena para apresentar o pas de deux de “Paquita”*, de Petipa, que a noite fria começou a esquentar. Ele dança para ela. Ela para ele. Um confia no outro. A execução de cada passo tem um porque revelado no corpo, na expressão, no modo de dançar. A qualidade aparece. Os olhos agradecem. O corpo do espectador sente algo diferente. É dança. 
Ainda no clássico é preciso cuidar das gravações das músicas. Algumas coreografias foram comprometidas por chiados e cortes mal feitos. É preciso lembrar que a obra é o todo e não somente uma parte dela.
PLACAS NO PÉ – Sempre esperado no Festidança, o sapateado não empolgou tanto quanto nos outros anos. Tudo esteve mais “morno”, inclusive os desenhos coreográficos. As coreografias apresentavam uma frontalidade excessiva e o “centro”, usado antigamente como o espaço mais importante do palco, volta à contemporaneidade com o mesmo sentido. Por que ter como referência o centro do palco? Sem medo de ousar já é hora de explorar laterais, fundo, frente. É preciso surpreender, fazer com que o corpo da plateia fique suspenso. Claro, isso tudo sem sair da música. Porque sapateado é música.
Apesar de o linóleo abafar a sonoridade das placas de metal, a noite foi de Bruna Miragaia, com seu “Baianá”, pelo Monique Paes Studio de Dança | Jacareí. A música que dá nome à obra (por que a coreografia tem que ter o nome da música?) sai da percussão habitual do grupo e encontra a brasilidade. A luz dialoga com a cena, cria um ambiente para que a dança se revele. A coreografia sai do convencional e usa todo o espaço do palco fazendo com que os interpretes cresçam. A concepção dos movimentos é rica e a sonoridade inteligente. Um excelente trabalho de pesquisa revelado em forma de coreografia.
Que venham os trabalhos avançados e com eles a força de um sapateado que é referência no Brasil. É preciso aquecer o corpo (ainda) frio, bem frio.

MAIS:

Dom Quixote – É um dos mais famosos balés de Marius Petipa, com música de Leon Minkus, que estreou em Moscou em 1869. Conta a história de amor entre Kitri e Basílio. É dividido em três atos e baseado na obra homônima de Miguel de Cervantes. A estreia do trabalho marca a ascensão da Rússia como o centro da dança na Europa.

Paquita – Com música de Edouard Delvedez e coreografia de Mazilier e Petipa, Paquita estreou em Paris em abril de 1846. A montagem dividida em dois atos e três cenas tem como protagonista Paquita, uma cigana que luta para ficar ao lado de seu grande amor, Lucien.

Marius Petipa (1818-1910) –
Nome conhecido no cenário da dança Petipa foi um dos mais influentes coreógrafos de todos os tempos. Entre os seus trabalhos virtuosos ainda destacam-se “A Bela Adormecida”, “Raymonda”, “La Bayadére” e “O Lago dos Cisnes”.

Crítica? – Crítica vem do grego “krinen”, que significa quebrar, partir. Criticar é colocar uma obra em crise, evidenciar e potencializar suas partes. Colocar em crise a ideia que se tem do objeto.  Nada tem a ver com gosto. 

De cara nova

Precisava mudar a cara desse blog.
Acho que porque estou mudando de cara internamente.
São tantos desafios que é preciso respirar fundo e encarar de frente.
Se estou feliz?
Estou.
Mas que todo mundo tem um dia que se sente pano de chão.
Ah tem!

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Tá rolando essa semana...

... Amanhã, dia 25 de maio (Dia Internacional do Sapateado) tem Sonia Mota, no Teatro Mars, em São Paulo. A bailarina estreia Divagar, ao lado de outras intérpretes. A montagem questiona a maturidade do corpo refletivo no tempo atual e destaca a atuação de quatro bailarinas, a maioria na casa dos 60 anos, que continuam dançando. Às 21h. O ingresso custa R$ 20 e R$ 10 e teatro fica na rua João Passalaqua, 80.

Na quarta-feira, dia 26, é a vez de Jorge Garcia e Jean Abreu, se encontrarem no palco pela primeira vez. A parceria do brasileiro e do londrinho está marcada para às 21h, na sala Crisantempo (rua Fidalga, 521), na Vila Madalena, em São Paulo. Após a apresentação tem bate-papo com os coreógrafos.

Ainda na quarta, o Divinadança estreia seu "Dans Le Noir", de James Nunes, no Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 100o), em São Paulo. A trupe fica em cartaz até dia 30, domingo e a entrada é gratuita. A direção geral é de Andrea Pivatto.

