sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Vista a DANÇA da vida em 2009!


... Não achem estranho que depois de quase dois anos, "blogue" aqui neste nosso espaço um texto em primeira pessoa. Não escrevi antes por bobagem, por achar que o blog poderia ser descaracterizado com comentários ou mesmo dicas que fugissem da proposta inicial que é a de divulgar e de popularizar a dança.

Porém hoje, respondendo à um e-mail de uma figura querida da dança brasileira, pensei que se a dança é puro amor, e se que as palavras que escrevo aqui ganham vida pelos meus dedos por conta de um sentimento que me envolve, achei que era hora e de que poderia falar em primeira pessoa. E que talvez, esse tipo de texto seja lido e escrito por mim com mais frequência em 2009.

Não cuidei desse blog como deveria este ano (final de ano é sempre tempo de reflexões), porque aconteceram tantas coisas que eu deixei de noticiar para vocês... Se eu tivesse mais tempo... Se eu pesquisasse mais... Se... Se.... Mas agora nada de "se". Agora é o hoje, o amanhã e o depois. E a minha promessa para 2009 é a de um espaço que quebre a barreira crítica/leitor... As críticas continuam SIM, e até com mais aparições... Mas também teremos espaço para refletir outras coisas ligadas à dança... políticas culturais... editais... estréias... pessoas esquecidas (isso é muito importante).... gente que dança.... talentos ocultos.... E mto, mto, mto mais.

Entre o meu último post (que fala da montagem do Sandro Borelli inspirada em "Lago dos Cisnes" para o Balé da Cidade de São Paulo) e este momento de reflexão... eu ia postar mais um texto sobre o espetáculo do Studio de Dança Christiane Matallo, de Campinas, chamado "Dance Fashion Weekend", que tinha como tema a moda na dança. Não postei porque tive uma semana de folga no jornal e o texto ficou preso na minha máquina na redação. Eu poderia escrever outro, mas aquele tinha um poética toda especial.

Aqui também nunca falei do meu lado bailarina, das minhas "pisadas" no palco. Depois de "Pincel do Som" acho que nunca mais falei do sentimento de estar em cena. Pois eu estava no palco em "Dance Fashion Weekend" junto a companhia de dança da escola. Que prazer! Mas mais do que dançar com eles, figuras tão importantes e significativas na minha vida há anos, está a mensagem do espetáculo. Mensagem esta, escrita pela minha grande amiga e parceira Christiane Matallo, que eu deixo aqui para os meus leitores.

Que em 2009 você:

"Use chapéus de pensamentos leves, camisas soltas para a liberdade, calças que os leve para caminhos construtivos e sapatos duráveis para as estradas, com obstáculos, porém superáveis. Use roupas quentes que absorvam o frio e aqueçam o coração para sempre. Faça a sua moda. Vista a sua música. Solte as suas asas e dance mesmo sem saber dançar. Porque a dança é a passarela para vida".

Que em 2009 os nossos encontros sejam maiores. E que você leitor, também me ajude a tornar o "Tudo É Dança" um ponto de encontro para "vestirmos" informações e "criarmos" novos modos de olhar a arte.

Obrigada pela parceria!

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Um lago de lágrimas

Marcela Benvegnu

Quando se pensa em “Lago dos Cisnes”, a primeira imagem que vem à mente (no Brasil) é a da bailarina Cecília Kerche em sua interpretação sem igual. A leveza dos braços, a perfeição dos pés, a pureza dos figurinos brancos... Mas quem for assistir “Lago dos Cisnes?” — com interrogação mesmo — que o Balé da Cidade de São Paulo (BCSP) estréia hoje, 21h, irá se deparar com algo muito diferente. A convite do BCSP, o coreógrafo Sandro Borelli recriou o balé considerado um dos mais maiores de todos os tempos.
“Toda a idéia partiu das lágrimas dos cisnes do texto original, que acaba por formar o lago. Lágrimas surgem de uma emoção forte, seja de alegria ou de dor intensas. Escolhi investigar o sentimento de dor que está contido nessas lágrimas, como se tivesse em mãos uma lupa ou microscópio. E encontrei ali microorganismos, colônias de bactérias, que habitam essas lágrimas expelidas por causa da dor”, conta Borelli. Seres que abandonam o estado invisível a olho nu e ganham vida como bailarinos. “No fundo, o Lago original parte daí, ele é muito doloroso.”
Imagens do “Inferno de Dante”, primeira parte da obra de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, assim como uma canção composta por Bertolt Brecht e Kurt Weill, “A Balada da Menina Afogada”, que descreve o percurso de um corpo em decomposição até o fundo de uma represa, alimentaram a versão de “O Lago dos Cisnes?” de Borelli, que anteriormente coreografou “Lac”, baseado no repertório, para a companhia. “Não espero o estranhamento do público, mesmo porque estamos propondo uma pergunta. Jamais pensei em suplantar a genialidade da obra, mas de apresentar essa visão interior particular.”
Um cenário feito de tecido pintado, que se assemelha a paredes enferrujadas bem pesadas, foi pensado por Jean-Pierre Tortil para dar a impressão de estarem mergulhados em uma lata sobre a qual o público observa de cima. O figurinista Marcelo Pies acompanha o movimento do cenário e veste os bailarinos com camisetas e calças de cores escuras, no estilo tie-dye, que aparentam estar prestes à corrosão pelo excesso de sujeira.
Gustavo Domingues adiciona ruídos das profundezas de um oceano às músicas de Tchaikovsky, que serão tocadas ao vivo pela Orquestra Experimental de Repertório, regida pelo maestro piracicabano Jamil Maluf. Borelli também acrescentou à montagem um insight que teve ao observar bolhas formadas na beira do rio Tietê num dia quente, por causa da fermentação. “Não passa de um pântano formado por homens que tentam se salvar em meio à podridão.”
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PARA VER — “O Lago dos Cisnes?”, com o BCSP. No Teatro Municipal de São Paulo. Hoje, amanhã e segunda-feira, às 21h. Domingo, às 17h. Ingressos custam de R$ 5 a R$ 15. Data, local, horário e valores foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 3397-0327.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Para pensar a dança

Foto:: Denise Xavier
Legenda: A Quasar Jovem, de Goiânia, apresenta o espetáculo ‘Primeiros Movimentos’


Marcela Benvegnu

O tema do 2º Fórum de Dança Ourinhos, que discute os rumos da dança no país — e tem foco nas políticas públicas e responsabilidades sociais — termina domingo na cidade paulista. De caráter nacional, o evento é voltado à discussão sobre os caminhos da dança e à avaliação de diferentes formas de movimento. Em paralelo, oferece também ao público uma programação com apresentações de companhias nacionais e internacionais.

Ao longo da programação o fórum contou com pensadores da dança, das artes cênicas e da cultura brasileira, para promoverem os debates. Entre os presentes estavam André Sturm, coordenador da Unidade de Fomento da Secretaria da Cultura de São Paulo; Maria Lúcia Santaella, da pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Lúcia Camargo, presidente da Fundação Palácio das Artes, de Minas Gerais; Marcos Gallon, curador da Galeria Vermelho; Leandro Knopfhotz, curador/diretor do Festival de Curitiba; e Márika Gidali, diretora do Ballet Stagium, entre outras.

O evento teve como foco questões fundamentais. “Formação de platéia, interdisciplinaridade, responsabilidade social e políticas públicas”, apontou Cássia Navas, uma das mediadoras do evento. Os debates foram transcritos, documentados e editados para serem transformados numa publicação e um DVD, ambos com tiragem de 1.500 cópias, que serão disponibilizadas para bibliotecas, centros culturais e espaços de dança pelo país.

