terça-feira, 26 de maio de 2009

As noivas de Iazetta


Marcela Benvegnu

Um projeto em processo. Assim é “Noiva Despedaçada — Forma e Estilhaçamento”, trabalho de dança contemporânea, coordenado pelo bailarino e diretor Ricardo Iazzetta, que ganha os palcos do TD — Teatro de Dança, em São Paulo, de hoje ao dia 24, e de 29 a 31 de maio, pela primeira vez. A ação, que integra a 4ª edição do programa Artista da Casa — no qual duas vezes por ano um artista consagrado é convidado para elaboração e apresentação de espetáculo inédito — propõe o entrelaçamento de discursos artísticos, e contempla dois momentos essenciais do processo de criação: a construção aberta e as performances. A apresentação de hoje é fechada para convidados.
Iazzetta dirige, ao lado de Key Sawao, a Key & Zetta e Cia., onde realizam suas criações focadas na pesquisa de linguagens corporais e suas inter-relações, convidando outros artistas para integrarem os processos criativos. “Reunimos uma série de ações artísticas que envolvem a linguagem da dança, vídeo, culinária, criação de figurino, ambientação do espaço e música, para, a partir da figura da noiva, questionar um possível esvaziamento de sentido do ritual e dos mitos na sociedade contemporânea”, fala.
Nos próximos dias 27 e 28 de maio, acontece no TD, das 14h30 às 21h, o Construção Aberta, uma parte do projeto “Noiva Despedaçada — Forma e Estilhaçamento”, que abre ao público, em sessões gratuitas, o processo de construção das performances. O público interessado pode observar a discussão e concepção sobre as performances, o figurino, as cenas, luz, ambientação do espaço.
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PERFORMANCES — Os convidados hoje irão se deparar com “Coquetel das Noivas no Salão”. A performance se desenvolve num coquetel de casamento, realizado no palco do TD. Durante a intervenção cênica, o salão será invadido por noivas, suas aspirações e desejos. O chef convidado Ricardo Pastore, especializado em festas de casamento, estará à frente do cardápio e o poeta e músico Domenico Coiro fará uma intervenção no início da coreografia.
Amanhã, às 20h, e domingo, às 18h, é a vez de “Vídeos + Solos de Ascese + Receita de Bolo + União dos Opostos”, um programa que envolve a vídeo arte de Rodrigo Araujo, do Coletivo Bijari, dança, e a performance de oito bailarinos que apontam poeticamente na direção de uma reflexão sobre o desejo de ascensão, seus percursos, possibilidades e impossibilidades.
É de 29 a 31 de maio — sexta 21h, sábado 20h, e domingo 18h — que “Noiva Despedaçada” se revela. Iazzetta faz uma incursão na linguagem da dança, do teatro e da performance, numa sequência de ações físicas, para reconstruir um ambiente e refletir sobre as possibilidades do amor, da união e da existência. Para tanto, ele usa depoimentos e citações sobre o amor sublime, estilhaçando e desenvolvendo formas para investigar a potência da dinâmica da quebra e reconstrução.

PARA VER — “Noiva Despedaçada — Forma e Estilhaçamento”, de Ricardo Iazzetta. De hoje ao dia 24, e de 29 a 31 de maio, no TD — Teatro de Dança (avenida Ipiranga 344, em São Paulo). O ingresso custa R$ 4. Data, local e horários foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 2189-2557.

