sexta-feira, 18 de junho de 2010

Festidança | Crítica 1 | Nem cá(lá), nem (cá)lá


Marcela Benvegnu

A primeira noite competitiva do 21º Festidança, que reuniu trabalhos de balé clássico de repertório (variação feminina sênior, pas de deux júnior, sênior e avançado) e sapateado conjunto (sênior e junior) trouxe à cena importantes questionamentos, como por exemplo: como andar nas pontas dos pés?
"Paquita", da Especial: qualidadeA pergunta é das mais simples e óbvias, porém, a resposta, não é. Andar nas pontas é um grande desafio para a bailarina. Não é simplesmente caminhar, vai (muito) além disso. E se andar nas pontas requer atenção, escolher a sapatilha certa (para o pé certo) talvez tenha sido o grande desafio desta noite. Duelo difícil entre pés e coreografias.
Histórias de pontas e pés à parte, a bateria de balé de repertório apresentou um tema recorrente quando se trata de remontagens: o quanto de fidelidade com a montagem original tem cada obra apresentada? Existem muitas versões, mas no mínimo elas têm certa conexão e dialogam entre si. Complicado é ver montagens “novas” naquilo que repercute ao longo dos séculos (caso contrário, não se chamaria repertório).  Adaptar não é modificar o trabalho, e sim colocá-lo de forma correta e adequada no corpo dos intérpretes.
Primeiro lugar no ano passado, Fernanda Lopes, do Ballet Jovem de São Vicente | São Vicente, que concorria na categoria sênior com a variação de “Dom Quixote”*, de Marius Petipa* (1818-1910) mostrou evolução técnica e expressão para segurar uma interpretação deste nível. Não basta executar, é preciso dançar.  E quando Paula Alves e Welber Pacheco (Especial Academia de Ballet | São Paulo- foto) entraram em cena para apresentar o pas de deux de “Paquita”*, de Petipa, que a noite fria começou a esquentar. Ele dança para ela. Ela para ele. Um confia no outro. A execução de cada passo tem um porque revelado no corpo, na expressão, no modo de dançar. A qualidade aparece. Os olhos agradecem. O corpo do espectador sente algo diferente. É dança. 
Ainda no clássico é preciso cuidar das gravações das músicas. Algumas coreografias foram comprometidas por chiados e cortes mal feitos. É preciso lembrar que a obra é o todo e não somente uma parte dela.
PLACAS NO PÉ – Sempre esperado no Festidança, o sapateado não empolgou tanto quanto nos outros anos. Tudo esteve mais “morno”, inclusive os desenhos coreográficos. As coreografias apresentavam uma frontalidade excessiva e o “centro”, usado antigamente como o espaço mais importante do palco, volta à contemporaneidade com o mesmo sentido. Por que ter como referência o centro do palco? Sem medo de ousar já é hora de explorar laterais, fundo, frente. É preciso surpreender, fazer com que o corpo da plateia fique suspenso. Claro, isso tudo sem sair da música. Porque sapateado é música.
Apesar de o linóleo abafar a sonoridade das placas de metal, a noite foi de Bruna Miragaia, com seu “Baianá”, pelo Monique Paes Studio de Dança | Jacareí. A música que dá nome à obra (por que a coreografia tem que ter o nome da música?) sai da percussão habitual do grupo e encontra a brasilidade. A luz dialoga com a cena, cria um ambiente para que a dança se revele. A coreografia sai do convencional e usa todo o espaço do palco fazendo com que os interpretes cresçam. A concepção dos movimentos é rica e a sonoridade inteligente. Um excelente trabalho de pesquisa revelado em forma de coreografia.
Que venham os trabalhos avançados e com eles a força de um sapateado que é referência no Brasil. É preciso aquecer o corpo (ainda) frio, bem frio.

MAIS:

Dom Quixote – É um dos mais famosos balés de Marius Petipa, com música de Leon Minkus, que estreou em Moscou em 1869. Conta a história de amor entre Kitri e Basílio. É dividido em três atos e baseado na obra homônima de Miguel de Cervantes. A estreia do trabalho marca a ascensão da Rússia como o centro da dança na Europa.

Paquita – Com música de Edouard Delvedez e coreografia de Mazilier e Petipa, Paquita estreou em Paris em abril de 1846. A montagem dividida em dois atos e três cenas tem como protagonista Paquita, uma cigana que luta para ficar ao lado de seu grande amor, Lucien.

Marius Petipa (1818-1910) –
Nome conhecido no cenário da dança Petipa foi um dos mais influentes coreógrafos de todos os tempos. Entre os seus trabalhos virtuosos ainda destacam-se “A Bela Adormecida”, “Raymonda”, “La Bayadére” e “O Lago dos Cisnes”.

Crítica? – Crítica vem do grego “krinen”, que significa quebrar, partir. Criticar é colocar uma obra em crise, evidenciar e potencializar suas partes. Colocar em crise a ideia que se tem do objeto.  Nada tem a ver com gosto. 

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Thank you, Dance!

by Judy Smith "