quinta-feira, 27 de dezembro de 2007
Dance na www
Tom da (e na) dança
segunda-feira, 17 de dezembro de 2007
Todos os olhares sobre o corpo
Desde segunda-feira, Uberlândia respira e reflete dança — ou melhor, corpo — em um dos mais importantes eventos do Estado de Minas Gerais, denominado Olhares Sobre o Corpo. Organizado pelo Uai Q Dança, — leia-se Fernanda Bevilaqua — a atividade que vai até domingo em diferentes locais e horários, tem como objetivo criar um espaço de trocas sobre corpo, lugar e modos de produção.
O evento conta com exibição de vídeos, palestras, espetáculos, workshops e debates.O espetáculo de abertura foi “Sem” — abreviação de Sempre Em Movimento — de Fernanda, para o Uai Q Dança, que foi concebido a partir de um interesse comum sobre as implicações da saudade e da ausência de algo, alguém ou lugar no corpo. Uma lista de saudades pessoais e cartas escritas à mão e enviadas por correio pelas intérpretes é o que aciona os impulsos corporais e a dramaturgia da cena. O elenco é formado por Clara Couto, Iara Schmidt, Luciane Segatto, Patricia Arantes e Patrícia Borges.
Na terça-feira, depois do espaço de trocas — no qual acontecem as palestras e bate-papos — foi a vez de “Um Diálogo entre o All Star e a Sapatilha”, de Aline Schwartz; na quarta, Juliana Penna apresentou “Fome Nto Me”, seguido de “Por Mim”, de Luciana Branco.
Ontem, os espetáculos tiveram sequência com “300 dpis”, de Aninha Reis, criada e produzida pelo projeto proposto por Wagner Schwartz, Transobjeto Coletivo em 2006. A performance teve como foco as possibilidades de inter-relação do corpo com objetos cotidianos e as mídias digitais.
Hoje, às 20h30, acontece o lançamento da Cartografia Rumos Itaú Cultural 2006/2007, com a participação de Sônia Sobral. A Cartografia inclui um livro com 20 textos separados em três partes — obras coreográficas, videodança e contextos — além de dois ensaios fotográficos. O material também acompanha uma série de DVDs com os registros das 25 pesquisas coreográficas contempladas na última edição do Rumos Dança, os cinco videodanças e um DVD com uma série de 27 entrevistas com os artistas.
Esse repertório de informação dá parâmetros para a leitura e compreensão de parte das questões que moviam artistas de dança contemporânea em 2006. A coleção é distribuída gratuitamente a instituições culturais, educacionais e de preservação da memória artística. Hoje serão exibidos os cinco videodanças, “Sensações Contrárias”, de Amadeu Alban; “FF”, de Karenina de Los Santos, Letícia Nabuco, Marcello Stroppa e Tatiana Gentile; “Jornada ao Umbigo do Mundo”,
Mais informações: http://olhares.arteblog.com.br/.
terça-feira, 11 de dezembro de 2007
Bolshoi em cena
Depois de oito anos de trabalho intenso — muita falação e até especulação da imprensa brasileira — a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (ETBB) forma sua primeira turma de dança clássica com 20 alunos. O feito também engloba os alunos de dança contemporânea — 23 bailarinos — que tiveram aulas por quatro anos. Ontem, nas dependências da escola em Joinville aconteceu a formalidade da colação para familiares dos formandos e hoje, às 20h, no Centreventos Cau Hansen o espetáculo será aberto ao público.
Dividido em dois atos, o primeiro com coreografias contemporâneas de Amarildo Cassiano e Clébio Oliveira e no segundo, a suíte do balé de repertório “Dom Quixote”, remontada especialmente para os formandos de dança clássica pelo russo Vladimir Vasiliev, o espetáculo de formatura — que tem o patrocínio da Vonpar e da Vivo — reúne 107 alunos.O coreógrafo Clébio Oliveira parece concordar com a tese do filósofo francês Voltaire (1694-1778) que afirma: “O segredo de aborrecer é dizer tudo.” Num mundo de super exposição na mídia — de Orkut, blogs e big brothers — dançar e remeter ao mistério da vida é tarefa das mais delicadas. Sua coreografia “E Se Eu te Contasse o Meu Segredo?” defende a liberdade de ser e pensar diferente — caráter próprio da dança contemporânea — e, afinal, de todo homem.
“Lugar de Alguém”, de Amarildo Cassiano, professor da ETBB, transforma música em movimento. A coreografia não tem a preocupação de mostrar uma história, tema ou personagem. É o resultado de uma pesquisa sobre a relação entre a música e a dança, o som e o movimento, suas possibilidades e multiplicidades. Essa relação pode ser feita pelo tipo de impulso que a música provoca ou pela busca de uma nova leitura corporal que preze o repensar do corpo em seu grande potencial de comunicação.
A suíte do balé “Dom Quixote”, de Marius Petipa, será apresentada na segunda parte do espetáculo. Vasiliev ensinou aos estudantes não apenas os detalhes técnicos dessa ou aquela cena do balé como também deu a cada um, papel de ator, explicando as personagens que deveriam representar ali. O cenário, assim como no caso da suíte do balé “O Quebra-Nozes”, foi desenhado pelo próprio coreógrafo. Hoje em dia há uma tendência de coreógrafos desenhar cenários para suas próprias produções, pois isto ajuda a criar uma tela unificada, indivisível de coreografia e cenário no palco.
Crédito: Nilson Bastian
Dançar o Natal
quinta-feira, 22 de novembro de 2007
Béjart para sempre
Marcela Benvegnu
Os olhos azuis de Maurice Béjart, 80, um dos maiores coreógrafos do mundo se fecharam para sempre ontem em Lausanne, na Suíça, onde o francês morava e dirigia o Béjart Ballet Lausanne desde 1987. O artista, que tinha problemas de saúde há anos e foi hospitalizado na semana passada para ser submetido a um tratamento cardíaco e renal estrito que deveria durar várias semanas, não resistiu.
Acostumado a dizer que não temia a morte porque ela era uma certeza, o coreógrafo de “Bolero” — uma de suas mais famosas coreografias — , de Maurice Ravel (1960) declarou uma vez à agência de notícias suíça que o ser humano morre sempre a tempo e que o tempo é contado de maneira diferente para cada um. Segundo a assessora de imprensa de Béjart, Roxane Aybek, em entrevista ao
“Estamos muito tristes em anunciar a morte de Béjart. Perdemos um coreógrafo que revolucionou a dança no século 20 e que era o diretor de uma das mais importantes companhias de dança do mundo”, disse Roxane. “Ele dirigiu a mesma companhia por mais de 50 anos sem interrupções sob diferentes nomes. Muitos bailarinos estão perdendo um pai, um mentor, um inspirador. E nós, estamos perdendo um amigo, um criador, visionário e humanista”, disse Peter Berger, presidente da Fundação Béjart Ballet Lausanne, em e-mail enviado ao
A morte do coreógrafo não irá interromper as turnês e a programação de sua companhia de dança. O grupo prepara a estréia de “A Volta ao Mundo em 80 Minutos” (“Tour du Monde en 80 Minutes”), para o dia 20 de dezembro em Lausanne. Depois seguen em turnê mundial. As apresentações serão em homenagem a memória do ícone que dizia que a dança era a combinação de tempo com espaço e a música era o tempo e o movimento que ocupam este espaço. A continuação da companhia está garantida por contrato pelos próximos três anos.
