domingo, 31 de outubro de 2010

Vem vindo...

Marcela Benvegnu

Quem ainda não tem programação cultural para essa semana. Agende-se.

LUIS ARRIETA | Estará em cartaz no Teatro da Dança, em São Paulo, com Carnaval dos Animais. Composto sobre músicas do compositor francês Camille Saint-Saëns (1835-1921) a montagem é pontuada de humor com referências a questões como memória e herança genética. Segundo o coreógrafo a peça pode ser descrita como um trabalho expressionista em que os movimentos, às vezes abruptos e inesperados, investigam as possibilidades do corpo desde a gestação.  De 5 a 7 de novembro | Sexta às 21h, sábado às 20h, domingo às 18h | Ingressos R$ 4 e R$ 2 | Teatro de Dança.


Quasar Companhia de Dança | Divulgação

QUASAR CIA. DE DANÇA | A Companhia estreia no Teatro Alfa a coreografia "Tão Próximo" no final de semana. O talento e a fertilidade criativa do coreógrafo Henrique Rodovalho, associados a um singular elenco de bailarinos vem seduzindo platéias. Ao longo dos anos, a linha de pesquisa que vem sendo desenvolvida pela Companhia, com uma arrojada e característica exploração do movimento, resultou na criação de inconfundíveis signos rítmicos, que deram identidade própria à Quasar. Dias 6 e 7 de novembro | Sábado, 21h, domingo, 18h | Setor 1 e 2 = R$ 60 Setor 3 e 4 = R$ 40 | Teatro Alfa.


AINDA ROLA...

ECA | ARTES CÊNICAS | Na quinta-feira, dia 4, às 8h30, vou ministrar uma aula de história da dança na Universidade de São Paulo (USP) para o pessoal do primeiro ano de artes cênicas. Um passeio do renascimento ao final do século 19, ilustrado com vídeos e histórias. A atividade é fechada.


SPCD | Na sexta-feira, dia 5, começa a segunda fase da audição 2010 da São Paulo Companhia de Dança. Dedos cruzados porque a fase já é eliminatória. A atividade é fechada.

MÚLTIPLA DANÇA | No sábado, dia 6, acontece a última fase do projeto Múltipla Dança, em Jacareí. Os grupos irão apresentar seus trabalhos para seleção final. Serão escolhidas as cinco melhores propostas, que receberão uma verba e apresentarão posteriormente o resultado coreógrafico. Antes da apresentação explicarei aos grupos um pouco sobre o que é e os rumos da crítica de dança no Brasil. A atividade é fechada.

sábado, 30 de outubro de 2010

Inteligentes relações

Marcela Benvegnu

Em cartaz até amanhã no Teatro da Dança, em São Paulo, Relações Humanas, de Ricardo Scheir e Eduardo Menezes mostra como uma escola de dança pode e é capaz de homogeneizar corpos. RH é técnico, belo, sutil e inteligente. A começar pela escolha do fio narrativo. A montagem é inspirada nos pensamentos do filósofo, historiador e ensaísta americano Will Duran (1885-1981) que afirma que “a realidade básica da vida está nas relações humanas”. E é no contato dos corpos que essas relações sustentam a obra.

Eduardo Menezes abre as cortinas como um espectador. É o olhar de fora para dentro, do mundo das máquinas para dentro de cada relação, indivíduo, corpo, que demonstra suas particularidades, limites, facilidades, e ao mesmo tempo, em pouco mais de 30 minutos, revela uma gramática corporal reconhecível. É interessante quando se pode reconhecer um coreógrafo por ela: o modo Scheir e Menezes de coreografar e o modo Pavilhão D dos corpos responderem.

