Marcela Benvegnu
O papel do erotismo nas relações humanas, suas implicações e a complexidade que este assunto revela são algumas das temáticas de “Corpo Erótico”, de Carmem Gomide — contemplado com o 3º edital de fomento à dança para o Município de São Paulo — atração do Teatro João Caetano neste final de semana. O trabalho será apresentado hoje e amanhã, às 21h, e no domingo, às 19h, e foi inspirado nas obras do artista plástico britânico Lucian Freud. A entrada é gratuita.
Considerado o grande retratista pós-moderno, herdeiro da tradição iconoclasta do Renascimento, Freud tem um modo de olhar particular. Sua pintura reflete a figura humana e sua essência: o corpo nu, despojado, solitário, do nascimento à morte. Seu extremo realismo agrada e repele, intriga e incomoda no corpo de Carmen. A ele se somaram as reflexões do escritor e filósofo francês Georges Bataille, no qual a pesquisa encontrou a conexão entre tempo e erotismo.
Na ótica de Bataille, a Revolução Industrial obrigou o ser humano a imprimir a si um ritmo semelhante ao de uma máquina, abdicando do tempo para celebrar a vida. Segundo ele, o tempo erótico não tem pressa, precisa de um espaço dilatado, situado em outra dimensão. Para Carmen, no mundo moderno, parece não haver mais espaço para o erotismo, que aparenta pertencer a um outro estado de tempo. O erotismo foi substituído por uma pornografia que lida com imagens explícitas e que imprime rapidez na sexualidade e nos relacionamentos entre as pessoas.
O tempo erótico, ao contrário, não tem pressa, está entregue a uma busca que é da celebração do prazer puro e simples. Com direção de Mariana Muniz, “Corpo Erótico” tem música original composta por Lívio Tratenberg. As intervenções em vídeo são assinadas por Willand Pinsdorf e após o espetáculo de domingo haverá um bate-papo com Eliane Robert Moraes, pesquisadora das relações entre literatura e erotismo e professora de estética e literatura na Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo.
INTÉRPRETE — Bailarina, coreógrafa e pesquisadora em dança contemporânea, Carmem atuou profissionalmente como bailarina no Balé da Cidade de São Paulo de 1988 a 1990, e no Balé Opera Paulista de 1991 a 1993. Trabalha como produtora, coreógrafa e pesquisadora desde 1992, sendo autora das obras: “Terra Estranha”, “La Danaide”, “Corpo Jubiloso: Carne Selvagem”, “Adiamento”, e outras. Em 2006, fundou a Cooperativa Paulista de Dança (http://www.coopdanca.com.br/), juntamente com 20 profissionais da área.
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