Béjart criou aproximadamente 250 balés e mostrou um novo modo de se fazer dança com “Symphonie Pour Un Homme Seul” sobre a música de vanguarda de Pierre Henry e Pierre Schaeffer.
Os 20 anos da Quasar
quarta-feira, 21 de novembro de 2007
Que venha a Bienal!
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Tão perto de si
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Crítica / Quixotes da dança
Marcela Benvegnu
Quixotes do Amanhã”, coreografia de Fernando Machado para a Cia. de Dança de Diadema, que foi apresentada no Sesi Piracicaba no domingo, 28, começa antes mesmo de a cortina se abrir. O bailarino Ton Carbones está colocado no canto da platéia. Ele é uma espécie de menino de rua, que vê no dia seguinte a esperança de um mundo melhor. Cidadão do tempo. Quixote do amanhã. No proscênio, copos de plástico amassados chamam a atenção. É o lixo. Proposta de concepção da companhia para esta montagem que por sinal é bem trabalhada e sai da reciclagem convencional da dança contemporânea.
Quando a cortina se abre, a dança se revela. É possível assistir a uma fluida movimentação que se abdica da junção de passos para dar ênfase a uma forma de linguagem que mistura a dança contemporânea ao teatro coreográfico. O palco aberto — sem o uso das coxias — serve de cenário para uma cidade onde o homem é tratado como bicho, que caça para sobreviver. Na sutil poesia de Quixote está o subtexto de que é preciso respirar ar puro, quem sabe ar que dança, e que consegue dançar em meio ao lixo que ocupa todo o espaço.
Os bailarinos são bem preparados. Mostram sincronicidade e força na execução. Porém, é Fernanda Bueno quem chama atenção. Não é pelo nu, que executa em um momento do espetáculo — por sinal um nu de costas muito bem colocado —, mas sim pela força e vigor físico com que interpreta a coreografia musicada ao vivo por Loop B, com iluminação do talentoso Ari Buccione.
Com direção de Ana Botosso, o trabalho provoca uma reflexão que vai além do mau direcionamento do lixo provocado pela inconsequência do homem. Estaríamos nós todos no lixo? Qual o lugar da dança na contemporaneidade? Não basta acreditar, talvez seja preciso dançar.
Foto: Arnaldo Torres
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Do ritmo ao caos
Marcela Benvegnu
A palavra caos é formada a partir de um termo grego que significa abismo e precipício, mas que também carrega a idéia de vazio, ausência e falta de organização. É esse caos — que revela corpos caóticos e estranhos, e ao mesmo tempo, não existe para o um mundo de ritmos — que norteia o novo espetáculo da MN Cia. de Dança, de Belo Horizonte, “Do Ritmo ao Caos”.
O trabalho de pesquisa de movimento (de dança contemporânea) da coreografia foi feita pelos próprios intérpretes — Cristiano Bacelar, Joana Wanner, Joelma Barros, Júnio Nery, Nicole Blach, Rosa Antuña e Vanilton Lakka — com orientação e direção do coreógrafo Mário Nascimento e música — especialmente composta para a peça — de Fábio Cardia. As premissas da apresentação partem para a busca de respostas de paradoxos.
Com o corpo, a companhia tenta responder questões do tipo: como achar segurança na instabilidade; como encontrar beleza no equilíbrio; como ter identidade no heterogêneo, no diferente, e como encontrar certeza no indeterminado. “A principal idéia do espetáculo é mostrar que existe organização na desordem”, fala Nascimento.
A questão da violência também está na cena. “Na montagem vivemos um fato real, um dos bailarinos foi assaltado e levou um tiro, e usei isso na coreografia. “Como estar seguro e ao mesmo tempo exposto?”, questiona Nascimento. A parceria de mais de 10 anos de Nascimento e Cardia vem dando certo. “Ele compõe para a gente há mais muito tempo. Acho que esta peça foi uma das mais lindas que ele assinou até hoje. Na verdade, a idéia inicial do trabalho foi dele”, completa Nascimento.
MN —
Blefe na dança
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Estímulo reconhecível
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
“Carmen” de Antonio Gades
Marcela Benvegnu
Meses antes de falecer, visando proteger seu legado, o bailarino flamenco Antonio Gades (1936-2004) criou uma fundação. Uma instituição encarregada de zelar pelo seu patrimônio artístico, e que ajudasse a difundir a sua obra, fomentando, a partir dela, um maior conhecimento da dança espanhola em todo o mundo. O maior projeto da empreitada foi a criação da Companhia que leva seu nome e que chega ao Theatro Municipal de São Paulo, no próximo dia 30, quando a trupe apresenta “Carmen”. No dia 31, eles voltam ao palco com “Bodas de Sangre” e “Suíte Flamenca”.
A montagem de “Carmen” é o resultado de colaboração de Gades no filme “Bodas de Sangue”. A história de Carmen é a de uma obsessão. Como diz Emilio Sanz Soto, “Carmen e Don José se devoram pelo prazer de devorar-se. Não é a tragédia grega que buscava uma salvação ou uma condenação. Aqui só a morte nos pode libertar do desejo. A impossibilidade de desviar o destino”.
É curioso que esta personagem tão representativa da Espanha, a “espanhola” por antonomásia, tão definida por seu físico, por sua estampa; seja uma invenção francesa. Porque é da França, pelas mãos de Prosper Merimée e de Georges Bizet, que calaram tão fundo em nossos costumes, que nos chega Carmen. A versão da companhia para a montagem é totalmente dançada. No palco a dança é protagonista absoluta, e é sinônimo de ritmo, música, movimento.
ÍCONE — Antonio Gades, o grande nome do flamenco mundial nasceu em Elda, Alicante e em pouco tempo conquistou a Espanha e o mundo, com suas coreografias altamente criativas e carregadas de força e sensualidade. A participação de sua trupe nos filmes de Carlos Saura, especialmente “Bodas de Sangre”, “Carmen” e “Amor Brujo”, ampliou ainda mais o público do grande bailarino e coreógrafo. Foi a partir de sua experiência cinematográfica que Gades transpôs para o palco a obra de Merimée celebrizada pela música de Bizet. “Carmen” transformou-se em um sucesso absoluto da companhia e ninguém até hoje conseguiu como Gades extrair a carga de sensualidade que funciona como fio condutor da tragédia da cigana e de Don José.