Beijos reconstruídos


Marcela Benvegnu

Contemplado pela quinta edição do Programa Municipal de Fomento à Dança da cidade de São Paulo, “O Beijo”, novo espetáculo da Cia. Nova Dança 4, estréia hoje, às 19h, no Sesc Avenida Paulista. O grupo propõe a criação de releitura subjetiva de obras de Nelson Rodrigues, Beckett e Poe, delineada no universo da dança de improvisação. Influenciada e inspirada pelo teatro, cinema e pela literatura, a Cia. apresenta uma obra aberta, com o intuito de conduzir o espectador por uma trama de mistério e poesia.
“O Beijo” é o segundo espetáculo da série-projeto Influência realizado pela Cia. Nova Dança 4 desde 2007, que propõe o aprofundamento da pesquisa de linguagem sobre gêneros dramatúrgicos. Algumas questões norteiam e instigam esta fase de estudo, como: qual é o eixo da história contada e a trajetória de cada personagem? Como se desenvolvem relações paralelas? Qual a relação de causa e consequência? Como o clímax é construído? E a condução do desfeche?
Influência Primeiros Estudos, de 2008, é o primeiro movimento da trilogia, que resultou de investigações dos filmes de suspense de Alfred Hitchcock e da apropriação corporal dos trabalhos realizados em parceria com os maiores profissionais da improvisação. Em “O Beijo”, os autores/roteiristas selecionados para estudo foram François Truffaut, Edgar Alan Poe, Samuel Beckett e Nelson Rodrigues.
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IMPROVISO —Desde seu surgimento, em 1996, a Cia. manteve como base de criação a improvisação cênica. “Nós já trabalhamos há muitos anos com a improvisação, sempre buscando a comunicação com a platéia. Uma vez conquistado o corpo capaz de sustentar a atmosfera de tensão do suspense e mistério que nos havíamos proposto, decidimos agora avançar mais um passo: unir a subjetividade da dança à narrativa ficcional do teatro e do cinema”, explica a diretora do grupo e uma de suas fundadoras, Cristiane Paoli Quito. “Com o projeto Estudos Dramatúrgicos para Influência da Improvisação, pretendemos aprofundar a investigação do enredo e realizar uma pesquisa de dramaturgia, a fim de sermos capazes de, a cada espetáculo, narrar uma história de ficção e compreender o percurso de cada personagem/intérprete”, conclui.
Em “O Beijo”, após apreensão das estruturas dos textos utilizados como base, o grupo desenvolveu um trabalho de elaboração e comunicação de histórias — não necessariamente lineares — no “aqui-agora” da improvisação. “A composição do espetáculo a partir de um fio condutor, uma mesma história preexistente em nossos corpos, nos dá liberdade para a construção de uma nova narrativa. O enredo e os personagens motivam e incentivam a pesquisa de movimento; o desafio está em construí-los em nossos corpos pela trilha da dança, uma dança teatralizada, sem cairmos no teatro dançado”, afirma Cristiane.
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PARA VER — “O Beijo”, com a Cia. Nova Dança 4. Estréia hoje, às 19h, no Sesc Avenida Paulista (avenida Paulista, 119). Os ingressos custam R$ 20 (inteira); R$ 10 (meia-entrada) e R$ 5 (trabalhador no comércio e matriculados). O espetáculo fica em cartaz no espaço até o dia 14 de junho, sempre às sextas, sábados e domingos, às 19h. Datas, local, horário e valores foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 3179-3700.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

MEMÓRIAS CONCRETAS

Marcela Benvegnu


Esse espaço completou 2 anos no dia 9 de maio!
Sim, a gente fez aniversário.
E para agradecer todos aqueles que dão uma passadinha semanal aqui, um agradecimento (desabfo) de verdade, que eu escrevi pós congresso de jazz dance.
Esse texto foi enviado somente para os professores que fizeram parte dessa história... E por insistência da Érika (Novachi)
e da Rose (Calheiros) e ele está sendo "espalhado" por aí.

Obrigada dança!



Memórias Concretas


A sensação de êxtase ainda não saiu do meu corpo, mesmo dias após o 1º Congresso Internacional de Jazz Dance ter terminado. Confesso, a minha respiração às vezes se descontrola. Pensei e fixei mesmo tudo o que eu senti e vivi naqueles quatro dias dentro de mim, e sei que essa sensação não vai mais sair e não adianta eu me perguntar por que me sinto assim.

Fiquei deste jeito, mais do que tocada, porque acho que tinha perdido o feeling do jazz... Os pliés, as coreografias, ou mesmo as seqüências das mais simples, às mais complicadas, ficaram sendo executadas por muito tempo no meu corpo. Dançá-las era algo difícil. E aconteceu de novo, da forma que eu aprendi quando só fazia isso.

Para isso tudo acontecer, eu precisei encontrar a Érika (Novachi) em janeiro de 2008, que acho que também precisava de mim naquele momento, para que o nosso sonho se tornasse concreto. A nossa dupla de opostos, ela contida, eu explosiva, ela tranqüila, eu nervosa, encontrou a paixão e o equilíbrio perfeito para o trabalho em dupla, que foi muito além de uma parceria. Depois do empurrão da Chris (a Mana) o trabalho se transformou em amizade verdadeira. Tenho a sensação de que a conheço há anos. E como a Rose disse, são encontros de outras vidas.