No dia 27, quinta-feira, às 21h, Luciana Bortoletto se despede do Sesc Pinheiros com seu "Entre Duas Linhas Vive o Branco". O trabalho integra o projeto Solos Urbanos - Fora do Palco. O Sesc Pinheiros fica na rua Paes Leme, 195, em São Paulo. Ingressos: R$ 10 e R$ 5.

Também no dia 27, o Núcleo de Improvisação, dirigido por Zélia Monteiro, encerra a temporada de seus Espetáculos Imprevisíveis, que foram realizados a partir do desenvolvimento do projeto “Sobre o Imprevisível ou De um Estudo para Outro há Sempre uma diferença de Tom. No Teatro de Dança (avenida Ipiranga, 344 | São Paulo), às 21h. Ingressos custam R$ 4 e R$ 2.

Na sexta-feira, dia 28, Zélia Monteiro leva outro espetáculo ao TD. Desta vez, às 21h, "Seis estudos para Flutuar" dá continuidade a mais de vinte anos de pesquisa e atuação artística de Zélia com a improvisação. No sábado, às 20h e domingo, às 18h, o espetáculo será reapresentado.

No sábado, dia 29, corra para Sorocaba. Às 19h, Teatro Municipal Teotônio Vilela (avenida Engenheiro Carlos Reinaldo Mendes s/n Paço Municipal) será realizada a terceira edição do Sorocaba Tap. Organizado e dirigido por Iara Ramos, da Athenas Academia, o festival promete surpresas no sapateado americano e irlandês.

E para fechar a semana (ou começar outra), domingo dia 30, no Sesc Interlagos (aveninda Manuel Alves Soares, 1100), às 16h, a Nau de Ícaros apresenta seu novo processo criativo. Por meio do contato com a obra inacabada, os participantes interferem e auxiliam na criação de novas cenas, que devem constituir o espetáculo completo posteriormente. A obra é inspirada em “Myrna – Não se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo”, de Nelson Rodrigues.

Por esta semana, chega. Se procurar, ainda tem mais.

Tanta coisa... | O Rei e Eu

Cena de "O Rei e Eu" | Foto: Jairo Goldflus


Tanta coisa tem acontecido que eu confesso às vezes me assusto. Estou assustada. Tenho trabalhado muito. Mais do que imaginava, mas muito mais mesmo. E tipo tenho pensado muito no meu trabalho. Às vezes quando vejo, estou pensando nele. Doido.

E saudade do meu trabalho antigo? Eu tenho. Mas tenho saudade das pessoas, do poder fazer sem perguntar, do ter a certeza de que ficava bom e de no dia seguinte começar um novo desafio. Tenho saudade das risadas, da rotina sem rotina, dos textos múltiplos. Tenho saudade da zona de conforto. Da segurança que conquistei. É exatamente isso. Mas se me perguntarem se eu voltaria. Acho que não. Já vivi o que tinha que viver lá e foi lindo.

Estou feliz. O hoje me supre por dentro. Toma conta do meu corpo. Sempre tem algo para aprender. Dá vontade de fazer mais, criar mais, ter mais tempo. O tempo sem tempo. E por falar nele, como passa rápido. Minha nossa.

Esse blog nunca foi em primeira pessoa e agora ganhou novos contornos. Talvez porque eu também esteja diferente. Estranho, mas confortável.

Na semana passada fui assistir "O Rei e Eu", de Rodgers e Hammerstein (os mesmos que assinaram South Pacific, A Noviça Rebelde, Carousel e Oklahoma!), com direção geral de Jorge Takla, que está em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo. A peça foi inspirada no original Anna e o Rei do Sião, de Margareth Landon e ganhou versão brasileira pelas mãos do experiente Claudio Botelho.

O musical teve sua estreia na Broadway em 1951, com Yul Brynner e Gertrude Lawrence, nos papéis principais, que na versão brasileira são vividos por Tuca Andrada (Rei do Sião) e Claudia Netto (Anna Leonowens).

O Rei e Eu conta a história do poderoso e carismático Rei do Sião, atual Tailândia, que tinha dezenas de esposas e mais de setenta filhos, e de Anna, professora inglesa contratada para ensinar inglês e um pouco da cultura ocidental aos príncipes e princesas. Charmosa e voluntariosa, Anna passa por sérias dificuldades com as diferenças entre a cultura inglesa e a oriental, mas mesmo assim impõe suas idéias e suas posições, e aprende a compreender e aceitar as cultura e as tradições siamesas, tornando-se parte desta imensa família real.

O espetáculo é um convite aos olhos. A riqueza dos cenários assinados por Duda Arruk nos faz até parar de prestar atenção na narrativa para descobrir os detalhes. São muitos. Fábio Namatame, como sempre, um espetáculo parte. Seus figurinos impecáveis tornam qualquer espetáculo mais bonito. coreografia original de Jerome Robbins ganhou remontagem de Tania Nardini e a direção musical é do piracicabano Jamil Maluf.