PARA VER — Compañía Antonio Gades. Dia 30, “Carmen” e dia 31, “Bodas de Sangre” e “Suíte Flamenca”. Às 21h, no Theatro Municipal de São Paulo. O valor dos ingressos ainda não foi divulgado. Mais informações (11) 6163-5087.
Mera ilusão
Marcela Benvegnu
Com cenas que remetem às fotonovelas e ao cinema mudo, a peça coreográfica “As Formas Eram Já Mera Ilusão da Vista”, do Avoa Núcleo Artístico, de São Paulo, é a atração de amanhã, às 17h e 20h, do projeto Sesi Dança 2007, no Teatro Popular do Sesi Piracicaba. A montagem, que sugere situações que transitam entre o romântico, o irônico e o cômico, utilizam artifícios como projeções de imagens e recortes de luz. A entrada é gratuita mediante retirada de ingresso antecipada uma hora antes do início da apresentação na bilheteria do teatro.
Com concepção, direção e interpretação de Gil Grossi e Luciana Bortoletto, “As Formas Eram Já Mera Ilusão da Vista” — que tem 40 minutos de duração — foi inspirada em fotos clássicas de casais, na sensação de expectativa vividas pelas pessoas instantes antes de serem fotografadas e também em fotonovelas. O trabalho do grupo, existente desde 2000, iniciou cerceado por uma técnica denominada fotodança que soma o estudo da dança contemporânea, relação cênica, clown e improvisação, com elementos da fotografia.
“O Gil (Grossi) é fotógrafo e eu apesar de ser bailarina também atuo na área. Assim, desenvolvemos uma pesquisa de linguagem pautada pelo corpo que é um híbrido e pela forte questão da imagem”, fala Luciana. “Unimos a dança e a fotografia para desenvolver as cenas do trabalho. O enquadramento, o foco, os planos de imagem estão equilibrados dentro da composição cênica”.
A pesquisa nasceu em 2004 com uma performance chamada “Pontos de Vista”. “Depois de um tempo que ela virou espetáculo”, conta a bailarina. “Hoje, ‘As Formas Eram Já Mera Ilusão da Vista’ tem um formato bem intimista que é para ser visto de perto mesmo. É um trabalho que evoca emoção e memória. “São emoções provocadas por meio das imagens e como associamos isso às fotonovelas e até as novelas mexicanas também demos voz aos dramas dos casais”.
Em cena, Luciana e Grossi estabelecem uma relação simbiótica. “Como somos muito diferentes procuramos que o contraste físico de idade e biotipo vire mote para à concepção”, fala Luciana, que juntamente com Grossi trabalham em um projeto paralelo denominado dança haicai, oriunda da necessidade investigar a transformação da imagem contemplada em movimento dançado. Entre os principais trabalhos da companhia destacam-se, “O Que Passa”, “Toca” e “A Hora do Espelho
Crítica / Qualidade em foco
Marcela Benvegnu
A primeira grande diferença entre os musicais “My Fair Lady” e “Os Produtores”, que estão em cartaz em São Paulo, está logo de cara do espaço. “My Fair Lady” está sendo apresentado do Teatro Alfa, e que o diga Jorge Takla, — o produtor da montagem — um teatro acostumado a receber grandes espetáculos, principalmente do gênero dos musicais, enquanto “Os Produtores”, acaba de estrear no Tom Brasil, uma casa de shows, na qual você é obrigado a assistir ao espetáculo torto em uma cadeira, sendo que a visão é totalmente comprometida pelo andar dos garçons — estes que na hora de pagar a conta, não trazem o seu troco.
Mas isso são meros detalhes — que fazem uma grande diferença — quando a grande reflexão sobre o nicho dos musicais paulistas está mesmo na qualidade, dos cenários, figurinos, iluminação, cantores, atores, e, sobretudo, bailarinos. Apesar de “My Fair Lady” não ser um musical com muitos números coreográficos eles apresentam uma certa sintonia com o espaço e estão bem ensaiados, poderiam ser mais vibrantes, mas... Em “Os Produtores”, apesar de os currículos dos bailarinos serem recheados de outros musicais, cursos e até apresentações internacionais, quando o assunto é sapatear, a coisa se complica.
Não adianta somente o pé da bailarina da frente estar igual à de trás, se o som que ela emite é completamente diferente da proposta coreográfica. Ensaio, limpeza e muita técnica seriam ingredientes que poderiam melhorar o trabalho da montagem, que revela uma linda (por natureza) Juliana Paes e um surpreendente Vladimir Brichta. Em “My Fair Lady”, vale prestar atenção nas quase três horas de espetáculo sem piscar os olhos. A beleza plástica é tão grande, que é difícil se prender aos detalhes. A sintonia entre Daniel Boaventura (Professor Higgins) e Amanda Acosta (Elisa Doolittle) é tão grande que chega a impressionar. A troca dos cenários é feita de um modo muito sutil, o microfone dos intérpretes é quase imperceptível — provavelmente esteja acoplado às perucas —, a iluminação poderia ter o nome de desenho de luz, os figurinos de Fábio Namatame são mais bonitos que os originais, e a regência de Vânia Pajares é digna de reverência.
Não se pode explicar tudo. Para esta montagem a palavra de ordem é assistir.Antes que o espaço termine, impossível não falar dos programas dos espetáculos. Ambos tem valor de R$ 20 e merecem ser adquiridos no hall do teatro ou casa de show. O programa de “Os Produtores” faz jus a montagem e é um material bem produzido. O de “My Fair Lady” é um verdadeiro livro. Branco, de capa dura e além da boa produção de imagens, o material conta com um histórico completo dos “criadores” do musical, como George Bernard Shaw, Alan Jay Lerner e Frederick Loewe, e da história da montagem. Vale o preço.
Fomento à Dança
Marcela Benvegnu
A Galeria Olido e o Centro Cultural São Paulo (CCSP) recebem a partir de 4 de outubro, a 1ª Mostra do Fomento à Dança. Além de ocupar com atividades dois pavimentos da Secretaria Municipal de Cultura, haverá programação intensa no Lugar — nova sede da Cia. Corpos Nômades —, que surge graças ao Programa Municipal de Fomento à Dança, ampliando o acesso do público às criações e produções no gênero.
Na abertura do evento haverá a inauguração da Sala de Pesquisa e Acervo, localizada no Centro de Dança da Galeria Olido, que abrigará o acervo multimeios do Programa — disponível para consulta pública, e materiais de dança doados por grupos e instituições. A idéia é que o local torne-se referência para pesquisadores e interessados no assunto.
Criado com a proposta de investir, fortalecer e difundir a dança contemporânea na cidade de São Paulo, o Programa lançou seu primeiro edital em julho do ano passado. Entre os 32 projetos inscritos, foram selecionados 14, que receberam entre R$ 60 e 200 mil para custear despesas de circulação, criação de espetáculos e manutenção de companhias.