Desde as nossas primeiras reuniões, os primeiros e-mails, os primeiros olhares e risadas (a gente ri muito, e isso é maravilhoso), pensávamos no outro. Um outro que era, na verdade, o espelho das nossas ânsias e necessidades. Não foi a conta bancária em nenhum segundo que mudou o nosso foco, não foram as inscrições que nos surpreenderam que nos fizeram dar um passo maior do que a perna. Nós apenas desejamos, e o desejo se realizou: dar e promover a dança com amor.

Os quatro dias que vivemos, talvez sejam os mais intensos de dança que meu corpo se expôs até agora, foram uma das minhas maiores alegrias. O jazz é algo maior. Algo meu. Algo da alma, que transcende e se transforma em movimentos (doloridos até, porque no segundo dia eu não conseguia andar...).

Cada detalhe, da pulseira de acesso, ao jornal, a camiseta, a recepção. Tudo foi pensado. Tudo foi trocado. Eu e a Érika éramos uma única voz, um corpo, uma palavra, uma dança. O “sim” de uma, era o “sim” da outra. Por isso funcionou. O idioma falado é o do jazz.

A cada aula um aprendizado. Cada professor contribuiu com o seu melhor. Chris e sua musicalidade; Caio e seu musical; Sue e sua tradicionalidade; Érika e o seu lyrical; Cinthia e sua negritude, e Rose, com a sua dança única e inspiração. Inspiração que motivou e, sobretudo, transformou corpos amortecidos com a massificação de uma esfera chamada dança. Transformou almas que queriam dançar, apenas dançar.

E dançar não é pedir muito. Foi preciso dizer que o congresso do jazz e do amor, como caracterizou uma aluna, foi real. Foi tudo de verdade, por mais que eu ainda custe a acreditar. Tudo aconteceu mesmo por mais que pareça mentira. O clima foi de paz, por mais que a dança às vezes viva em guerra. A harmonia reinou na cidade, por mais que os grupos disputem uns contra os outros nos festivais. As pessoas foram amigas, se uniram para um pensamento. Dançaram nossa principal idéia.

Confesso que não sei porque estou escrevendo tudo isso. Talvez parte dessa sensação precise sair pelos dedos, encontrar as teclas do computador e se transformar em palavras concretas, sobre um evento concreto, sobre uma dança possível. Ainda mais porque eu trabalho com as palavras.

E como cada um, por menor ou maior, que tenha sido a participação do nosso evento, fez a diferença. Sem todos não teríamos como saborear cada lembrança agora.

Aprendi como é possível dividir e acreditar nesta idéia que eu e a Érika dançamos por um tempo sozinhas. Ela tomou vida, ganhou pernas, pés, corpo.

Cresce.

Obrigada!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Africanidade contemporânea

Crédito: Mediamania

Marcela Benvegnu


Considerada a melhor companhia africana de dança contemporânea, a Compagnie Georges Momboye chega ao Brasil precedida da unanimidade da crítica internacional. Criada em 1992, e com sede em Paris, a trupe chega ao país em junho para apresentar o espetáculo “Boyakodah”, de Momboye. A turnê, que passa por Juiz de Fora, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, chega ao Teatro Municipal de São Paulo nos dias 26, 27 e 28, e integra a programação cultural do Ano da França no Brasil — França.Br 2009.

Com uma formação inusitada, pois, além de dançarinos, a companhia reúne músicos e cantores originários de países como a Costa do Marfim, Camarões, Guiné e Senegal, o grupo é reconhecido mundialmente pela sua criatividade, que une a tradição da cultura africana a elementos da dança clássica, do jazz e do hip hop. O trabalho escolhido para ser apresentado no Brasil é “Boyakodah”. Com 11 dançarinos, um cantor e quatro músicos, a montagem, cujo nome significa felicidade em guéré — língua falada do oeste da Costa do Marfim — é, segundo o próprio coreógrafo, uma ode à vida.

Em cena, os bailarinos interagem com a cuia e o bastão do pilão, objetos que são símbolos sexuais da procriação, força e harmonia. “Este trabalho busca o equilíbrio entre corpo e alma, ritmo e silêncio, evocando a maior aspiração do homem pela felicidade e prazer”, explica o coreógrafo.
Formado em dança africana desde os 13 anos de idade, Georges Momboye deixou a Costa do Marfim para se aperfeiçoar com coreógrafos do porte de Alvin Ailey, Brigitte Matenzi, Rick Odums e Gisèle Houri, cujo acento contemporâneo influenciou definitivamente seu trabalho. Ao longo de seus 17 anos de existência, o grupo se consolidou como um dos mais importantes de dança africana contemporânea.
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HISTÓRICO — A primeira coreografia do grupo — “A Paz” —, foi encomendada pela Unesco e interpretada por 50 dançarinos, projetando internacionalmente o nome de Momboye. Na seqüência vieram trabalhos como “Adjaya”, “M’bah Yoro”, “Tahaman” e outros. O ecletismo do coreógrafo se traduz também nas recriações de clássicos como “A Sagração da Primavera”, de Stravinsky, e “Prelúdio à Tarde de um Fauno”, de Debussy.