Na programação artística destacaram-se apresentações da Cia. Brasileira de Dança, do Rio de Janeiro; o DeAnima, também carioca; o grupo Raça, de São Paulo; além do Ballet Folclórico da Bielorússia e as companhias locais — Cia. Ourinhos de Dança, Cia. Experimental Ourinhos e Escola de Bailado de Ourinhos. Hoje o palco do Teatro Miguel Cury, às 20h, será ocupado pela Quasar Jovem, de Goiânia, com o espetáculo “Primeiros Movimentos”.

Amanhã — no mesmo horário e local — é a vez da Escola Municipal de Bailado, da Cia. Ourinhos, com “Mademoiselle Miroir”, e no domingo, a Escola do Teatro Bolshoi, de Joinville, traduz a fusão dos trabalhos clássicos e contemporâneos nos seus movimentos em “Chopiniana” e “Se Eu Te Contasse Meu Segredo”.
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PARA VER —2º Fórum de Dança Ourinhos. Hoje Quasar Jovem. Amanhã, “Mademoiselle Miroir”, e domingo, “Chopiniana” e “Se Eu Te Contasse Meu Segredo”. As apresentações acontecem no Teatro Miguel Cury (rua Nove de Julho, 496), em Ourinhos. Ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada). Mais informações (14) 3324-7848.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Em tempo de Natal

Crédito: Reginaldo Azevedo

Marcela Benvegnu

Há 25 anos a mesma cena se repete. O Cisne Negro Escola de Balé, junto a sua companhia de dança, montam em São Paulo, “O Quebra-Nozes”, obra do balé de repertório montada por Marius Petipa (1818-1910), com música de Pyotr Ilych Tchaikovsky (1940-1893). Porém, este ano, a montagem que entra em cartaz no Teatro Alfa, em São Paulo, entre os dias 11 e 21 de dezembro encerrando a Temporada de Dança do espaço promete.
Com o intuito de ressaltar o talento de artistas nacionais que atuam com grande sucesso no exterior, a diretora da montagem, Hulda Bittencourt convidou como solistas, Thiago Soares (primeiro bailarino do Royal Ballet, de Londres), Marcelo Gomes (primeiro bailarino do American Ballet Theatre, de Nova York), e Denise Siqueira (solista da Cisne Negro). A montagem também comemora os 31 anos de criação da companhia, que é sucesso de público e de crítica no Brasil e exterior. Além do elenco fixo da companhia e elenco contratado especialmente para esta produção, sobem ao palco do Alfa mais de 120 artistas.
A criação de “O Quebra Nozes” foi inspirada em uma adaptação francesa de um trecho do conto “Nussknacker und Mauserkonig” (“Quebra-Nozes e o Rei dos Camundongos”), de Hoffmann. Tchaikovsky se encantou com as colorações sinistras e fantásticas que envolvem a história e compôs a música para o balé. O resultado é uma obra repleta de fantasia e romantismo.
Encenado em dois atos, o balé conta a fantasia de Clara, uma menina que na noite de Natal ganha muitos presentes, mas se encanta de uma maneira especial por um deles, um boneco quebra-nozes. Quando todos vão dormir, Clara vai à sala para brincar com seu novo presente adormece e entra no mundo da fantasia. Os brinquedos ganham vida, dançam, lutam, viajam para o reino das neves e reino dos doces, onde Clara e seu príncipe são homenageados com danças típicas de vários países e com um gracioso pas-de-deux da fada açucarada.
Este ano a Temporada da Dança do Alfa recebeu espetáculos importantes do cenário da dança mundial como Cie. de Philip Decouflé, Grupo Corpo, Companhia Deborah Colker, Balé da Ópera de Lyon, São Paulo Cia. de Dança e Quasar Cia. de Dança.
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PARA VER — “O Quebra-Nozes”, com a Cisne Negro Cia. de Dança e convidados. De 11 a 21 de dezembro de 2008, no Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, 722), em São Paulo. Os ingressos custam entre R$ 40 e R$ 80. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 5693-4000.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Dinheiro bem investido / Crítica / São Paulo Cia. de Dança / Programa 2

crédito: João Caldas


Marcela Benvegnu

Quem assistiu a apresentação do Programa 2 da São Paulo Cia. de Dança, no último final de semana, no Teatro Alfa, em São Paulo, pôde ver três diferentes coreografias, que pouco dialogam umas com as outras. Talvez esse seja um bom diferencial quando a preocupação está em (in)formar sobre dança. O grupo trouxe ao palco "Les Noces", de Bronislava Nijinska (1891-1972), seguida da inédita "Entreato", de Paulo Caldas (1965), e "Serenade", de George Balanchine (1904-1983). O investimento não foi revelado, mas os R$ 13 milhões — muito questionados — que a companhia tem para investir (o que é bem diferente de gastar) estão sendo bem usados. Afinal, "comprar" os direitos de Nijinska e Balanchine, não é para qualquer um.

"Les Noces" é uma peça forte, assim como a música de Igor Stravinsky (1882-1971). Raramente executada por uma companhia de dança profissional a peça é dividida em quatro movimentos. A remontagem, assinada por Maria Palmeirim (1948), é bem executada, embora em alguns momentos as baterias de pés pareçam dissonantes. E a situação se evidencia por conta do figurino de Natalia Gontcharova (1881-1962), em que as bailarinas usam meias brancas e sapatilhas pretas. Impossível não notar.

Ainda nas pontas está a suavidade de Balanchine em "Serenade". O elenco, desta vez mais afinado — no sentido do físico e de execução —, convence. Os movimentos criados pelo gênio do neoclássico são precisos, tamanha a beleza das formas, do uso do palco, das poses, das colocações. Na remontagem de Ben Huys (1967) — atual ensaiador da The George Balanchine Trust — ainda falta um ‘Q’ de dramaturgia, mas isso é reflexo da linguagem, que só com mais trabalhos e tempo de vida a companhia poderá mostrar mesmo sem ter um coreógrafo residente.

ENTREATO — Entre Nijinska e Balanchine está "Entreato" — título também inspirado no filme "Entr’acte", de René Clair, do balé dadaísta ‘Relâche’ — de Paulo Caldas. Apesar de o coreógrafo acreditar que o trabalho não precisa ser explicado (ele fecha seu texto de apresentação no programa com a frase de Francis Picabia em que afirma ‘Relâche não tem significado... Quando perderemos o hábito de explicar tudo?") ele tem pontos interessantes a serem lidos. Em cena o corpo explica muitas coisas.

Os movimentos apresentam um fluxo contínuo, que de repente se dissolvem nos feixes de luz de Renato Machado. A luz é coadjuvante, ajuda a desenhar a cena que vai do orientalismo ao mais andrógino dos gestos. Um scanner de sensações. O figurino é casual, calças, blusas, vestidos e meias — comuns, mas pelo menos eles não estão descalços como a maioria por aí.Um vídeo projetado à direita do espectador realiza um diálogo e ao mesmo tempo um contraponto com a obra de Caldas. Paula Penachio é projetada de baixo para cima de sapatilhas de ponta e tutu. É como vê-la por baixo de um vidro e é a troca dos frames que desenha sua coreografia. Era possível explicar mais, mas o espaço entre o começo e o fim do movimento destas palavras termina aqui.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SPCD inicia Programa 2

'Serenade", de Balanchine
Crédito: João Caldas

Marcela Benvegnu

Depois de estrear com “Polígono”, de Aléssio Silvestrin, a São Paulo Cia. de Dança apresenta agora seu segundo programa, que inclui três peças representativas do repertório proposto pela companhia, marcado por diferentes momentos da história da dança. Dois grandes clássicos do balé do século 20: “Serenade” (1935), de George Balanchine (1904-1983), criado para ser o primeiro espetáculo apresentado pelo New York City Ballet, e “Les Noces” (1923), de Bronislava Nijinska (1891-1972), um dos marcos da incorporação do modernismo à dança; além de “Entreato”, concepção inédita de Paulo Caldas.