Esta semana os espetáculos contemplados pelo primeiro edital integram a mostra que passará a fazer parte do calendário de dança da cidade de São Paulo anualmente, apresentando coreografias dos projetos selecionados a cada edição e promovendo o trabalho continuado dos grupos e núcleos independentes da dança paulistana.
Para a estréia da iniciativa, estão programados espetáculos, exposições e workshops gratuitos, além de palestras sobre o ensino de dança para crianças, discussão sobre a Lei de Fomento, em vigor desde 2005 e um encontro com coreógrafos e intérpretes dos 14 grupos selecionados, com mediação da bailarina e crítica da "Folha de São Paulo", Inês Bogéa.
Entre as coreografias que se apresentarão no Centro Cultural São Paulo e Galeria Olido estão, "PólisSemos", com concepção e direção geral de Maria Mommensohn; "¿Por que no hacemos cine?", com a Cia. Lambe-Lambe de Teatro e Afins; "O Processo", com a Cia. Borelli de Dança; "Anjo Novo", com o Núcleo Passo Livre; "Frida Kahlo: Uma Mulher de Pedra dá Luz à Noite" e "Feifei e a Origem do Amor", com a Taanteatro Cia.; "Estudos Sobre o Desejo", com os Artesãos do Corpo; "Brincos & Folias", "Entranças - Descobrindo e Redescobrindo o Brasil", "RodaPé", com a Balangandança Cia.; "Olhos Invisíveis", com P.U.L.T.S Teatro Coreográfico e outros. A programação completa pode ser conhecida no site: www.centrocultural.sp.gov.br/fomento_danca. O evento vai até 29 de outubro.
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
"Os Produtores" em São Paulo
Marcela Benvegnu
Um dos musicais de maior sucesso na história da Broadway, “Os Produtores” (“The Producers”), de Mel Brooks e Thomas Meehan, finalmente chegou aos palcos de São Paulo em clima de superprodução. O Tom Brasil foi reformado para receber o musical, que tem mais de dez diferentes tipos de cenários, 350 figurinos, 60 perucas, uma orquestra de 11 músicos, equipe de 80 pessoas e um elenco de 25 atores tendo à frente Miguel Falabella — diretor do espetáculo —, Juliana Paes e Vladimir Brichta.
O musical, que estreou no último sábado e teve platéia recheada de figurinhas carimbadas da Globo, se passa em 1959, em Nova York. O produtor Max Bialystock (Falabella) amarga seu último fracasso no teatro quando chega em seu escritório um contador tímido e um tanto nervoso, Leo Bloom (Brichta), para revisar a contabilidade. Sem querer, Leo descobre que um produtor pode ganhar mais dinheiro com um fracasso do que com um sucesso.A dupla então se dedica a encontrar a pior obra jamais escrita, conseguir o mais desastroso diretor de teatro e produzir o maior fracasso da história.
A eles junta-se Ulla (Juliana Paes), uma dançarina sueca que conquista seu espaço com algum talento e belas pernas. No entanto, nem tudo sai como planejado: a obra resulta num sucesso, o golpe é descoberto e ambos são presos. Mas o que parece o fim acaba virando um novo começo. Após saírem da prisão, Max e Leo voltam à Broadway com o musical “Prisioneiros do Amor”. Desta vez, porém, a idéia é fazer sucesso e a peça é um recomeço para os dois.
A versão nacional de “The Producers” para os palcos brasileiros contou com direção coreográfica de Chet Walker — renomado coreógrafo da Broadway, que participou das montagens de espetáculos como “Fosse”, “Sweet Charity”, “Chicago” e “A Gaiola das Loucas”. Os ensaios duraram dois meses e meio, com oito horas de trabalho diárias, incluindo aulas de dança, canto e interpretação. “The Producers” foi apresentado ao público originalmente como um filme — “Primavera para Hitler” (1968) — e foi dirigido por seu próprio autor. Na Broadway o espetáculo estreou em 2002, ficou cinco anos em cartaz e foi a peça que mais ganhou prêmios em toda a história dos musicais.
PARA VER — “Os Produtores”. Até o dia 25 de novembro, de sexta a domingo. Às sextas-feiras, às 21h30, sábados, às 17h e 22h e domingos, 18h, no Tom Brasil-Nações Unidas (av. Bragança Paulista, 1281). Ingressos custam de R$ 70 a R$ 200.
"OP1" estréia Sesi Dança 2007
A proposta de “OP1”, coreografia de Lali Krotoszynski pela Cia. Phila 7, que será apresentada hoje e amanhã, às 20h, no projeto Sesi Dança 2007, no Teatro Popular do Sesi Piracicaba é unir corpo, dança, música e tecnologia. O espetáculo é uma experiência cênica que proporciona ao público uma percepção diferenciada que funde ilusão com realidade. A montagem é uma das seis selecionadas para integrar o projeto promovido pela instituição em 12 cidades no Estado. A entrada é gratuita, porém, os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência na bilheteria do teatro.Com direção artística de Mirella Brandi, produção de vídeo de Rodrigo Gontijo, música original de Fabio Villas Boas e dramaturgia de Beto Matos, “OP1” tem como cenário um telão, no qual são projetadas diversas imagens captadas por uma câmera panorâmica que capta imagens do corpo em movimento ao vivo. “É uma proposta que experimenta os limites do espaço e da tecnologia no diálogo com o corpo. O trabalho não é só baseado nos movimento do corpo da intérprete, mas sim em sua relação de ilusão com o vídeo”, fala Mirela. Segundo a diretora o trabalho é baseado na optical art, uma tendência iniciada na Europa na década de 60, que opõe-se à harmonia estática da arte contemporânea tradicional, visando inversamente atingir um certo dinamismo que depende, muitas vezes, de estímulos visuais. “Daí o nome OP, que vem de optical art e o número 1, porque este é o nosso primeiro experimento”, explica. A Cia. Phila 7 foi fundada em 2005 com o objetivo de pesquisar novas linguagens e diferentes mídias. Os integrantes do grupo que tem como foco a convergência de linguagens, são profissionais de teatro e cinema. Além de “OP1” — desenvolvido com subsídio do programa Rumos Itaú Cultural Dança 2006 e prêmio estímulo de dança 2005, do Governo do Estado de São Paulo — a Cia. Phila 7 já realizou outras três produções, “Galileu Galilei”, “Play on Earth” e “A Verdade Relativa da Coisa em Si”, que recebeu o Prêmio Funarte de Dramaturgia em 2005.
PROJETO —
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Crítica / Mané musicado
Apesar do atraso de 25 minutos e de um público que não respeitava seus próprios lugares, pois insistia em mover as cadeiras plásticas para frente — o que talvez fosse permitido, pois a organização não se opôs, e quem chegou tarde acabou sentando na frente — “Mané Gostoso”, coreografia de Décio Otero para o Ballet Stagium, com participação ao vivo do Quinteto Violado, que foi apresentada na última quarta-feira no Sesc Piracicaba, é um reflexo do Brasil, onde é possível se deparar com manifestações culturais, encontros e desencontros.
