Marcela Benvegnu
Nem sempre o que está em jogo na cena coreográfica é o movimento ou a assinatura. Em muitos casos, o que se espera ver no palco é uma grande figura, um grande bailarino, que somente com sua forma de andar consegue fazer com que o corpo do espectador fique imobilizado em uma cadeira ou mesmo em uma arquibancada fria. Foi este sentimento, uma mistura de êxtase com admiração, que marcou a abertura do 25º Festival de Dança de Joinville, na última quarta-feira, quando Mikhail Barysnikov – que nos ingressos está grafado de forma errada – pisou no palco do Centreventos Cau Hansen, com a sua Hell´s Kitchen Dance.
O primeiro trabalho da noite, “Years Later” (“Anos Depois”/2006), um solo de aproximadamente 17 minutos de Baryshnikov, assinado por Benjamin Millipied talentoso bailarino do New York City Ballet, é o que há de mais belo e poético no programa formado por outras duas montagens. Ao som de “Saxophones”, de Philip Glass e “Gnossieness n.3”, de Erik Satie, o mito da dança clássica comprova como um corpo com seus 59 anos ainda é capaz de emocionar e, sobretudo, calar.
Apesar de Baryshnikov dizer que o trabalho não é uma autobiografia é impossível não reconhecer ali sua essência. Quando ele dança sozinho, sem a interferência da videografia de Olivier Simola (que está trabalhando com o multiartista francês Philippe Decouflé) que aparece nos quadros posteriores, é possível notar uma movimentação marcada por formas geométricas que aos poucos se transforma na fluidez pedida pela música.
Durante a projeção, deparar-se com um Baryshnikov com pouco mais de 25 anos, que exibe movimentos característicos da dança clássica - como baterias, uma quinta posição de pés perfeita, grandes saltos e até piruetas, que são aceleradas para darem noção de movimentos surrais - e não notar que se está na frente de um dos maiores bailarinos do século, seria negar a própria história da dança.
Em cena ele é capaz de estabelecer um diálogo próprio entre corpo e memória. Sem contar que se transforma em sombra, uma tríade de diferentes possibilidades. Baryshnikov dialoga com o vídeo na cena em que cruza seus movimentos com a dança de Aszure Barton, bailarina e coreógrafa da companhia e quando se vê jovem dançando uma coreografia moderna ao estilo da coreógrafa americana Judith Jameson, do Alvin Ailey American Dance Theatre. No palco consegue rir e brincar com suas próprias imagens.
Mesmo tendo Barysnikov como atração, a noite também foi da Hell´s Kitchen Dance. Em “Rom”, solo de Willian Briscoe, coreografado por Aszure o que chama atenção é que o intérprete, que tinha como figurino uma calça social preta, quase não se locomove no espaço. Ao ritmo de uma canção tradicional húngara, sua movimentação cheia de repetições é marcada por uma linguagem que se aproxima das danças africanas.
E por falar em linguagens, muitas escolas americanas, como Martha Graham, Alvin Ailey e Merce Cunningham se encontram em, “Come In” (“Entre”/2006), também de Aszure, na qual toda a companhia formada por 12 jovens talentos vai para o palco. Descalços, os bailarinos vestidos de preto acompanhados de Barysnikov, que não abriu mão de usar sapatilhas em cena, mostram um trabalho poético, mas que ainda procura sua identidade.
A cena mais marcante é um duo de Barysnikov com Ian Robinson, um promissor talento da companhia que já é formado pela New York City University e integrou companhias de peso do cenário da dança mundial, como o Les Ballets Jazz de Montreal e a Complexions Contemporary Ballet. No palco se vê a força e o tempo, a vontade e a conquista. Nada mais do um espelho da própria dança e da trajetória de Baryshnikov. Seja nas cadeiras pretas que estão em cena ou nos duos do conjunto coreógrafico, a Hell´s Kitchen Dance não se sustenta sozinha, ainda fica à sombra de sua grande estrela para se manter em movimento.
O primeiro trabalho da noite, “Years Later” (“Anos Depois”/2006), um solo de aproximadamente 17 minutos de Baryshnikov, assinado por Benjamin Millipied talentoso bailarino do New York City Ballet, é o que há de mais belo e poético no programa formado por outras duas montagens. Ao som de “Saxophones”, de Philip Glass e “Gnossieness n.3”, de Erik Satie, o mito da dança clássica comprova como um corpo com seus 59 anos ainda é capaz de emocionar e, sobretudo, calar.
Apesar de Baryshnikov dizer que o trabalho não é uma autobiografia é impossível não reconhecer ali sua essência. Quando ele dança sozinho, sem a interferência da videografia de Olivier Simola (que está trabalhando com o multiartista francês Philippe Decouflé) que aparece nos quadros posteriores, é possível notar uma movimentação marcada por formas geométricas que aos poucos se transforma na fluidez pedida pela música.
Durante a projeção, deparar-se com um Baryshnikov com pouco mais de 25 anos, que exibe movimentos característicos da dança clássica - como baterias, uma quinta posição de pés perfeita, grandes saltos e até piruetas, que são aceleradas para darem noção de movimentos surrais - e não notar que se está na frente de um dos maiores bailarinos do século, seria negar a própria história da dança.
Em cena ele é capaz de estabelecer um diálogo próprio entre corpo e memória. Sem contar que se transforma em sombra, uma tríade de diferentes possibilidades. Baryshnikov dialoga com o vídeo na cena em que cruza seus movimentos com a dança de Aszure Barton, bailarina e coreógrafa da companhia e quando se vê jovem dançando uma coreografia moderna ao estilo da coreógrafa americana Judith Jameson, do Alvin Ailey American Dance Theatre. No palco consegue rir e brincar com suas próprias imagens.
Mesmo tendo Barysnikov como atração, a noite também foi da Hell´s Kitchen Dance. Em “Rom”, solo de Willian Briscoe, coreografado por Aszure o que chama atenção é que o intérprete, que tinha como figurino uma calça social preta, quase não se locomove no espaço. Ao ritmo de uma canção tradicional húngara, sua movimentação cheia de repetições é marcada por uma linguagem que se aproxima das danças africanas.
E por falar em linguagens, muitas escolas americanas, como Martha Graham, Alvin Ailey e Merce Cunningham se encontram em, “Come In” (“Entre”/2006), também de Aszure, na qual toda a companhia formada por 12 jovens talentos vai para o palco. Descalços, os bailarinos vestidos de preto acompanhados de Barysnikov, que não abriu mão de usar sapatilhas em cena, mostram um trabalho poético, mas que ainda procura sua identidade.
A cena mais marcante é um duo de Barysnikov com Ian Robinson, um promissor talento da companhia que já é formado pela New York City University e integrou companhias de peso do cenário da dança mundial, como o Les Ballets Jazz de Montreal e a Complexions Contemporary Ballet. No palco se vê a força e o tempo, a vontade e a conquista. Nada mais do um espelho da própria dança e da trajetória de Baryshnikov. Seja nas cadeiras pretas que estão em cena ou nos duos do conjunto coreógrafico, a Hell´s Kitchen Dance não se sustenta sozinha, ainda fica à sombra de sua grande estrela para se manter em movimento.
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