“Les Noces”, de Nijinska, sobre música homônima de Igor Stravinsky (1882-1971) é a mais importante criação da coreógrafa. Apesar do mote aparentemente trivial — um casamento tradicional de camponeses russos apresentado em quatro movimentos — o trabalho se constitui num marco de inovação artística, por sua peculiar geometria de movimentos e sua austeridade cênica. O balé original já foi executado por companhias como Oakland Ballet Company, Les Grands Ballets Canadiens, Joffrey Ballet e Ballet do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, entre muitas outras.

Já “Serenade” (1935) — que promete ser um dos maiores marcos da noite se bem executado — de Balanchine, sobre a música “Serenade for Strings in C, Op. 48” (1880), de Tchaikovsky (1840-93), foi criada pelo coreógrafo para o School of American Ballet e aborda a distinção entre o bailado em sala de aula e a dança sobre o palco. “Parecia-me que o melhor meio de fazer os alunos compreenderem a técnica de palco era lhes dar algo novo para dançar, algo que nunca tivessem visto antes”, explicou o artista em um de seus escritos. Com a série de exercícios e adaptações que esse trajeto formativo propunha, movimentos de riqueza inesgotável iam se organizando sobre a música de Tchaikovsky.

Serenade é, 74 anos depois de sua criação, uma obra ainda rica em proposições artísticas, um clássico consagrado no repertório internacional. Como Nijinska, o russo Balanchine, freqüentemente citado como o grande criador do balé moderno, explorou as questões formais impostas pela modernidade a partir do rigor clássico. Depois de se exilar no ocidente, em 1924, e juntar-se à companhia de Sergei Diaghilev (1872-1929), entrou em contato com artistas como Stravinsky, Prokofiev, Satie, Ravel, Cocteau, Chagall e Picasso. Com a saída de Nijinska, tornou-se, então com 21 anos, o principal coreógrafo do Ballet Russo de Diaghilev.
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NOVA CRIAÇÃO — A presença da criação inédita de Paulo Caldas — leia-se Staccato Dança Contemporânea — no segundo programa da São Paulo Cia. de Dança reitera a proposta artística da companhia, de congregar tradição e ruptura. “Entreato”, com música de Sacha Amback — composta especialmente — de alguma maneira prolonga elementos de uma procura recente: a continuidade dos fluxos de movimento associada habitualmente à coreografia de Caldas, agora, perturbada por falhas, angulosidades e reversões, enquanto as extremidades do corpo assumem novos usos. Cada um dos bailarinos que integraram o processo de montagem foi também um criador com a oportunidade de experimentar a diferença de sua mobilidade, a partir de uma matriz comum de movimento.
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PARA VER — São Paulo Companhia de Dança — 2º Programa com “Serenade”, “Les Noces” e “Entreatos”. Estréia hoje, às 21h, no Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, nº 722), em São Paulo. Ingressos custam entre R$ 30 e R$ 80. O espetáculo pode ser visto até domingo. Mais informações: (11) 3224-1380.

* A crítica deste espetáculo será publicada na semana que vem.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Moscow City Ballet no Brasil

Marcela Benvegnu

Fundado em 1988 por Victor Smirnov-Golovanov, coreógrafo e ex-primeiro bailarino do Ballet Bolshoi, com o objetivo principal de ser um dos baluartes do que considera uma das grandes heranças russas para a humanidade — a dança clássica — o Moscow City Ballet transformou-se, em apenas 18 anos, em uma das mais respeitadas companhias de dança do mundo. A trupe, que está no Brasil para uma turnê de clássicos de repertório, se apresenta em São Paulo, nos dias 3 e 4 de novembro, no Teatro Municipal de São Paulo, com “Cinderela”; e em Campinas, no dia 12 de novembro, no Centro de Convivência Cultural, com “O Quebra-Nozes”.

A companhia é fruto das reformas da Rússia pós-soviética e seu sucesso no exterior fez dela uma das que mais excursiona pelo mundo afora. Um detalhe importante, trata-se de uma empresa privada, que não recebe subsídios do governo. Smirnov-Golovanov considera o balé clássico como uma parte importante da herança nacional russa e quer levá-lo ao público mais amplo possível, especialmente à nova geração de jovens apaixonados pelo balé. Todas as produções do coreógrafo, assim como suas versões de antigos clássicos, compartilham de um estilo e idéias claramente definidos, mantendo sempre sua identidade coreográfica e estabelecendo altos padrões de apresentação.

A companhia conta com mais de 50 bailarinos. As primeiras bailarinas da companhia na turnê que vem ao Brasil são Gulmur Sarsenova, Maya Vishnyakova, Natalia Padalko e Valeria Guseva, e os bailarinos principais são Sergei Zolotarov e Talgat Kozhabaev.
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DIREÇÃO — Personalidade notável das artes na Ucrânia, Smirnov-Golovanov é natural de Moscou. Formou-se na famosa Escola Coreográfica e teve dentre seus professores nomes notáveis como Lavrovsky e Goleizovsky, assim como George Balanchine e Jerome Robbins. Posteriormente tornou-se solista do Balé Bolshoi, onde atuou por mais de 20 anos. Entre 1970 e 1989 foi mestre de balé principal do Teatro de Ópera e Balé de Odessa. Em 1988 formou o Teatro de Balé Clássico de Smirnov-Golovanov — o Balé da Cidade de Moscou —, com o objetivo de promover as idéias originais dos grandes coreógrafos do século 19.
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PARA VER — Moscow City Ballet. “Cinderela”. Dias 3 e 4 de novembro, no Teatro Municipal de São Paulo, às 21h. Os preços variam entre R$ 50 e R$ 150. “O Quebra-Nozes”, no Centro de Convivência Cultural, em Campinas, às 21h. Os valores do ingresso ainda serão definidos. Datas, locais, horários e valores foram enviados pelos organizadores. Mais informações mediamania.com.br.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A bem-humorada dança da Quasar

Marcela Benvegnu

Não foi só feito de dança o Circuito Sesc de Artes, que esteve em Piracicaba na quarta-feira. Assim que as pessoas chegavam para a apresentação de “Versus”, da Quasar Cia. de Dança, de Goiânia, eram recebidas por poesias de Hilda Hilst (1930-2004) — interpretadas por Renata Flaiban e Fabiano Assis — da Cia. Rodamoinho, de São Paulo, e até eram convidadas para recortar, desenhar e colar (atividade que muitos não fazem há anos) no projeto Riscos. O espetáculo foi uma conseqüência para muitos que estavam lá participando de outras atividades. Bailarinos mesmo, que precisam assistir dança, “niente”.

Henrique Rodovalho — criador da Quasar ao lado de Vera Bicalho — tem uma linguagem reconhecível no cenário dramatúrgico da dança. Seu mote são as atividades do cotidiano e, sobretudo, a comicidade dos atos que são levados para cena. Em “Versus” trabalho de 1994, que projetou a companhia no cenário internacional, isso pôde ser visto com clareza. É na música de Arnando Antunes — que compôs para o Grupo Corpo em 2000 — e nas composições do americano David Byrne que os bailarinos da companhia desenvolvem suas esquetes coreógraficas. Esquetes, sim, porque elas são capazes de comunicar pequenas mensagens e sensações.

O elenco é afinado. Os bailarinos têm um entrosamento evidente e as sequências — quando coreografadas — apresentam movimentos muito bem executados. O primeiro dueto (de rapazes) chama mais atenção pela força e sincronia dos intérpretes do que pela feminilidade apresentada por estarem usando saias. Prazeroso de olhar. Na segunda cena, o que está em evidência é o sexo, a masturbação. A música de Antunes é clara e diz: “A mais experiente é a mão”. Porém, ali, o mais experiente é mesmo o corpo. Depois o público se separa com situações fisiológicas, crença, festividades e outras atividades cotidianas (básicas) que se revelam como uma dança.