A coreografia nem precisava ser assinada. A gramática impressa nos corpos dos bailarinos denuncia o trabalho do Stagium, que nasceu em 1971, e desde então, trabalha uma movimentação contemporânea particular. “Mané Gostoso” que faz alusão à um brinquedo de madeira nordestino, que tem braços e pernas movimentados por cordões, é um trabalho visual, no qual cenários e figurinos se casam perfeitamente. Em cena, 14 intérpretes revelam um bom preparo físico para a execução coreográfica, que dura 50 minutos, porém, a peça não apresenta grandes dificuldades técnicas.
Os bailarinos acostumados a dançar em palcos diversos, criam outra coreografia para se adaptarem ao palco do Sesc. Muitas trocas rápidas são feitas a olho nu no canto do palco e os adereços de cena — como grandes bancos — acabam compondo à cena. Apesar do pouco espaço nas coxias, a coreografia não fica comprometida e o mais importante é que o público piracicabano tem a chance de assistir à espetáculos de dança de grandes companhias. E esse mérito, impossível, não dar ao Sesc.
Na maioria das vezes, quando grupos e companhias de dança se apresentam com música ao vivo em um teatro, a orquestra ou fica no fosso, ou é colocada ao lado do palco — como se vê muito em musicais. No novo trabalho do Stagium, o Quinteto Violado, ganha lugar de destaque merecido na cena. Os instrumentistas colocados em um palco sobre o palco, são elementos fundamentais para a execução da coreografia. A música nordestina chama o movimento e este se cruza, descruza e por vezes até se desencontra na dança.
O grande homenageado do trabalho, o compositor Luiz Gonzaga, revela um Brasil que dança em qualquer tom. Seja em “Asa Branca”, “Assum Preto”, “P’ronde Tu vai, Luiz?” e “Forró de Mané Vito”, sem o brilhantismo do Quinteto, não seria tão gostoso assistir ao “Mané”.
quarta-feira, 12 de setembro de 2007
Em "Mané Gostoso", a dança e a música do Nordeste
Marcela Benvegnu
Genuinamente nacional, o espetáculo “Mané Gostoso”, que será apresentado hoje no Sesc Piracicaba, às 21h, é resultado da união entre as raízes brasileiras interpretadas pela coreografia do Ballet Stagium e pela música do Quinteto Violado. A obra leva o mesmo nome de um brinquedo infantil — que tem as pernas e os braços movimentados por meio de cordões — e propõe uma leitura moderna da cultura popular do Nordeste. A montagem homenageia um dos maiores ícones da música brasileira, o pernambucano Luiz Gonzaga (1912-1989) e comemora os 35 anos do Ballet Stagium e do Quinteto Violado.
“Mané Gostoso” foi coreografado por Décio Otero em 2007 e tem direção teatral da bailarina Marika Gidali, que ao lado de Otero, fundou o Ballet Stagium em 1971. “O Stagium tem um namoro antigo, de mais de 20 anos com o Quinteto Violado. Queríamos muito fazer este espetáculo. Artisticamente é um momento muito feliz para os dois grupos”, conta Marika, recentemente homenageada com o prêmio nacional Jorge Amado de Literatura e Arte e com medalha de ordem do mérito cultural, do Ministério da Cultura, por conta da representatividade de seus trabalhos na área de dança.
Em cena, 14 bailarinos executam coreografias de dança contemporânea, nas quais é possível notar certo virtuosismo — característica reconhecível da companhia — e entrosamento. “O ponto mais atrativo da peça é a energia e a beleza que transmitimos, seja pela música ou pela dança. Estudamos muito o indivíduo nordestino para a composição”, revela Marika. “O resultado são dois grupos que têm a mesma finalidade e buscam o erudito na cultura regional.”
Além da companhia de dança, o Stagium desenvolve projetos voltados à rede de ensino. Entre eles destacam-se, Stagium vai às Escolas, que objetiva a realização de espetáculos temáticos nos espaços escolares; Escolas vão ao Teatro, que proporciona aos alunos idas a teatros para assistirem aos espetáculos do repertório da companhia e o Projeto Joaninha, trabalho no qual a dança é um canal para a descoberta de potencialidades e que ajuda na formação da identidade pessoal e coletiva de quase 300 alunos, entre crianças e adolescentes.
DANÇA MUSICADA —
O Quinteto Violado tem direção musical de Toinho Alves (contrabaixo e voz) e é formado por Dudu Alves (teclado), Marcelo Melo (violão e voz), Roberto Medeiros (percussão e bateria) e Ciano Alves (flauta). Em “Mané Gostoso” o grupo executa “Vida”, de Alves; “Hino da Ceroula”, de Milton Bezerra de Alencar; “Assum Preto”, de Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga; “Dona Aninha”, de Toinho Alves e Roberto Santana; “Sete Meninas”, de Toinho Alves e Dominguinhos; “P’ronde Tu Vai?” e “Forró de Mané Vito”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas e “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.
SERVIÇO —
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
Carnaval dos Animais
Marcela Benvegnu
"Carnaval dos Animais" é uma das mais famosas coreografias de Luiz Arrieta, considerado por muitos críticos e especialistas um gênio da dança contemporânea. Apesar de ter sido composta em 2000, a montagem só estreou no ano passado e pode ser vista no palco da Galeria Olido, em São Paulo, hoje, amanhã às 20h e domingo, às 19h. O espetáculo tem duração de uma hora e entrada é gratuita.
“Carnaval dos Animais” trata da explicação do processo da composição da obra coreográfica com música homônima de Camille Saint Saëns (1835-1921), abordando cada parte (ou animal), seguida da apresentação da coreografia completa com figurino, adereços e iluminação. Tudo acompanhado da exposição das fotografias da obra já registradas pelo fotógrafo especializado em dança Antonio Carlos Cardoso — que também é coreógrafo e dirigiu o Balé do Teatro Castro Alvez, em Salvador — , que interpreta o do trabalho do ponto de vista do diafragma.
A divisão do espetáculo é clara. A introdução é a marcha real do leão, seguida de galinhas e galos, hemíones, tartarugas, elefante, canguru, aquário, personagens com longas orelhas, cuco no fundo do bosque, viveiro de aves, pianistas, fósseis, cisne e final.
Arrieta é um nome forte na dança mundial. Apesar de ter nascido na Argentina, foi em terras brasileiras que construiu seu nome e imagem. Foi bailarino de algumas das mais importantes companhias do mundo, como Ballet de Joaquín Pérez Fernández (Buenos Aires), Ballet Stagium, Balé da Cidade de São Paulo, Associação de Ballet do Rio de Janeiro e Hessiches Sttadtheater em Wiesbaden, Alemanha.
