Marcela Benvegnu
A história de Sebastiana de Mello Freire, conhecida como dona Yayá, mulher da elite paulistana diagnosticada como doente mental e cuja casa foi parcialmente transformada em hospital psiquiátrico privado - pois ela permaneceu isolada no recinto de 1919 a 1961 – é retratada de forma muito pertinente em, “O Banho” (2004), pela bailarina e coreógrafa Marta Soares, do Marta Soares - Grupo de Dança Teatro, de São Paulo.
O trabalho apresentado na Cidadela Cultural Antartica, na segunda-feira, integrou a última apresentação da Mostra de Dança Contemporânea do Festival de Dança de Joinville, tendo em vista que o espetáculo da Cia. Borelli, que deveria ter se apresentado ontem, foi cancelado.
“O Banho” é uma instalação coreográfica. Assim que os espectadores entram no espaço proposto com uma série de projeções em movimento, que foram gravadas na casa de dona Yayá, em São Paulo e enfatizam o reflexo do corpo e da memória, percebem que são transportados para outra atmosfera. Uma banheira branca antiga, cheia de água quente é o foco do trabalho. É dentro dela que Marta desenvolve sua pesquisa.
A coreografia não é vista de forma convencional, pois não existem cadeiras. Nos primeiros minutos da apresentação, ninguém ousa se aproximar de seu corpo nu, porém, aos poucos, quando todos já sentem o confinamento, a relação se transforma. As pessoas quase grudadas na banheira refletem juntas sobre a passagem do tempo, a vida e a morte.
O corpo de Marta imerso na banheira delira, se fere, se comprime, se revolta e tenta se libertar de uma história própria. É interessante notar que no chão, as marcas dos sapatos em contato com a água traçam caminhos que desenham novas possibilidades de exploração. “O Banho”, pela própria função da arte, causa à primeira vista estranhamento, mas depois, se consolida como uma grande obra.
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