Momboye criou em Paris, em 1998, o primeiro centro de danças pluriafricanas, onde desenvolveu uma linha pedagógica que fez escola e foi adotada na Europa, Estados Unidos, América Latina e Ásia. Em dezembro de 2005, estreou “Afrika Afrika”, espetáculo itinerante que reuniu mais de 100 dançarinos, músicos e artistas de circo em turnê pela Alemanha, Suíça e Áustria. Suas criações já foram apresentadas em grandes festivais como a Bienal Internacional da Dança, em Lyon; Santander Festival, na Espanha; no Sadler’s Theater, em Londres, e outros. Se quiser saber mais sobre a companhia vale entrar no site ladanse.com/momboye ou ver um trecho da apresentação no YouTube pelo endereço youtube.com/watch?v=GHzdZ5qlX6g.
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PARA VER — “Boyakodah”, de Momboye, com a Compagnie Georges Momboye. Dias 26 e 27 de junho, às 21h, e dia 28 de junho, às 17h, no Teatro Municipal de São Paulo. Os ingressos custam entre R$ 40 e R$ 80 e podem ser adquiridos no site ticketmaster.com.br. Datas, local, horários e valores foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 2063-5087.

Fragmentos de Vera Sala

Instalações criam ambientes que redimensionam e reorganizam as possibilidades corporais
Crédito: Rogério Ortiz

Marcela Benvegnu

Em continuidade à linha de pesquisa começada em 2003 com “Corpo-Instalação”, a coreógrafa e bailarina Vera Sala optou agora por uma nova proposta coreográfica intitulada “Pequenos Fragmentos de Mortes Invisíveis”, que pode ser vista até domingo, no Sesc Ipiranga, em São Paulo. A instalação, que foi contemplada pelo Programa Municipal de Fomento à Dança — 4ª edição, é parte do conceito de que um corpo só pode ser compreendido no ambiente em que vive e das relações e conexões que nele estabelece. A entrada é gratuita.
No trabalho, a bailarina e pesquisadora se propõe, por meio de suas instalações, a criar ambientes que redimensionem e reorganizem as possibilidades corporais. “É um espaço que se afeta continuamente por ser um espaço de relações que se alteram no fluxo de tempo”, explica Vera. “A instalação não deve ser encarada como um espetáculo. São organizações diferentes dessa pesquisa, onde uma determinada formulação adquire uma estabilidade para ser apresentada. É uma estabilidade temporária. A diferença do presente trabalho se encontra na formulação do ambiente criado”.
“Pequenos Fragmentos de Mortes Invisíveis” possui um caráter de obra em constante construção. De acordo com Vera, “a cada vez que alguém visitar a instalação, não verá exatamente as mesmas coisas. Ainda assim, existem qualidades de corpo e questões que permanecem”. Uma destas questões é o corpo esvaziado, foco da pesquisa. “É um esvaziamento pelo excesso. As diferentes formas de violência, implícitas e explícitas, esvaziam a ação do corpo”, afirma.
A cenografia, criada pelo arquiteto Hideki Matsuka, é composta por torres metálicas e semitransparentes, que criam uma espécie de labirinto de ilusões ópticas, com imagens que aparecem, somem e se reproduzem. “O público vai ocupar o mesmo espaço, não há uma separação de platéia. O espectador pode circular, escolher de onde quer observar o ambiente. Você não se senta simplesmente para receber uma informação, mas tem que estabelecer relações e conexões dentro daquele ambiente para poder usufruir daquilo”, afirma Vera.
O espaço cênico é complementado por uma instalação sonora, criada por Daniel Fagundes, e projeções de vídeo. Sons pré-gravados se misturam a ruídos captados ao vivo, todos reeditados por computador no próprio momento da performance. A sonoridade, dessa forma, modifica-se a cada dia: os microfones, pendurados no teto, captam sons do movimento do público e dos bailarinos. Quanto aos elementos pré-gravados, suas entradas são aleatórias e construídas na hora da ação.

Thank you, Dance!

by Judy Smith "