E por falar em público, que decepção! Não em números, pois milagrosamente a platéia estava lotada, mas em educação. A iniciativa de um professor em levar classes de adolescentes para um circuito de arte gratuito é fantástica, afinal, muitos deles nunca devem ter assistido a um trabalho de dança contemporânea. Mas é preciso saber se portar. E isso eles não sabiam. Os jovens dialogavam com a música de Antunes como se ele fosse um colega, gritavam quando viam um figurino mais ousado e até mesmo riam alto de determinados movimentos. Eles não são obrigados a gostar do que vêem (arte não é gosto), muito menos de entenderem o que é proposto, mas devem respeitar a obra e estar ali como público. Caso contrário, melhor continuar sem saber e ficar em sala de aula.

Movimentos e críticas à parte, a luz de “Versus” foi muito bem desenhada. Em um determinado momento da coreografia um bailarino pega um refletor na mão e passa a iluminar os outros. Isso não é nenhuma novidade, pode até ser um clichê que todos estão cansados de ver quando se fala dessa ‘tal’ dança contemporânea, mas “Versus” é um trabalho de 1994, ou seja, foi criado há 14 anos, quando a faceta poderia ser sinônimo de inovação. Como os trabalhos devem permanecer no repertório de uma companhia, nada mais justo do que atestar sua autenticidade.

Impossível não falar sobre o mérito da sobrevivência de uma companhia de dança fora do cenário Rio-São Paulo-Belo Horizonte. A Quasar está em Goiânia. E por lá se fixou e conquistou espaço, no Brasil e exterior — no mês que vem eles se apresentam na Alemanha, no evento da consagradíssima Pina Bausch. O que está por vir ainda é que não se sabe até quando a fórmula da dança contemporânea bem humorada de Rodovalho vai durar. O que se sabe é que seus efeitos são reconhecíveis. Não há como negar.

Ballet de Lyon transita entre Forsythe e Kylián

Marcela Benvegnu

No palco do Teatro Alfa — que completa dez anos de atividades em 2008 — entre os dias 23 e 26 de outubro estará uma das mais importantes companhias de todo o mundo, o Ballet de L’Opéra de Lyon. A companhia de dança francesa se apresenta com 30 bailarinos divididos em três coreografias de dois dos principais criadores do cenário mundial, William Forsythe e Jirí Kylián.
Com 30 anos de existência, a companhia apresenta um repertório de dança contemporânea rico na quantidade de coreografias e na variedade de estilos. Ao longo de sua história, abrigou marcantes coreógrafos residentes, entre os quais se destacam Maguy Marin (1992-1994) e Bill T. Jones (1994-1997). Suas releituras de grandes clássicos correram o mundo, como “A Gata Borralheira” e “Coppélia”, de Maguy, “Romeu e Julieta”, de Angelin Preljocaj, e “Quebra-Nozes”, de Dominique Boivin.
O repertório da companhia conta com coreógrafos europeus — Jean-Claude Gallotta, Dominique Bagouet e Tero Saarinen — e americanos — como Trisha Brown, Bill T. Jones, Lucinda Childs —, sem esquecer algumas das mais belas peças de Jirí Kylián, Mats Ek, William Forsythe, Nacho Duato e Ohad Naharin.
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PROGRAMA — O programa brasileiro da companhia conta com obras de expressão. “Duo”, de William Forsythe, “Symphonie de Psaumes” e “Bella Figura”, de Jirí Kylián. “Bella Figura”, de Kylián foi criada anteriormente para o Nederlands Dans Theater e posteriormente remontada para o Ballet de L’Opéra de Lyon. “Duo”, um trabalho para dois bailarinos, de Forsythe, também é uma remontagem e foi criada para o Ballet de Frankfurt em janeiro de 1996. A coreografia integra o repertório do Ballet de Lyon desde 2003. “Symphonie de Psaumes”, de Kylián, é uma montagem contemporânea para 16 bailarinos, com música de Igor Stravinsky.
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COREÓGRAFOS — Escolhido como o herdeiro “hard” de Balanchine, Forsythe deu à dança clássica seus signos de modernidade: desordenou-a e desestabilizou-a, desestruturando e dispersando os elementos coreográficos para reconstruí-los em um novo arranjo. Em seus espetáculos, a iluminação, a cenografia, a palavra, o vídeo entram em cena para fragmentar a visão, quebrar a linearidade do discurso e formar um ambiente que se move sem parar na direção de uma dança em desequilíbrio.
Já Kylián, que de 1975 a 1999 foi diretor artístico do Nederlands Dans Theater, é dono de um estilo enérgico e rigoroso de dança, com fundamentos em bases técnicas relativamente clássicas, sempre revisitadas de forma contemporânea. A escultura fluída do movimento de seus trabalhos é o traço imediatamente reconhecido e dominante de todas as suas criações.
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PARA VER — Ballet de L’Opéra de Lyon. No Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, 722), em Santo Amaro, São Paulo. De 23 a 26 de outubro (quinta, sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 18h). Os valor dos ingressos varia de R$ 50 a R$ 120. Mais informações (11) 5693-4000.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Broadway no Brasil

Cena de ‘Cabaret’, um dos musicais de ‘The Spirit of Broadway’
Crédito: Assessoria/Via Funchal

Marcela Benvegnu

Duas horas ao som de grandes canções, coreografias consagradas e musicais memoráveis. É isso e um pouco mais o que o público poderá conferir na montagem inglesa “The Spirit of Broadway”, que a Via Funchal recebe na semana que vem para comemorar seus dez anos de atividades. A escolha da montagem se justifica porque a história da casa de espetáculos com um grande musical da Broadway, o “Smokey Joe’s Café”, baseado em canções de Jerry Leiber e Mike Stoller.
“The Spirit of Broadway” — que tem apoio do Jornal de Piracicaba — é produzido pela Spirit International Artists — a mesma companhia responsável pelo consagrado Spirit Of The Dance que se apresentou no Brasil em 2000 — e já foi encenado em mais de 20 países e visto por mais de 15 milhões de espectadores.
No palco, o público brasileiro poderá assistir trechos de musicais como “A Chorus Line”, consagrado na década de 70 e um dos primeiros a popularizar o jazz dance; “Grease”, que eternizou a parceria entre John Travolta e Olivia Newton-John; “Mamma Mia!”, que virou filme e atualmente está em cartaz nos cinemas, estrelado por Meryl Streep e Pierce Brosnan; “Hello, Dolly!”, estrelado por Gene Kelly na década de 60; “My Fair Lady”, que foi remontado no Brasil no ano passado por Jorge Takla; e “Mary Poppins”, que está em cartaz na broadway nova-iorquina com ingressos esgotados para este ano.
Cenas de “A Bela e a Fera”, “Aladdin”, “Cabaret”, “Les Misérables”, “Evita”, “42nd Street”, “The Blues Brothers”, “Chess”, “Chicago”, “Cats”, “O Fantasma da Ópera”, “Saturday Night Fever”, “Copacabana” e “Rocky Horror Show”, também poderão ser vistas.
O elenco é formado por mais de 20 talentosos cantores, atores e bailarinos, escolhidos por um rigoroso processo de seleção. A maioria deles é oriunda de West End, a broadway inglesa. No espetáculo músicas de autores como Andrew Lloyd Webber, Tim Rice, Alan Menken, Barry Manilow, John Kander, Fred Ebb, The Bee Gees, John Farrar, Marvin Hamlisch, Alan Jay Lerner, Frederick, Loewe, e Abba.
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PARA VER — “The Spirit of Broadway”. Dias 20, 22, 23 e 24 de outubro, às 21h30; e dia 25, às 17h e 21h30, na Via Funchal (rua Funchal, 65), na Vila Olímpia, em São Paulo. Os ingressos custam entre R$ 70 e R$ 220. Mais informações em viafunchal.com.br ou (11) 3188-4148.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Bendita Dança

crédito: Ricardo de Oliveira

'Beneditas’ estreou em 1998 e desde 2001 ganhou versão solo pela bailarina Diane Ichimaru:
encontro entre as imagens e o sincretismo religioso