Trabalhou com coreógrafos de peso como Víctor Navarro, Oscar Araiz, Sonia Mota, Tatiana Leskova, Décio Otero, Christian Uboldi e Celia Gouveia.Em mais de 100 criações coreográficas trabalha com os mais variados temas e gêneros musicais, junto a diversas companhias do mundo. Entre as principais destacam-se, o Balé da Cidade de São Paulo, Grupo Andança, Cia. de Dança Cisne Negro, Ballet Ópera Paulista, Primeiro Ato, Meia Ponta Cia. de Dança, Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Ballet Teatro Guaíra, Ballet del Teatro San Martín, Ballet Nacional de Cuba, Ballet’s San Juan, Ballet de Grand Thèâtre de Genève e outros.
Balé é coisa de homem
Marcela Benvegnu
Quem disse que balé clássico dançado nas pontas dos pés não é coisa para homens? O Les Ballets Trockadero de Monte Carlo, que o diga. A companhia formada por bailarinos profissionais, masculinos, especializados na gama do repertório clássico e originais do estilo russo, chega a São Paulo, no dia 18 de setembro, para uma única apresentação, às 21h, no Teatro Sérgio Cardoso.
Fundado em 1974 por um grupo de entusiastas da dança clássica, com a finalidade de realizar uma paródia das formas tradicionais do balé clássico de maneira travestida, o Les Ballets é sucesso de crítica e público em todo o mundo.O conceito original do Les Ballets Trockadero de Monte Carlo não foi modificado desde a sua criação.
A comédia é atingida a partir do exagero das circunstâncias da narrativa da dança clássica, dos acidentes e da incongruência das coreografias. O fato de os homens executarem todos os papéis — o peso de um homem equilibrando-se precariamente nas pontas dos pés e pretendendo ser cisne, sílfide, ninfa das águas, princesa romântica e mulher vitoriana — engrandece, ao invés de ridicularizar, o espírito da dança clássica.
No ano passado, após uma temporada que assinalou recordes de venda em Londres, a companhia recebeu o prêmio de excelência em dança pela Associação dos Críticos de Dança de Londres. Em 2007, como resultado do êxito obtido em apresentações em Roma e Milão, a companhia recebeu o cobiçado Massina/Positano Award, em Positano, Itália.
Desde a sua estréia em 1974, a companhia apresentou-se em mais de 30 países e 300 cidades. Atualmente vêm empreendendo temporadas mais longas, incluindo visitas recentes, por várias semanas, a Amsterdam, Barcelona, Berlim, Buenos Aires, Caracas, Colônia, Hamburgo, Lisboa, Lyon, Moscou, Paris, Singapura, Sydney, Viena e Wellington.Artigos publicados em revistas como Variety, Oui, The London Daily Telegraph, assim como um ensaio fotográfico de Richard Avedon para a Vogue, fizeram com que a companhia se tornasse mundialmente conhecida. O que fizeram nos últimos 32 anos é o que os espera no futuro: inovação, comédia e desmistificação de mitos. O balé é mesmo para todos.
PARA VER — Les Ballets Trockadero de Monte Carlo. Dia 18 de setembro, às 21h, no Teatro Sérgio Cardoso. O valor dos ingressos ainda não foi divulgado. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 6163-5087.
Sempre Balanchine
Dança dos quatro cantos
Marcela Benvegnu
Viver da arte da dança, trabalhar com os mais renomados coreógrafos da atualidade e, sobretudo, ser um grande bailarino. Esse é o sonho de vários alunos de escolas de dança brasileiras, que pode se tornar realidade. Prova real poderá ser vista no palco do Teatro Municipal “Dr. Losso Netto”, hoje, às 21h, quando acontece a “Gala Internacional — Um Brinde a Piracicaba”, espetáculo com direção de Camilla Pupa — que em 2007 completa 25 anos de carreira —, que reúne bailarinos das mais importantes companhias de dança do Brasil e exterior, além da Oficina da Dança de Piracicaba. Os ingressos estão esgotados. O evento tem apoio do Jornal de Piracicaba.
Antes da apresentação, às 19h30, acontece no mesmo espaço a entrega do Troféu de Mérito Cultural Fabiano Rodrigues Lozano e das medalhas de Mérito Cultural para personalidades que contribuíram para o desenvolvimento da cultura piracicabana ao longo do ano. Camilla foi premiada com a medalha Iris Ast, na categoria dança.
Um dos destaques de “Gala Internacional” é o bailarino Denis Piza, que cresceu em Piracicaba e hoje é solista da Companhia Niedersächischen Staats Ballet, de Hannover, Alemanha. Piza poderá ser visto na coreografia de abertura, “Dom Quixote”, com Marcela Lacreta, da Oficina da Dança e no encerramento, em “Corsário”, com Ivy Amista, solista do Bayerisches Staatsballet — Ballet da Ópera de Munique, ambas coreografias de Camilla após Marius Petipa (1822-1910).
Entre os bailarinos ainda destacam-se profissionais do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Grupo Corpo de Belo Horizonte, Camilla Ballet, Miami City Ballet School, Heinz-Bosl-Stiftung-Ballet, Ballet de Monterrey, Pacific Dance Arts, Cia. Theater Philharmonie Thüringen e outros. O que talvez poucos saibam é que esses bailarinos não foram convidados para a apresentação somente por serem talentosos e integrarem grandes companhias. Todos, de forma direta ou indireta, foram alunos de Camilla. “Fiquei muito feliz porque todos atenderam prontamente ao meu convite para dançarem em Piracicaba. Eles estão de férias no Brasil e estão aqui hoje por amor”, fala a diretora, que mora em Piracicaba, tem uma escola de dança (Camilla Ballet) em São Paulo e ministra aulas na Oficina da Dança.
Conhecida no cenário da dança brasileira como uma das maiores exportadoras de talentos, Camilla acredita que a lição mais importante desta noite é mostrar a todos como é possível fazer dança de qualidade e proporcionar emprego aos bailarinos brasileiros. “Nosso bailarinos são muito talentosos e integram as maiores companhias de dança do mundo. A receita disso é um bom profissional, um trabalho bem dirigido e muita disciplina. Desta forma a dança continuará crescendo como arte em todo o mundo.”
REPERTÓRIO — “Gala Internacional” vai além de uma apresentação de dança tradicional. O espetáculo pode ser considerado um convite à história da dança por trazer ao palco alguns dos mais famosos balés de repertório, como “Suíte de Dom Quixote”, “La Bayadére” e “O Corsário”, de Petipa; “Águas Primaveris”, de Asaf Messerer; “Esmeralda”, de Jules Perrot (1810-1892), e “Cisne Negro”, de Lev Ivanov (1950-1980). Além destas coreografias, “Desejo”, de Éder Braz; “Flocos de Neve”, de Tatiana Stamado; “Winds”, do piracicabano André Malosá — que foi bailarino do Le Jeune Ballet de France, em Paris —, “Vortex”, de Alvin Ailey (1931- 1989), e “Who Cares?”, de George Balanchine (1904-1983) completam o programa.
quinta-feira, 16 de agosto de 2007
Sapateia, Brasil!