Enfim... o tempo me aperta aqui. Sem mais detalhes, porém, uma dica: vale a pena ver.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

NOVO sentimento de NOVO


Marcela Benvegnu


Me perguntei muito se ia dar certo de novo. Se a emoção seria a mesma. Se os olhares se encontrariam novamente. Se a gente teria força para fazer. Se seria "perfeito" como o da primeira edição. Se as pessoas iam gostar. Se os professores seriam bons. Se teríamos alunos suficientes para pagar as contas. Se aconteceria de novo. Eram muitos "ses"....

Até que em um momento, quando o medo bateu e a Erika me perguntou: "Amiga, você ainda acredita e dança a nossa ideia, não é?", os "ses" se derreteram. A resposta saiu do coração e não poderia ser outra a não ser que eu acreditava e que a gente dançaria essa ideia juntas ainda por muitos e muitos anos, mesmo "se" a gente tivesse que vender o carro. No ano passado Erika me disse: "Se a grana não der eu vendo o carro". Eu acredito no projeto, mas antes acredito na nossa paixão, na nossa seriedade, na nossa forma de acreditar na dança e, sobretudo, no jazz. É por isso que dá certo. Já disse ano passado e digo novamente: O sim de uma é o sim da outra. A gente ja se entende por olhares. Não somos somente sócias. Não somos colegas. Somos amigas. Amigas de verdade. Respiramos o mesmo sonho.

Não foi fácil não. Depois que chegamos de NYC muito aconteceu. É a Suzi Taylor que estava contratada e engravida... a Rose Calheiros que não consegue embarcar. As inscrições que demoraram a decolar.

Mas num outro "e", as coisas foram dando certo, as inscrições se esgotaram e tivemos a lista de espera, a Sheila se revelou uma pessoa adorável e uma grande professora, o Josh mostrou que vai além da beleza física e é um professor que nos faz ter vontade de só olhar a sua dança, respirar o seu movimento, e Sue querida, que aceitou o convite no quinto tempo e embarcou de um dia para o outro com um programa completamente diferente do ano passado. Os brasileiros também mostraram o que fazemos por aqui. E com o tempo, com a respiração de 130 pessoas juntas, fomos sentindo outro tipo de emoção. Dançamos juntos. De novo. Criamos um novo círculo de amor. Que não tem começo, meio ou fim. Uma aliança. Nova, de novo.

Nos questionaram que a emoção era diferente do primeiro ano. Me questionei. Questionei a Erika. E descobri que não deveria e nem seria mesmo igual ao da nossa primeira edição. Isso porque cada vez que nos juntarmos para dançarmos a ideia do Congresso de Jazz Dance outra vibração estará no ar. Não tem como sentir a mesma coisa de novo.

O amor estava lá. O frio na barriga de dar certo. A vontade louca da Erika em ler os relatório de avaliação antes da entrega do certificado (de novo, mas eu já me acostumei). Os olhos brilhando dos alunos ao fim de cada aula. A alegria de acertar um passo difícil. O prazer em superar os seus próprios limites. As lágrimas em ouvir as lindas palavras da Sheila no último dia. O orgulho em dançar para si. O amor em se descobrir como um ser único.

Assim também é o Congresso. Único com suas particularidades, limitações. Único em sua essência de pensar. Não é unipotente. Só é único como todos que viveram aqueles intensos quatro dias com a gente.

Como precisamos das pessoas. Como precisamos de vocês. Como precisamos dos professores. Como preciso da Erika. A gente não dança essa ideia sozinhas. Precisamos sim, sim e sim de todos de novo. De todos que acreditam no nosso sonho, que vem de longe, de perto. Que dormem no alojamento, no hotel, na casa do amigo. Que trazem o dinheiro contado, que compram tudo na lojinha. Que tem experiência, que ainda estão aprendendo. Novos. Novo. Os de novo. Sempre.

O Congresso do Jazz e do amor aconteceu sim, novamente. Aconteceu dentro da gente. E agora, quando olharmos as fotos, quando vestirmos a camiseta vermelha que está guardada dentro do armário, quando começarmos a planejar a terceira edição (já começamos na verdade)... quando olharmos para trás e virmos que a lembrança, virou memória... estaremos contruindo história. História da dança, do jazz, da vida. E você é tão responsável por ela quanto a gente.

Obrigada mais uma "única" vez.

Até 2011, quando vamos dançar essa idéia, com um sentimento NOVO de novo!

Thank you, Dance!

by Judy Smith "