Marcela Benvegnu


O corpo da bailarina Diane Ichimaru, da Confraria da Dança, de Campinas, serve de suporte para o encontro entre as imagens e o sincretismo religioso de “Beneditas”, coreografia de dança contemporânea que será apresentada hoje, às 20h, no Sesc Piracicaba. O trabalho, que completa dez anos no próximo dia 18 de outubro e nesta remontagem ganha versão solo — antes Diane dividia o palco com a também criadora-intérprete Grácia Navarro —, integra a programação especial da 9ª Bienal Naïfs do Brasil. A entrada é gratuita.
Numa visitação às imagens, capelas, terreiros e sacristias, a bailarina passeia pelo palco, encontrando várias configurações da santidade feminina, como Imaculada Conceição de Maria, Aparecida, padroeira do Brasil, Nossa Senhora do Rosário, Iemanjá, e outras. “A concepção de ‘Beneditas’ foi baseada nas várias configurações que temos de Nossa Senhora e da proximidade do devoto com o Divino. No Brasil essa relação é muito forte. A gente até coloca o santo de castigo, não é mesmo?”, brinca Diane, em entrevista ao Jornal de Piracicaba.
A bailarina conta que sempre teve vontade de apresentar um trabalho com essa temática. “Minhas primeiras relações com encenação surgiram dentro dos ritos religiosos. Desde pequena eu acompanhava as procissões e quermesses, isso há mais de 40 anos. Sou de Bragança Paulista, e no interior do Estado isso é muito forte”, revela Diane. “Essa simbologia, aliada às cores e às encenações me interessaram sempre. Agora aliei a isso outras formas de sincretismo”, pontua.
A primeira versão da obra estreou em 1998. A segunda versão é apresentada pela Confraria da Dança, desde 2001. “Como a Grácia (Navarro) estava super ocupada com as aulas que ministra na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) ela não poderia voltar ao elenco do espetáculo. Aí ela me sugeriu que outra pessoa aprendesse a sua parte, mas achei complicado porque a temática é muito forte, a questão da religiosidade já estava incorporada. Assim sugeri a ela que adaptássemos para um solo. Ela me deu carta branca e fui para a sala de ensaios remontar ‘Beneditas’. Transformei algumas coisas e o trabalho ficou mais sintético”, fala Diane.
Segundo a bailarina, o trabalho corporal desenvolvido na cena é intenso. “A montagem tem duração de 40 minutos. Costumo dizer que os objetos em cena dançam por meio das minhas mãos e do meu corpo. Minha relação com as flores, imagens, tecidos e com a rotunda é grande”, afirma a intérprete.
CONFRARIA — Fundada em 1996 pelos bailarinos Diane Ichimaru e Marcelo Rodrigues, a Confraria da Dança se dedica à criação de espetáculos autorais, resultantes de pesquisa de linguagem e estética própria. No repertório atual, o grupo conta com “Beneditas”, “Território Interno”, “Carta Para Não Mandar ou Cantiga Interrompida”, “Relevo” e “Brinquedos e Inventos para Dançar”. Por meio do projeto Oficina/Montagem de Dança, a companhia trabalha os processos criativos com artistas e estudantes de dança, visando o aperfeiçoamento dos profissionais interessados e paralelamente a isso, desenvolve em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de Campinas a montagem e manutenção de um espaço cênico direcionado às atividades de dança contemporânea.
SERVIÇO — Confraria da Dança apresenta “Beneditas”. Hoje, às 20h, no Sesc Piracicaba. A entrada é gratuita, porém os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência na central de atendimento do Sesc. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações (19) 3437-9292.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Júri escolhe 20 bailarinos para compor a Cedan

Marcela Benvegnu

A Cedan (Companhia Estável de Dança de Piracicaba) já tem seu primeiro elenco de bailarinos definido. O júri — que esteve em Piracicaba há duas semanas para as audições — aprovou entre os 35 bailarinos que fizeram os exames da primeira fase, 20 nomes. As aulas serão ministradas pela diretora artística da Cedan, Camilla Pupa, em local e data a serem definidos. Uma reunião será marcada na próxima semana com os integrantes aprovados para estabelecer horários e normas internas de funcionamento.
Segundo Camilla, o primeiro trabalho oficial da companhia será um neoclássico — método criado por George Balanchine (1904-1983) que é uma extensão modernista do trabalho de Marius Petipa (1818-1910) — assinado por Eduardo Bonnis. “É importante dizer que as pessoas que não foram aprovadas para este primeiro elenco não estão descartadas da companhia. Elas serão chamadas em um segundo momento para a audição de um novo trabalho”, fala a diretora. “Fiquei muito feliz com o resultado e temos um ótimo elenco para começar os trabalhos”, disse Camilla.
A banca de seleção da Cedan foi composta por Eduardo Bonnis, que atualmente trabalha com a São Paulo Companhia de Dança e é um dos maiores especialistas na obra de George Balanchine no Brasil; Maria Pia Finócchio, diretora do Sindicato dos Profissionais da Dança do Estado de São Paulo e jurada do Dança dos Famosos, no programa do Faustão; Ady Addor, a única brasileira a ser a primeira bailarina do American Ballet Theatre, e Oderagy Magnani, que foi bailarino do Balé do 4º Centenário e do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, e está radicado em Piracicaba há três anos.
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NA COMPANHIA

Os alunos aprovados para a Cedan obtiveram nota superior a 6,5 nas avaliações. Os selecionados foram Ana Claúdia Magagnin, Bruna Dedini, Eleonora Stefani, Gabriela Cezarino, Leonardo Sandoval, Marcela Lacreta e Marcus Moretti, da Oficina da Dança (Piracicaba); Bruna Cristina Prado Rosa, do Estúdio de Dança Daniela Alonso (Limeira); Fernanda Ferreira e Luciano Henrique da Silva, do Clube de Campo de Piracicaba; Gisela Grolla Borges de Almeida e Natalia Delmondi (Corpo e Arte Ballet (Limeira); Mateus Lourenço e Monike Cristina de Souza, da Malosá Studio de Dança (São Paulo); Ricardo Moreira de Araújo, da Empório da Dança (Piracicaba); Rodrigo de Oliveira Machado, do Ballet Jussara Sansígolo (Piracicaba); Gabriela Trevisan, Ian Okamoto, Nina Queiroz e Pedro Henrique Sanches, da Escola de Dança Artes Paulista (São Paulo)

Palhaçadas e muito mais no ‘Trixmix Cabaret’

‘Trixmix Cabaret’ será apresentado dia 9, no espaço Eazy, em SP
Crédito: Flávia Fusco assessoria

Marcela Benvegnu

Consagrado no espetáculo “Varekai”, do Cirque du Soleil de 2002 a 2004, o número “Ne Me Quitte Pas”, criado por Claudio Carneiro, será apresentado em um palco distante do circo internacional. Na quinta-feira, dia 9, Carneiro estará no “Trixmix Cabaret”, no espaço Eazy, na Barra Funda, em São Paulo, às 21h30, para uma performance. O evento é um show de variedades, feito por artistas de várias vertentes, como os performáticos, circenses, humoristas e cantores, que se revezam em apresentações autorais de aproximadamente dez minutos.

Carneiro foi convidado pelo Cirque du Soleil para entrar em “Varekai”, depois de uma seleção em 2001. Decidiu não fazer apenas os números da companhia e mostrou o seu “Ne Me Quitte Pas”’. Convenceu o diretor a colocá-lo no espetáculo e, mesmo tendo se desligado da trupe em 2004, após uma participação no musical “Love” (também do Soleil) continua recebendo direitos autorais a cada vez que o Cirque apresenta seu solo. “É tudo como a minha filosofia como palhaço: mínimo de esforço, máximo de resultado. Eu sou um palhaço preguiçoso, essa é a verdade”, diz o ator.