Intercâmbio, troca, formação e informação. Essas são algumas das qualidades que envolvem o Festival Internacional de Sapateado de Campinas, organizado pela sapateadora e instrumentista Christiane Matallo desde 2000, que a partir deste ano passa a se chamar Brasil International Tap Festival e acontecerá nos dias 30 e 31 de agosto e 1º e 2 de setembro de 2007 na cidade de Jaguariúna, a 16 quilômetros de Campinas.O evento traz profissionais com linguagens e frentes de trabalho diferentes para a construção e fundamentação do pensamento crítico do bom profissional ligado à arte do sapateado. O objetivo do evento é o de promover um encontro entre alunos e professores que participam de aulas, apresentações, tap jam sessions, exibição de filmes, bate-papos, entre outras particularidades.Este ano o festival recebe grandes artistas, como Jason Samuels Smith (USA), o único coreógrafo a ganhar um prêmio Emmy depois do coreógrafo de Fred Astaire e atualmente o melhor sapateador americano; Derick Grant (USA), diretor do “Imagine Tap”, espetáculo que reuniu nos palcos de Chicago, no ano passado, uma trupe dos mais renomados e talentosos sapateadores; Aaron Tolson (USA), co-diretor de “Imagine Tap”; Corinne Karon (USA), única sapateadora a se apresentar em todos os continentes do mundo e fazer uma performance na Antártida.Entre os professores brasileiros estão Dalga Larrondo, um dos únicos percussionistas do mundo a dominar a técnica do zarb, tambor utilizado na música clássica iraniana, e Christiane Matallo, considerada pelo jornal “The New York Times” como a “Carmen Miranda do sapateado” e a única brasileira a ministrar aulas no Tap City, o maior evento de sapateado dos Estados Unidos, por dois anos consecutivos.Além das aulas que acontecem durante todo o dia, as noites são reservadas para outras atividades. Na quinta-feira, dia 30, acontece a exibição de filmes lendários do sapateado americano, seguida de bate-papo; na sexta-feira, dia 31, uma jam session com a banda Gilberto de Syllos e no sábado, às 21h, no Centro Cultural de Jaguariúna, uma apresentação de grupos amadores, profissionais e estrelas convidadas.Todos os cursos custam R$ 400. Ainda restam algumas vagas e as inscrições podem ser feitas pelo site www.christiane-matallo.com.br e também pelo telefone (19) 3255-8323. O apoio é da Só Dança e da Prefeitura de Jaguariúna.
sexta-feira, 10 de agosto de 2007
O novo corpo do Corpo
terça-feira, 31 de julho de 2007
Jubileu equilibrado
De um passo de formiga surgiu um grande império. Assim podemos chamar o Festival de Dança de Joinville, um evento feito em sua maioria por alunos de escolas de todo o Brasil e mundo, que esperam as férias de julho para poderem respirar a arte da dança. Ainda bem que isso existe e é possível acontecer em um país como o nosso, onde as injustiças e desigualdades estão tão evidentes.
Em seu Jubileu de Prata seria impossível não destacar como os grandes trunfos da 25ª edição: a Noite de Abertura e a Noite de Gala. Assistir a performance de Mikhail Barysnikov com a sua Hell´s Kitchen Dance, em “Years Later”, de Benjamim Millipied e “Come In”, de Aszure Barton foi um grande privilégio. As negociações que duraram mais de dois anos valeram à pena.
Unir talentos que já passaram pelo festival e hoje dançam em companhias internacionais foi outra empreitada - assinada pelo talentoso João Wlamir, do Theatro Municipal do Rio de Janeiro - , que deu certo, para abrilhantar a Noite de Gala. Mesmo com o caos aéreo que se instala no país, tudo deu certo.
O nível coreográfico desta edição esteve equilibrado. Excelentes trabalhos de dança contemporânea e sapateado contrastaram com coreografias de jazz insustentáveis. Não houve muitas surpresas – a não ser o bailarino Carlos Wellington Bezerra Gomes, de longe o mais completo desta edição.
Pena que os Seminários em Dança, uma proposta nova e interessante não aguçou a vontade de muitos bailarinos. As conferências e ocorrências dos três dias de duração, nos quais se apresentaram diversos pesquisadores proporcionou a pouco mais de 70 pessoas, uma reflexão sobre o que é pensar a dança, sua memória, história e movimento. Que este seja o primeiro, de muitos outros seminários. Nele se revela uma função do festival, informar para formar. O primeiro passo já foi dado, no ano que vem tudo estará caminhando, ou melhor, dançando. Que julho chegue rápido novamente.
História da dança ao vivo
Marcela Benvegnu
“Chopiniana”, também conhecido como “Les Sylphides” – esse é o seu nome mais popular - é um balé de um único ato baseado em obras do músico Frédéric Chopin (1810-1949). Apresentado pela Escola do Teatro Bolshoi no Brasil (ETBB), no encerramento do festival Meia Ponta, no Teatro Juarez Machado, na quarta-feira, o balé começou a ser coreografado por Mikhail Fokine (1880-1942), em 1907, porém, somente dois anos depois foi apresentado na íntegra no teatro Maryinsky em São Petersburgo.
Isso porque Fokine primeiro coreografou “Opus 64, nº 2”, de Chopin para Anna Pavlova (1881-1931). Em 1908, coreografou uma marzurka e uma valsa, que deu o nome de, “Danses sur la Musique de Chopin” para um corpo de baile e finalmente em 1909, o balé completo. No dia da estréia, Serguei Diaghilev (1872-1929) esteve presente e propôs que a montagem fosse incorporada aos seus Ballets Russes. Assim com a inserção de novas músicas, a montagem final conta com 34 minutos.
Quando coregrafada, “Chopiniana” foi considerada revolucionária por utilizar novas técnicas de dança clássica, estas que os alunos da ETBB souberam reconhecer na remontagem da professora Galina Kravchenko em tom de romantismo. O balé tem como cenário um bosque onde um jovem sonhador está cercado de sílfides bailando ao seu redor. Não existe uma história. O cenário e o tema das sílfides serve para que a coreografia criada por Fokine tome forma.
O elenco formado por bailarinas entre 14 e 19 anos apresentou um trabalho limpo, que encantou o público – muitos de pé pela falta de lugares – e os pequenos bailarinos do Meia Ponta. Entre as intérpretes, todas impecáveis, Stephanine Ricciardi conseguiu se destacar. A jovem, dona de movimentos muito delicados e precisos, parecia uma verdadeira sílfide e foi capaz de dançar e revelar sua alma. Pode-se dizer que “Chopiniana”, interpretado pela ETBB foi uma verdadeira aula de história da dança ao vivo, daquelas que todos deveriam ter oportunidade de assistir.
