sexta-feira, 18 de junho de 2010

Festidança | Crítica 5 | Dez pequenas reflexões sobre uma noite de dança



Marcela Benvegnu

1 | A quinta noite competitiva do 21º Festidança reuniu somente onze trabalhos. As categorias foram estilo livre conjunto, danças folclóricas e étnicas conjunto avançado e jazz conjunto júnior. Noite pequena. Letra pequena. Texto grande.
2 | No estilo livre quem levantou a platéia (que estava novamente motivada e o artista depende da platéia) foi o Studio D, de Avaré, São Paulo, com a coreografia “Alegria Nordestina”, de Mariana Camargo. O trabalho condiz com a proposta do estilo livre e apresenta uma concepção adequada à idade das intérpretes. O cuidado com o figurino e com as cores das sapatilhas foram evidentes. A narrativa proposta (que dialoga com o release) cumpre seu papel fundamental: ser dança. Ótimo trabalho.

3 | Em danças folclóricas e étnicas a Escola Livre de Dança, - Secult, de Santos, apresentou “Carteado”, de Melissa Ricci. Um bom trabalho de Irish (sapateado irlandês).  Sejam nos digs ou nos clics todas as intérpretes formaram um único corpo em cena. A coreógrafa pensou desde a concepção no uso do espaço e do figurino, pois as cores se misturavam de forma homogênea.


4 | Nas danças folclóricas o trabalho do Grupo de Dança Terracota, de Uberlândia, “De Angola ao Gueto”, assinado por Dickson Du-Arte, mostrou toda a força da ancestralidade africana. Cinco intérpretes usaram o palco de forma inteligente e abordaram os elementos das danças africanas e brasileiras com um toque de contemporaneidade. Um merecido e bom trabalho para trazer à tona a força da cultura negra.

5 | A bateria de jazz conjunto júnior requer aqui uma pausa maior. Antes de qualquer reflexão. O que é jazz dance? Tanto a música quando a dança conhecida com o nome de jazz é resultado de uma fusão de influências e relações que prosperaram nos territórios americanos a partir do século 18. Suas raízes estão diretamente ligadas ao coração da África onde a manifestação não era apenas um espetáculo, mas sim uma forma de diversão.

6 | Considerada uma manifestação unicamente própria de escravos negros das grandes plantações de algodão e tabaco, a cultura do jazz reflete influências de diversas índoles. Por uma parte se apreciam ritmos e bailes africanos que duraram muito na consciência coletiva dos negros, por outro lado estavam às manifestações de origem religiosa onde ritmos e etnias diferentes tinham em comum o mesmo ritual: dançar para a chuva, para pedir fecundidade, para celebrar nascimentos. Suas influências estão obviamente na cultura negra e suas características mais marcantes e visíveis inspiradas nas danças africanas.

7 | Uma outra grande influência nas manifestações de origem negra veio direto da música e da dança branca, mais propriamente da música popular de raiz européia. Assim, pelo que parece claro a influência se deu por via de imitação, as polcas, quadrilhas, marchas, danças irlandesas, bailes ingleses como o clog, começaram a se misturar com danças autônomas para dar lugar ao que conhecemos como jazz. Se bem que foram os negros que entretiam seus amos que elevaram as mudanças da dança africana transformando-a em jazz, mas foram os brancos que começaram a dançá-la primeiro em lugares abertos.

8 | Desde o começo do século 19, quando alguns grupos de bailarinos irlandeses começaram a atuar no país, as danças dos negros eram interpretadas por brancos, que por muitas vezes pintavam suas faces de negro para parodiar, cantar e dançar como tais. Este cenário mudou completamente com a emancipação dos escravos, acordo firmado por Abraham Lincoln no dia primeiro de janeiro de 1863: a dança e o canto dos bailes dos escravos negros agora poderiam sair de lugares restritos e irem para os públicos. Logo, essa dança que começou a tomar conta dos palcos era de negros e brancos e esse momento teve uma influência decisiva na Comédia Musical, que nada mais era do que os primeiros passos do que hoje conhecemos como jazz.

9 |  O  jazz dance é híbrido, nascido de uma multiplicidade de formas de espetáculos anteriores, é caracterizado pelo swing, por movimentos sincopados e pela polirritmia, que é a combinação dos movimentos do corpo em vários ritmos ao mesmo tempo. Existem algumas variações de gênero, como tradicional, lyrical, modern e musical.

10 | Agora sim talvez possamos olhar para a noite de ontem. Eram mesmo trabalhos de jazzdance? Outro detalhe importante: se pegamos a música de um balé de repertório como “Giselle”, colocarmos o nome da coreografia de “Giselle”, o que temos que fazer em cena? “Giselle”! Com o musical é a mesma coisa. Musical também é repertório. Tem que ser fiel. Caso contrário, numa releitura, que pode sim ser feita, não podemos chamar de “Giselle”, porque em cena o repertório se transforma em outra coisa. Dica dada.

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Thank you, Dance!

by Judy Smith "