De volta a São Paulo desde o início de 2008, Carneiro estrelou “A Noite dos Palhaços Mudos”, adaptação de obra do cartunista Laerte, que lotou os Parlapatões e recebeu quatro indicações na edição paulistana do Prêmio Shell. O ator também compõe o elenco de “O Médico e os Monstros”, ambos da premiada Cia. La Mínima.

Além de Carneiro, o Trixmix Cabaret conta com artistas do Circo Zanni, do Jogando no Quintal, Verônica Ned, Circo Delírio, Solas de Vento, Mariana Duarte, Zé de Riba, entre outros números cômicos e ousados. Para Emiliano Pedro, diretor-geral do Trixmix, o projeto é uma releitura dos cabarés europeus do início do século 19, atualizado ao cenário artístico brasileiro. Fundado no Brasil pelos performáticos Raquel Rosmaninho e Emiliano Pedro em 2007, o projeto acaba de ser contemplado com o prêmio Funarte de Fomento ao Circo.
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PARA VER — “Trixmix Cabaret” com a participação de Claudio Carneiro. Quinta-feira, dia 9 de outubro, às 21h30, no espaço Eazy (avenida Marquês de São Vicente, 1.767), na Barra Funda, em São Paulo. O espetáculo é recomendado para maiores de 18 anos. Os ingressos custam R$ 25. Mais informações (11) 3611-3121 ou trixmixcabaret.blogspot.com.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Borelli remonta ‘Jardim de Tântalo’


Marcela Benvegnu

O objetivo da Borelli Cia. de Dança entre os dias 25 e 28 de setembro, no Teatro de Dança, em São Paulo, é comemorar 11 anos de trajetória. Para isso optou por remontar “Jardim de Tântalo”, que reflete sobre a insanidade, sobre outro estado de segregação social, aquele em que se encontra quem não se ajusta aos padrões formais de comportamento.

A montagem faz parte do projeto Cantos Malditos, que tem como objetivo remontar e apresentar alguns dos espetáculos mais significativos do repertório da companhia, como “Senhor dos Anjos” (inspirado na vida e obra de Augusto dos Anjos), e “Bent, o Canto Preso” (da obra teatral de Martin Sherman). Neste projeto há ainda uma nova criação: “Che Guevara” (título provisório, inspirada na vida e obra de Ernesto Che Guevara).

“Jardim de Tântalo” é, na mitologia, um lugar em que, apesar de irreal, acontecem torturas e também no qual um personagem foi condenado pelos deuses a passar fome e sede por ter roubado seus manjares. Neste universo insano, as noções de tempo e espaço se apresentam completamente alteradas e, portanto, o real e o não-real confundem-se assombrosamente, a ponto de desencadear outro tipo de olhar, instaurando um elemento fascinante: o saber.

O espetáculo estreou no Centro Cultural São Paulo em 2001 e foi apresentado no Festival Internacional de Londrina. No elenco figuram Daniella Rocco, Edson Calheiros, Elisângela Ferreira, Elizandro Carneiro, Robson Ferraz, Vanessa Macedo, Roberto Alencar (bailarino convidado) e Mariana Costa (estagiária).

Os quatro trabalhos do projeto Cantos Malditos têm em comum justamente a investigação sobre o pensamento que resiste à massificação, que se contrapõe à transformação da vida em mercado e do ser humano em mercadoria e que trafega na contramão do mercado cultural.
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MAIS DANÇA — No dia 30 de setembro, às 14h, com coordenação de Uxa Xavier, terá início o Casa Aberta, novo programa do Teatro de Dança em que serão realizados encontros especiais voltados à formação e investigação da dança com aulas abertas, simpósios, debates, ensaios abertos programados por coletivos, universidades, grupos de estudos, pesquisa e curadores especiais. Na ocasião, os grupos selecionados no projeto Mapa Cultural Paulista (categoria dança), participam de vivências especiais e apresentam seus trabalhos, que são debatidos por especialistas. Entre eles estão o Grupo Faces Ocultas, de Salto, e o Grupo Camafeu, de Dracena.

A universalidade de Pederneiras


Marcela Benvegnu

A figura de Rodrigo Pederneiras, coreógrafo residente do Grupo Corpo, de Belo Horizonte, foi desvendada pelo jornalista Sérgio Rodrigues Reis em “Dança Universal — Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo”, de uma forma leve e convidativa. O livro, que acaba de ser lançado pela Imprensa Oficial e integra a Coleção Aplauso, narra a trajetória deste ícone brasileiro da dança contemporânea em 193 páginas de puro movimento.

O que mais chama a atenção na publicação é a forma da escrita. É Rodrigo quem conta em primeira pessoa e parágrafos curtos, sua história, que aliada às fotografias de época fazem com que o leitor divida com ele suas conquistas e glórias. Não é à toa e muito menos por acaso que o Grupo Corpo se tornou o maior fenômeno da dança contemporânea brasileira, já tendo se apresentado no mundo todo.

Reis é feliz quando diz que Pederneiras “moldou a música de Bach, Chopin, Villa-Lobos e Brahms. Conseguiu dar forma ao minimalismo das obras de Marco Antônio Guimarães e Philip Glass. Ajudou a lapidar a brasilidade das composições de João Bosco, José Miguel Wisnik, Tom Zé e personificou as influências urbanas de Arnaldo Antunes e a tropicalidade de Caetano Veloso (...). Fez mais: potencializou a emoção presente nas músicas, por meio dos gestos de seus bailarinos, deu alma a composições esquecidas, levou o público a chorar e a sorrir de emoção”.

Pederneiras imprimiu no Grupo Corpo uma gramática corporal própria. Movimentos que só o seu corpo poderia inicialmente produzir. Conseguiu criar uma matriz perfeita de grandes executores e com isso um idioma que só seus bailarinos conseguem expressar: uma dança de qualidade, que chega ao limite da perfeição proposta e também imposta pelo padrão da companhia.

Em “Dança Universal”, o leitor conhece aqueles que estão por trás de o Grupo Corpo e se depara com uma equipe coesa. O diálogo entre todos funciona por isso: Pederneiras tem espaço e autonomia para criar. Foi assim desde suas primeiras coreografias, como “Cantares” (1978), “Sonata” (1984), “Canções” (1987), “Missa do Orfanato” (1989), “21” (1992), até trabalhos mais recentes, como “Santagustin” (2002), “Leucona” (2004), “Onqotô” (2005) e “Breu” (2007).

Qualquer tipo de menção ou detalhe de sua história ficaria pequeno e sem valor se comparado à riqueza de informações de “Dança Universal”. Diferente daqueles livros biográficos, a publicação vai além e escreve sobre dança para um público leigo. Está aí o tão sonhado e famoso caminho para a formação pela informação. Acesso fácil tendo o prazer como resultado final.

A reinvenção da dança popular

Marcela Benvegnu

Com mais de 30 anos de estrada, o Balé Popular do Recife mudou a cara da dança pernambucana, abriu um amplo mercado de trabalho e, por meio da valorização da arte e dos artistas populares, aproximou a sociedade da sua própria cultura. Para comemorar essa trajetória de sucesso, o grupo montou um novo trabalho, que marca a reinvenção do balé em termos de linguagem. Intitulada “As Andanças do Divino”, a montagem poderá ser vista pelo público piracicabano hoje, às 20h, no Sesc Piracicaba, e integra a programação especial da 9ª Bienal Naïfs do Brasil 2008.