Que jazz é esse?
Marcela Benvegnu
Apesar de na noite competitiva de quinta-feira, os locutores não terem explicado o significado do estilo do jazz dance, que concorria na categoria conjunto sênior e júnior e dividiu a noite com o balé clássico de repertório (variação feminina sênior, masculina avançada e conjunto avançada) é preciso começar por aqui. Pois a definição desta forma de dança, talvez seja capaz de clarear o olhar do espectador.
A expressão jazz dance nos remete a imagens de ritmos, bamboleios, corpos livres e improvisações de extrema liberdade. É uma dança negra que com o passar do tempo começou a se adaptar às características técnicas conhecidas na época derivadas dos bailes africanos e já modificadas pelos brancos. O jazz tem como principais características uma dança que usa o isolamento de partes do corpo que se movem separadamente seguindo o mesmo ritmo – swing-; movimentos rítmicos sincopados; uso da polirritmia - combinação do corpo em vários ritmos diferentes e o uso correto do centro de gravidade deste corpo que dança.
A noite foi pontuada por trabalhos interessantes, como “Dream Girls”, de Fernanda Araújo, para o Laboratório da Dança de Santa Bárbara D´Oeste. Seu cenário – que ainda bem que fugiu das saias e panos – foram quatro espelhos, que dançavam com as bailarinas (que usavam sapatos de salto, estilo chorus line) e que eram multiplicadas em cena. “Um Cangaço Diferente”, de Iolanda Hanh, de Camboriu, para o Grupo de Dança Kaiorra também inovou. Ao som de uma colagem musical com Elba Ramalho e Zé Ramalho o grupo estava muito bem ensaiado e eles foram capazes de dançar até sentados em uma escada.
Não há como negar que a noite de anteontem foi melhor do que quando as coreografias da categoria avançada se apresentaram, mas o jazz ainda pode muito mais. O estilo sempre emocionou o público do Festival de Dança de Joinville, sempre fez o coração das pessoas baterem mais forte, mas isso não vem acontecendo este ano. Vale a pena refletir sobre que jazz é esse para a próxima edição.
Na outra bateria, o balé clássico de repertório, se viu trabalhos virtuosos, porém, como haviam muitos trabalhos selecionados, a primeira parte da competição foi muito longa e contabilizou 2h20 de duração. Quando começou a bateria dos conjuntos – a mais longa de todas – o público já estava cansado e com frio, tanto que muitas pessoas foram embora durante o intervalo. Mas entre “congelados” e cansados foi possível aplaudir a Companhia do Conservatório (RJ), uma das mais premiadas nesta edição do festival, com a impecável “Raymonda”, de Marius Petipa (1822-1910), remontada por Jorge Teixeira. O grupo que concorreu na categoria conjunto avançada tinha um cenário bem adaptado, intérpretes sintonizados e uma solista pra lá de exuberante.
No ritmo do popular
Marcela Benvegnu
O musicólogo e pesquisador de danças populares, o argentino Carlos Veja disse certa vez que “nada é mais universal que o folclore; nada mais regional que o folclore”. De fato ele tinha razão. É no folclore e na particularidade de cada movimento, figurino ou música de dança popular, que as tradições aparecem e dialogam com a contemporaneidade. Na noite de quarta-feira, que compreendeu na primeira parte as competições de balé clássico (duo júnior e sênior, solo feminino sênior, solo masculino, trio e conjunto avançado) e na segunda parte, trabalhos de danças populares (conjunto júnior e sênior) foram elas que inovaram.
De longe o melhor da noite na bateria foi o de Joinville (SC), com a coreografia “A Rússia Aos Nossos Olhos”, de Liliana Vieira Körn. Ao som de “Night on Bald Mountain”, de Modest Mussorgshy, o grupo formado por 25 meninas revelou uma sincronia de movimentos perfeita. Não havia diferenças de movimento entre nenhuma bailarina e o figurino, em tons de vermelho e branco, levou ao palco um brilho maior.
O Grupo de Dança da Academia Corpo Livre foi um dos que também recebeu uma menção honrosa, com “Joinville Nossa História, Nossa Dança”, também de Liliana no Festival Meia Ponta, anteontem. Vale dizer que o grupo só apresentou trabalhos bem ensaiados e com uma pesquisa coreográfica interessante, que preza pela popularização das danças que já trazem esse nome.
O gênero tem origens diversas. Mas o essencial é que o corpo brasileiro, com a sua forma de dançar, musicar e, sobretudo, coreografar lhe confere traços singulares. Sob composição de Ronan Hardman denominada “The Celtic Tiger”, a Academia Sheila´s Ballet mostrou essas características. Com “New Irish”, de Helga e Sheila Santos, a escola de Piedade (SP) fez jus ao título de seu trabalho e levou ao palco do Centreventos Cau Hansen intérpretes que abusaram da sincronicidade. Vestidas com roupas pretas – cada uma usava um modelo diferente – que se assemelhavam aos punks modernos, o grupo foi capaz de apresentar uma versão diferente daquilo que sempre vimos como Irish Step Dancing, mais conhecido como sapateado irlandês.
Em noite de balé clássico muitas coreografias destoavam da categoria, era uma dança moderna aqui, muita dança contemporânea acolá. Porém, o que era mesmo balé clássico feito com muita criatividade foi “Shishumki – Mudança de Vida”, solo de Jean Alex, para a pequena Yumi Hayasaka. Dançando com dois leques vermelhos, a bailarina foi muito bem trabalhada por Alex, que soube usar qualidades como, sua bela linha de pernas e pés bem trabalhos, a favor da coreografia.
Na bateria de balé clássico conjunto categoria avançada se apresentaram nove escolas. É possível pontuar excelentes peças como, “Vozes da Primevera”, de Henrique Talma com remontagem de Jorge Teixeira para a Companhia do Conservatório do Rio de Janeiro, que mostrou um elenco bem entrosado e o Ballet Aracy de Almeida, com “All Blue”, também de Alex, que além de ter marcado o cenário da dança brasileira com sua interpretação de “Caminho da Seda”, de Roseli Rodrigues se mostra um coreógrafo maduro, a altura do Raça Cia. de Dança de São Paulo, que o projetou.
Outro trabalho marcante foi, “Os Coringas”, de Renata Pacheco. Executado pelo Balé da Cidade de Santos, o que se viu, já era esperado. O numeroso elenco – 17 bailarinas – pareciam um único corpo em cena tamanha perfeição de seus movimentos. O figurino típico de um coringa deixou o palco colorido e a montagem de Renata foi tão bem estruturada que quase não se percebeu que a música era uma das mais famosas do repertório de “La Bayadere”, do russo Leon Minkus (1826-1917).
Thank you, Dance!
by Judy Smith "
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