terça-feira, 31 de julho de 2007
No ritmo do popular
Marcela Benvegnu
O musicólogo e pesquisador de danças populares, o argentino Carlos Veja disse certa vez que “nada é mais universal que o folclore; nada mais regional que o folclore”. De fato ele tinha razão. É no folclore e na particularidade de cada movimento, figurino ou música de dança popular, que as tradições aparecem e dialogam com a contemporaneidade. Na noite de quarta-feira, que compreendeu na primeira parte as competições de balé clássico (duo júnior e sênior, solo feminino sênior, solo masculino, trio e conjunto avançado) e na segunda parte, trabalhos de danças populares (conjunto júnior e sênior) foram elas que inovaram.
De longe o melhor da noite na bateria foi o de Joinville (SC), com a coreografia “A Rússia Aos Nossos Olhos”, de Liliana Vieira Körn. Ao som de “Night on Bald Mountain”, de Modest Mussorgshy, o grupo formado por 25 meninas revelou uma sincronia de movimentos perfeita. Não havia diferenças de movimento entre nenhuma bailarina e o figurino, em tons de vermelho e branco, levou ao palco um brilho maior.
O Grupo de Dança da Academia Corpo Livre foi um dos que também recebeu uma menção honrosa, com “Joinville Nossa História, Nossa Dança”, também de Liliana no Festival Meia Ponta, anteontem. Vale dizer que o grupo só apresentou trabalhos bem ensaiados e com uma pesquisa coreográfica interessante, que preza pela popularização das danças que já trazem esse nome.
O gênero tem origens diversas. Mas o essencial é que o corpo brasileiro, com a sua forma de dançar, musicar e, sobretudo, coreografar lhe confere traços singulares. Sob composição de Ronan Hardman denominada “The Celtic Tiger”, a Academia Sheila´s Ballet mostrou essas características. Com “New Irish”, de Helga e Sheila Santos, a escola de Piedade (SP) fez jus ao título de seu trabalho e levou ao palco do Centreventos Cau Hansen intérpretes que abusaram da sincronicidade. Vestidas com roupas pretas – cada uma usava um modelo diferente – que se assemelhavam aos punks modernos, o grupo foi capaz de apresentar uma versão diferente daquilo que sempre vimos como Irish Step Dancing, mais conhecido como sapateado irlandês.
Em noite de balé clássico muitas coreografias destoavam da categoria, era uma dança moderna aqui, muita dança contemporânea acolá. Porém, o que era mesmo balé clássico feito com muita criatividade foi “Shishumki – Mudança de Vida”, solo de Jean Alex, para a pequena Yumi Hayasaka. Dançando com dois leques vermelhos, a bailarina foi muito bem trabalhada por Alex, que soube usar qualidades como, sua bela linha de pernas e pés bem trabalhos, a favor da coreografia.
Na bateria de balé clássico conjunto categoria avançada se apresentaram nove escolas. É possível pontuar excelentes peças como, “Vozes da Primevera”, de Henrique Talma com remontagem de Jorge Teixeira para a Companhia do Conservatório do Rio de Janeiro, que mostrou um elenco bem entrosado e o Ballet Aracy de Almeida, com “All Blue”, também de Alex, que além de ter marcado o cenário da dança brasileira com sua interpretação de “Caminho da Seda”, de Roseli Rodrigues se mostra um coreógrafo maduro, a altura do Raça Cia. de Dança de São Paulo, que o projetou.
Outro trabalho marcante foi, “Os Coringas”, de Renata Pacheco. Executado pelo Balé da Cidade de Santos, o que se viu, já era esperado. O numeroso elenco – 17 bailarinas – pareciam um único corpo em cena tamanha perfeição de seus movimentos. O figurino típico de um coringa deixou o palco colorido e a montagem de Renata foi tão bem estruturada que quase não se percebeu que a música era uma das mais famosas do repertório de “La Bayadere”, do russo Leon Minkus (1826-1917).
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2 comentários:
Sua retratação sobre a apresentação do Balé da Cidade de Santos, foi exatamente a sensação que tive. Seu comentário me bastou para saber que não sou a única que tem bom gosto para dança.
Olá! Gostaria de sugerir a todos os leitores um espetáculo maravilhoso. Vamos lá:
BANDA SINFÔNICA E CISNE NEGRO NO AUDITÓRIO IBIRAPUERA
A Banda Sinfônica do Estado de São Paulo e a Cisne Negro Cia. de Dança se apresentam no Auditório Ibirapuera nos dias 31 de agosto, 01 e 02 de setembro com o espetáculo “Atmosferas” que conta com duas coreografias: Atmosferas, de Dany Bittencourt e música de André Mehmari (compositor residente da Banda Sinfônica); e Danses Concertantes, de Mark Baldwin interpretando a obra de Stravinsky. A regência fica a cargo do maestro Abel Rocha, diretor artístico e regente titular da Banda Sinfônica.
A música de André Mehmari e a coreografia de Dany Bittencourt foram criados especialmente para a Banda Sinfônica para o encerramento da temporada 2006, o espetáculo Atmosferas é agora apresentado no Auditório Ibirapuera com nova cenografia, e dá ao público a oportunidade de rever um dos grandes sucessos do último ano.
Dias: 31, 01 e 02 de Agosto de 2007
Horário: Sexta, 21h - Sábado, 20h30 - Domingo, 18h
Duração: 60 minutos (aproximadamente)
Ingresso: R$ 30,00 e R$ 15,00 (meia-entrada)
Gênero: Dança Contemporânea/Música Erudita
Classificação Indicativa: Livre
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