Com direção artística de André Madureira e roteiro de Antonio José Madureira mais conhecido como Zoca o espetáculo propõe um diálogo com o teatro de bonecos e outras vertentes da dança, e resulta em uma obra integrada, que apresenta a trajetória de Simão Maranduera, mestre mamulengueiro, que sai do sertão rumo ao litoral, encenando “A Paixão de Cristo” com seus bonecos; e também de Jesuíno, um típico nordestino, misto de ícones do messianismo brasileiro, como Antônio Conselheiro e Padre Cícero, com a figura de Lampião e do próprio Jesus Cristo.

O espetáculo tem como objetivo falar da luta apaixonada de mártires da história de Pernambuco e da cultura popular, porém afastando-se do perfil folclórico que caracterizou os primeiros trabalhos do Balé do Recife. Segundo André Madureira, esse espetáculo marca a reinvenção da companhia. “Demos um passo à frente na consolidação da linguagem brasílica da dança, que é uma metodologia própria desenvolvida pelo grupo. ‘As Andanças do Divino’ vem coroar essa pesquisa de passos, movimentos coreográficos e mímicos, mas agora representada de outra forma”, fala Madureira, em entrevista ao Jornal de Piracicaba. “O público poderá ver o xaxado, o frevo, o maracatu, o caboclinho, a ciranda, o coco de roda, o pastorio, e várias outras manifestações da cultura popular em um outro contexto de linguagem, mas sem perder a identificação.”

As “andanças” do balé durante esses 30 anos foram intencionalmente inseridas em alguns momentos do trabalho com o objetivo, segundo o autor e o diretor, de revisitar a trajetória e valorizar a memória cultural pernambucana. “Esse espetáculo está sendo pensado por nós desde 2003. Precisávamos renovar nossa linguagem e fundamentos e para isso houve muito estudo”, revela Madureira. “Meu irmão (Zoca) compôs a trilha sonora da peça e hoje posso afirmar que o Balé tem um grande trabalho em mãos. Estreamos em abril de 2008 com a sensação de missão cumprida”, fala o diretor, que se apresentou em Piracicaba há mais de 25 anos. “Acho que estivemos aí com o balé em 1981, quando fizemos uma turnê pelo Estado de São Paulo. Estou adorando a idéia de voltar”, diz.
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LINGUAGEM CONSOLIDADA
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O Balé Popular do Recife foi fundado no dia 20 de maio de 1977. Naquela época, o grupo era conhecido como Grupo Circense de Dança Popular e era composto por 12 bailarinos. O primeiro espetáculo montado foi o “Brincadeiras de um Circo em Decadência”, que logo conquistou o público e a crítica, acabando por levar a trupe de brincantes a um circo de verdade, armado no cais da Rua da Aurora: o Circo da Onça Malhada. E foi justamente nessa época que o grupo ganhou o nome de Balé Popular do Recife, batizado pelo então secretário municipal de Educação e Cultura, o escritor, jornalista e dramaturgo Ariano Suassuna. Em seus primeiros meses de existência, o balé contou com a subvenção da prefeitura do Recife, passando em seguida, e até hoje, a manter-se com recursos próprios.

O grupo tem como finalidade a preservação, divulgação, documentação e recriação dos autos e folguedos populares do Nordeste e em particular do Estado de Pernambuco. No decorrer de sua trajetória conseguiu catalogar mais de 500 passos de dança, além de criar novos. Centenas de bailarinos foram e ainda são formados por essa rede social, que instituiu um método próprio de trabalhar as danças populares, a metodologia Brasílica. Sendo assim, o grupo conquistou uma linguagem própria, que o diferencia de outros grupos de dança popular do Nordeste, inspirando ainda a formação de novas companhias de dança, como é o caso da Cia. Trapiá de Dança, Balé Brincantes, Maracatu Nação Pernambuco e Companhia de Arte da Cidade Alta de Olinda.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Piracicaba tem audição da Cedan

Ady Addor, um dos grandes nomes da dança, estará na banca de seleção

Marcela Benvegnu

Concentração e disciplina serão requisitos mínimos na audição da Cedan (Companhia Estável de Dança de Piracicaba), que acontece hoje a partir das 9h30, no Centro Cultural Antônio Pacheco Ferraz — Estação da Paulista. Isso porque os mais de 35 bailarinos inscritos passarão pelo crivo de alguns dos maiores nomes da dança brasileira. A banca de seleção será composta por Maria Pia Finócchio, diretora do Sindicato dos Profissionais da Dança do Estado de São Paulo e jurada do Dança dos Famosos no programa do Faustão; Ady Addor, que foi a única brasileira a ser primeira bailarina do American Ballet Theatre; Eduardo Bonnis, que atualmente trabalha com a São Paulo Companhia de Dança, e Oderagy Manhani, que foi bailarino do Balé do 4º Centenário, e está radicado em Piracicaba há três anos.
“Toda cidade deveria ter a sua companhia estável. Na Europa, toda cidade, por menor que ela seja, tem seu teatro, sua ópera e sua companhia de dança”, fala Ady. “A Cedan tem tudo para dar certo. Conheço o trabalho da Camilla (Pupa, diretora artística da Cedan) e acho que a companhia estará em boas mãos”. Ady enfatiza que a dança clássica merece e precisa de espaço. “Precisamos de mais companhias para que possamos dar emprego aos nossos bailarinos no Brasil. Piracicaba pode e deve ter a sua companhia porque público para isso ela tem”, fala a professora que também foi primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
“Buscamos para essa companhia o que há de melhor no trabalho da dança piracicabana. Acredito que iremos selecionar bailarinos que estejam a altura dos trabalhos que serão montados. É preciso uma boa técnica para a execução de balés de repertório e consequentemente outros balés”, avisa Maria Pia. “A Cedan é um passo para a profissionalização dos bailarinos da cidade de Piracicaba. O que o Sindicato dos Profissionais da Dança do Estado quer é que nossos bailarinos tenham emprego em suas cidades e possam dançar no Brasil”, justifica.
“Fiz questão de convidar esse júri especializado pessoalmente para a primeira banca da Cedan. São pessoas muito requisitadas no meio da dança. Piracicaba merece recebê-las”, fala a diretora artística.
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AVALIAÇÃO— A audição será dividida em três fases. A primeira será uma redação sobre história da dança; a segunda, uma aula de balé clássico, e após essa etapa serão anunciados os aprovados para a terceira fase, que é a apresentação de uma variação do repertório clássico. A lista final de aprovados será divulgada no dia 3 de outubro. Dirigida por Camilla Pupa, a Cedan tem como objetivo proporcionar a rotina de uma companhia estável para os aprovados e também mais experiência em dança. “Queremos que os alunos levem conhecimento para dentro de suas próprias escolas com as visitas programadas a outras companhias de dança, espetáculos diversos, aulas com profissionais renomados”, fala Camilla.
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PREPARAÇÃO — A bailarina piracicabana Monique Cristina de Souza,17, inscrita para a audição, vê na Cedan a chance de vivênciar uma companhia profissional. “Quero ser bailarina e sonho com uma carreira internacional. Acredito que se for aprovada vou poder experimentar outro tipo de rotina de aulas e estarei melhor preparada para o mercado de trabalho”.
Também na seleção estará a bailarina Gisela Almeida, 20, de Limeira. A jovem que faz faculdade de dança na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) diz que uma companhia profissional é o sonho de qualquer bailarina. “Se eu for aprovada não vejo problemas em vir para cá para integrar a companhia”, fala a bailarina.

Mariana Muniz une poesia e dança em "Rimas no Corpo"


Marcela Benvegnu

O projeto Sesi Dança chega ao final da edição 2008 — que contou com 12 espetáculos — este final de semana, com a apresentação da Cia. Mariana Muniz de Teatro e Dança, no Sesi Piracicaba. O público poderá assistir ao espetáculo “Rimas no Corpo”, que tem como objetivo revelar a poética do movimento por meio da dança e da poesia, hoje e amanhã, às 20h. Após a apresentação de
hoje acontece um bate-papo com Mariana Muniz, e amanhã, às 15h, um workshop. A entrada é gratuita.