Nos solos, duos, trios, sextetos e no conjunto, a dança contemporânea se mistura com a clássica para revelar um trabalho consistente. O grupo fala o mesmo idioma de forma harmônica no espetáculo todo. O figurino de Alice Hayasaka se modifica com o passar do tempo, ou melhor, com a transformação das relações estabelecidas. As cores vão ficando mais fortes, a saia vira calça, vestido. Tudo é muito sutil e faz com que o olhar do espectador procure a diferença, o diferente, o pensamento, a fragilidade e o encontro. E a luz, às vezes mais clara ou mais escura, dança com eles.

As projeções, que figuram na cena desde o início do espetáculo, são bem colocadas. Em nenhum momento são maiores do que a coreografia, a não ser quando Menezes, ao final de seu solo, abraça um mundo de imagens imaginadas de cabeça para baixo. Um mundo em preto e branco, que as relações da vida nos fazem enxergar colorido.

O palco é preenchido durante todo o espetáculo e as transições coreográficas são bem amarradas. Bem ensaiado e dirigido (por Scheir e Claudia Riego), RH traz à cena um espetáculo de escola com cara de algo mais. O grupo reflete sua própria imagem, talvez outra realidade básica da vida. Espelho invertido? Na dança não é diferente, às vezes também é preciso olhar o outro para se (re)conhecer.

PARA VER - Relações Humanas, de Ricardo Scheir e Eduardo Menezes, no Teatro de Dança (avenida Ipiranga, 344, subsolo, Edifício Itália | Centro) em São Paulo. Amanhã, às 18h. Ingressos custam R$ 4 | R$ 2. Livre.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Baryshnikov e Ana Laguna: falta ar

Ana Laguna e Baryshnikov em Place, de Mats Ek | Foto: Divulgação
Marcela Benvegnu

Uma noite memorável em que o corpo do espectador é suspenso pela arte da dança. Uma noite em que a dança encontra a maturidade e ela se revela no palco. Uma noite para ficar guardada na memória do corpo.

Ontem quando Baryshnikov e Ana Laguna subiram ao palco do Teatro Alfa, em São Paulo, as mais de 900 pessoas que lotaram o local pareceram desaparecer. O espaço foi tomado por aqueles corpos que sabem o sentido do movimento. Não foi simplesmente técnica, muito menos execução. Foi dança.

O programa Três Solos e um Dueto, muito bem escolhido para a turnê brasileira, começa com Valse Fantasie, solo de Baryshnikov, coreografado por Alexei Ratmansky (2009). A coreografia é pontuada pela música de Mikhail Glinka e marcada pela definição de movimentos do intérprete. Inteiro de branco, com um casaco de forro azul, Baryshnikov não precisa mais dançar para dizer. Sua imagem fala sozinha.

Na sequência, o público pode apreciar um extrato da divina Solo For Two (1996), de Mats Ek, em que o astro divide o palco com Ana Laguna (que foi casada com Ek). Todos já sabem a força de Baryshnikov, mas ver Ana dançar é um presente aos olhos. Ela parece ser maior do que o palco. A dramaturgia, o modo como se move, a potencialidade do gesto, a força. Vale ser clichê: linda demais. Durante a coreografia quem estava na plateia precisou lembrar de respirar.

A noite ainda contou com Years Later (2006 e 2009) de Benjamin Millepied e Place (2007), de Ek. Years Later, solo de Baryshnikov, já tinha sido apresentado no Brasil na noite de abertura da 25a edição do Festival de Dança de Joinville, em 2007.  Agora, a versão revisitada ganhou uma pitada de humor, como por exemplo, uma cena em que o astro gira piruetas e elas são aceleradas a ponto de ser impossível uma real execução. Na coreografia Baryshnikov se olha no espelho e seu reflexo para plateia não poderia ser outro. Mito. O espetáculo termina com Place, coreografia que traz Ana novamente para o palco e que coloca em cena o diálogo da luz, dos objetos cênicos e dos corpos em movimento.

Mais do que coreografia,  Três Solos e um Dueto propõe história da dança viva por unir dois grandes intérpretes no mesmo palco. Que fique a lembrança, a falta de ar.

Thank you, Dance!

by Judy Smith "