Companhia Urbana de Dança, do Rio de Janeiro, no espetáculo coreografado e dirigido por Sonia Destri / Crédito: Viazeen Xavier
Marcela Benvegnu
O retrato da rua em forma de dança urbana. A fórmula conhecida do hip-hop aliada à sofisticação e pesquisa dos movimentos de dança contemporânea. Uma “Suíte Funk” protagonizada pela Companhia Urbana de Dança, do Rio de Janeiro, que retrata, em diversos ritmos de rua, a rotina das vidas de seus integrantes que vivem nas favelas e subúrbios da cidade. Apresentado na 25ª Bienal de Dança de Lyon em 2008, o trabalho chega aos palcos piracicabanos amanhã e domingo, às 20h, no Sesi Piracicaba. “Suíte Funk” é um dos 13 espetáculos selecionados para integrar o circuito Viagem Teatral 2009 do Sesi São Paulo, promovido pela entidade em todo o Estado. A entrada é gratuita.
Coreografado e dirigido Sonia Destri, a montagem mistura passos de hip hop, funk, capoeira e samba, sem abandonar a contemporaneidade. Para ela, o objetivo da apresentação é mostrar o Rio de Janeiro de um ponto de vista múltiplo, de quem vive nos subúrbios, nas favelas, na linha de risco. “Suíte Funk é uma construção fragmentada, um olhar dos integrantes da companhia sobre a cidade em que cresceram, ao som dos ritmos da rua”.
O trabalho nasceu por conta de algumas pesquisas de investigação do corpo da coreógrafa. “Quando nos apresentamos em Lyon em 2006, recebemos o convite para 2008. Assim eu deveria montar um novo trabalho. Em 2007 recebi um prêmio de residência coreográfica do Sesc, e ainda estava em busca de uma idéia. Foi quando eu coreografei um baile funk para o filme ‘Maré Nas Histórias de Amor’. Achei que a idéia poderia vir do funk, que é uma coisa clássica e ao mesmo tempo violenta do Rio de Janeiro. Achei que era um retrato interessante”, aponta a coreógrafa.
Porém, com o passar do tempo ela encontrou dificuldade. “Eu queria falar do universo de uma manifestação cultural e, sobretudo, carioca, mas achei que tinha que trazer um pouco do universo da dança contemporânea para eles. Assim o trabalho virou uma suíte. E enquanto eu não tiver patrocínio para criar outras coisas, continuarei falando do Rio de Janeiro. Não é algo bairrista, mas é onde lido com um universo íntimo e isso facilita a minha vida. É uma zona de conforto grande para a minha dança”, fala Sonia.
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FORMAS DE OLHAR
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A Companhia Urbana de Dança é formada por um grupo de jovens moradores de áreas populares na capital fluminense. Na companhia, os integrantes têm contato com um espaço de expressão artística, socialização e formação, no qual suas experiências e idéias são incorporadas como material de criação. O currículo do grupo acumula diversas participações especiais em filmes, programas de TV, campanhas publicitárias e desfiles como Fashion Rio e Fashion Recife.
“A minha relação com a companhia, que já tem cinco anos, surgiu de forma natural. Ela foi estabelecida com negros da favela, que ensaiavam comigo depois das 23h, quando tínhamos uma sala livre para ensaios. No começo eu não sabia o que ia acontecer, mas depois que eu vi o resultado não pensei duas vezes em continuar. Não abro mão deles. As pessoas são preconceituosas e eu quero provar para essa rapaziada que eles fizeram uma escolha bacana. Que a dança pode mesmo transformar a vida deles e que eles têm que ser grandes protagonistas da história e não somente dos textos bonitos, que falam de uma relação de pertencimento que eles declamam em ‘Suíte Funk’”, revela a coreógrafa.
Sonia vem de uma escola de dança eclética. Fã da coreógrafa alemã Pina Bausch e do coreógrafo francês Maurice Béjart (1927-2007), com experiências em teatro e TV — ela foi diretora do núcleo de dança da TV Manchete — Sônia descobriu essa dança urbana na Europa. “Eu dava aulas de dança contemporânea na Alemanha e conheci um americano que me mostrou uma movimentação desconhecida do movimento hip-hop de periferia. Era algo mais urbano. E eu brinquei com isso por um tempo, acabou que entrou no meu corpo. A dança urbana me deu leveza, felicidade e a contemporânea o amor”, revela.
A coreógrafa conta que os jovens da companhia — André Feijão, Clayton Hilário, Cleber Hilário, José Amilton Junior, Junior, Miguel Fernandes, Raphael Russier Felipe, Ruy Chagas Junior e Tiago Souza — sempre estiveram abertos aos movimentos propostos por ela. “Quando eles vêem a palavra entrar no corpo, muda tudo. Quero que eles saiam da favela, que tenham outros olhares. Para mim todos são indivíduos da sociedade, com nome e sobrenome”, finaliza.
Além de Lyon, a companhia já se apresentou no Museu Quai Branly, na França; Recontres Choréographique de Carthage, no Festival Internacional de Biarritz, e na Semana do Brasil no Teatro de Chelles, em Paris.
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SERVIÇO — Viagem Teatral 2009 apresenta “Suíte Funk”. Amanhã e domingo, às 20h, no Sesi Piracicaba (avenida Luiz Ralph Benatti, 600), na Vila Industrial. A entrada é gratuita e os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência. A classificação é livre e a montagem tem duração de 50 minutos. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações: (19) 3421-2884.