Em cena, os grupos da cidade mostraram sua força e comprovaram a tese de que aqui, na terra da tecnologia, o sapateado é soberano. O Grupo Corpus (São José dos Campos), de Patrícia Stellet trouxe a cena um “Magnetismo” musical inteligente. Já “Ocre”, da Cia Feeling de Dança (também de SJC), de Charles Renato, mostrou o bom uso do elemento cênico (blocos de madeira), de como ele pode virar dança e ser uma extensão do corpo. E o Ballet Ana Araújo (SJC), com Ritmia, de Ana Paula Veneziani trouxe aos “ouvidos” a sonoridade de pés soltos e de um som limpo.
Para não ser repetitiva (já sendo), o Monique Paes Studio de Dança (Jacareí) inovou novamente com Bruna Miragaia a frente de “Auroras” (foto). O trabalho provoca e é aí e por isso que se torna tão bom. A música é uma espécie de oração, o figurino mistura o brilho escondido (e revelado) da vida (detalhe para o capuz que não cai da cabeça dos intérpretes) e a coreografia emudece. Emudece no sentido de que é inteligentemente planejada, desde a configuração dos passos para não brigar com a música, mas ser um complemento dela, à disposição dos intérpretes, a simbologia do texto, a plasticidade. A música construída com os pés suspende o corpo do espectador, o espírito. Detalhe importante: Onde estava a coreógrafa durante a apresentação? Em cena. Ela estava no mesmo patamar dos alunos. O grupo era um só. Um único e importante corpo de “anjos de luz”.
BALÉ CLÁSSICO – Clássico de repertório é mesmo um desafio. Um desafio para o intérprete, um desafio para quem está à frente da adaptação. Na noite de ontem tivemos bons trabalhos, como a variação de La Fille Mal Gardée, com Fernanda Soares, do Ballet Elisa (São Bernardo do Campo); O Quebra-Nozes, de Marius Petipa (1818-1910), com Stefanina Petry, para o Ballet Adriana Assaf (São Paulo) e também o conjunto da Escola de Dança Alice Arja, do Rio de Janeiro, com séquito das Fadas da Bela Adormecida, também de Petipa. Trabalhos bem colocados, intérpretes seguras, bem ensaiadas e, sobretudo, com a carga emocional certa para o personagem.
Mas além da preocupação com a veracidade do balé original, com as cores dos figurinos, com o tamanho das coroas (podemos economizar porque a cada espetáculo temos coroas maiores), e claro, com o uso da técnica, um “incomodo” se instaura: (novamente) a qualidade da trilha sonora. Os diretores devem se preocupar com essa limpeza técnica urgentemente. Isso afeta a qualidade da obra, inclusive o modo de se olhar para ela.
Enfim, uma boa noite de sexta-feira. Que venham melhores.
MAIS:
Dia 25 de maio – Dia Internacional do Sapateado. É comemorado por conta do nascimento de Bill “Bojangles” Robinson (1878-1949).
Bojangles - Foi ele o responsável por trazer o sapateado para a meia-ponta. Conquistou Hollywood (em 1932), quando entra para história do cinema americano contracenando com Shirley Temple. Uma de suas mais famosas coreografias é “Backbird”, que dançava em cima de uma escada.
Datas (!!!!-!!!!) – As datas de nascimento e morte são importantes nos textos porque contextualizam um período na história da dança mundial já que não temos nenhum dicionário de dança no país. As publicações internacionais são valiosas, porém, não contemplam personalidades da dança brasileira.
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