Com concepção de Mariana e Cláudio Gimenez, “Rimas no Corpo” é um projeto de dança onde a poética do movimento é tecida pela articulação entre dança e poesia. As ações corporais se estabelecem em relação aos temas dos poemas, numa construção cênica que se caracteriza por uma estrutura narrativa feita de inserções, interrupções e colagem. O espetáculo se delineia a partir de experimentações, improvisações, confrontos entre intérprete, textos, espaços e ritmos.
“Temos poemas, texto, mas a prioridade do trabalho é o movimento. Não existe palavra sem movimento”, fala Mariana, que é a intérprete do solo.

A montagem estreou em 2003 e hoje ganhou ares de renovação. “Em 2003 entramos em um projeto do Centro Cultural São Paulo em que o trabalho deveria ter 17 minutos. Depois que o projeto terminou optamos por desenvolver mais a coreografia e colocar mais informação e dança
na proposta”, fala Mariana. “Na versão tínhamos uma trilha assinada por mim e pelo Gimenez com textos gentilmente cedidos pelo Arnaldo Antunes; nesta nova versão temos música especialmente composta pelo Ricardo Severo, que dialoga com quatro pequenos textos de ‘Dois Ou Mais Corpos no Mesmo Espaço’, de Antunes. Ficou muito interessante”.
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ARTISTA — Mariana nasceu em Pernambuco, onde começou seus estudos de dança clássica, e
formou-se no Rio de Janeiro pela Escola de Dança Clássica do Teatro Municipal. Em 1974 encontrou-se com Klauss e Angel Vianna e, desde então, dedica-se ao trabalho com a dança
contemporânea. Em 1983, trabalhou com Klauss, quando ele criou o Grupo Experimental do
Balé da Cidade de São Paulo, e dançou no Grupo Coringa, de Graciela Figueroa. Estudou em Nova
York nas escolas de Martha Graham, Mercê Maucouvert e estagiou na Cia. de Maguy Marin.
Mariana também participou de muitas produções importantes em teatro e recebeu os prêmios
APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor intérprete em dança com “Dantea”
(2000), melhor autora-intérprete em dança com “Paidiá” (1989) e revelação como coreógrafa em “Corpo de Baile” (1988).
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SERVIÇO — Sesi Dança 2008 apresenta “Rimas no Corpo”, com a Cia. Mariana Muniz de Teatro e Dança. Hoje e amanhã, às 20h, no Sesi Piracicaba (rua Luiz Ralph Benatti, 600) na Vila Industrial. Amanhã, workshop, às 15h. A entrada é gratuita para todas as atividades. A classificação é livre. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações
(19) 3421-2884.

sábado, 13 de setembro de 2008

As várias formas de ‘Polígono’ / Crítica - São Paulo Cia. de Dança

Foto: Gal Oppido


Marcela Benvegnu

Olhares atentos esperam os três sinais. Os convidados estão acomodados nas poltronas do Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo; a imprensa com máquinas fotográficas barulhentas, clica as personalidades; discursos de autoridades são proferidos, e finalmente, as cortinas são abertas. É a estréia da São Paulo Companhia de Dança, com “Polígono”, do italiano — radicado no Japão — Alessio Silvestrin, com colaboração de Ricardo Scheir e Maurício de Oliveira, sob a “Oferenda Musical”, de Johann Sebastian Bach (1685-1750), revisitada pelo grupo belga Het Collectief.

Polígonos são formas geométricas de igual número de lados e ângulos — traços que se encaminham para diferentes direções e cujo encontro compõe um corpo geométrico organizado e coeso. “Polígono” segue estrutura semelhante. O linóleo branco que evidencia os corpos e as sombras chinesas — muito usadas no trabalho — servem de espelho para que os corpos dos 40 bailarinos da São Paulo Companhia de Dança possam dialogar. O contraponto funciona, estabelece a relação ao mesmo tempo de concordância e discrepância entre as vozes musicais, com um mesmo motivo enunciado com variações de tempo e maneira.

As evidências são capazes de comunicar corpos treinados (para pouco tempo de companhia), que por vezes aparecem e desaparecem por meio de biombos, por um piscar de olhos, por uma troca de movimento musical ou mesmo de sapatilha. Em alguns momentos a expressão de uma ou outra bailarina nos obriga a reparar pequenas arestas deste quadrado quase perfeito, é um sorriso fora de sintonia aqui, uma risada dissonante acolá. Simples de recolocar. Aplausos à iluminação de Wagner Freire e Silvestrin, ela sim, foi além do esperado.

Silvestrin criou um trabalho cujas formas, retas e ângulos — que nos faz lembrar William Forsythe, coreógrafo com quem o italiano já trabalhou — feitos pelo corpo se aliam a uma leve torção de ombro ou mesmo inclinação de cabeça. Um excelente ponto de partida para uma companhia recente, que ainda deve firmar no cenário da dança brasileira sua gramática corporal. Melhor “Polígono” do que outro trabalho que apontasse comparações.

O figurino simples — elas de colant e eles de calça e camisa, sendo que todos têm as costas transparentes — evidenciou formas (algumas sinuosas) e compôs a proposta que também utilizou recursos de dança e tecnologia. Em um determinado momento, uma sombra chinesa revela outra imagem: o meio do palco é projetado de cima para frente, sendo que o público consegue ver tudo o que se passa por trás da tela. Nada novo, porém, bem colocado. Os movimentos limpos absorvem a dramaturgia de Bach — que diversas vezes é inevitavelmente mais forte — para revelar os quatro lados do corpo. O polígono se fecha para dizer que a São Paulo Companhia de Dança nasce com o pé direito, porém, a dança pede mais e para isso será preciso (e natural) esperar mais um pouco.


TRABALHOS — Criada para valorizar talentos brasileiros em janeiro deste ano, a São Paulo Companhia de Dança tem direção artística de Iracity Cardoso — que foi diretora artística do Ballet Gulbenkian de 1996 a 2003 e co-diretora de 1988 a 1993 — e direção adjunta de Inês Bogéa — crítica de dança do jornal “Folha de S. Paulo” de 2000 a 2007. Os próximos trabalhos da companhia, “Les Noces” (1923), de Bronislava Nijinska (1891-1972); “Serenade” (1935), de George Balanchine (1904-1983); e uma criação inédita do coreógrafo brasileiro Paulo Caldas, poderão ser vistos a partir de novembro, em São Paulo, João Pessoa, Belém e Curitiba.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Deborah Colker estréia ‘Cruel’

crédito: Flávio Colker

Marcela Benvegnu

“Cruel”, o nono espetáculo da Companhia de Dança Deborah Colker, segue seu próprio caminho, parte de uma história em pleno curso. No trabalho, Deborah Colker propõe um enigma: uma série aberta de elementos narrativos que só se completa com o olhar do espectador. Corpos em movimento que exigem a decifração, um novo jogo entre o acaso e a necessidade. Histórias ordinárias, daquelas que se repetem invariavelmente na vida das pessoas, e que envolvem amores, amantes, família, laços que atam e desatam. Histórias quase sempre cruéis, que podem ser vistas em cena a partir do dia 12 de setembro, no Teatro Alfa, em São Paulo.

“As histórias estão ali para serem apreendidas por cada um de um modo bem particular”, fala Deborah. É nos movimentos e na expressão dos 17 bailarinos da companhia que o grupo lança as peças do jogo, sem qualquer compromisso com a explicitação do sentido, mas sim com a exigência de sua produção. Mas está tudo na cena. Com o auxílio do diretor de teatro Gilberto Gawronski, os movimentos expressivos ganharam forma e intensidade.

O espetáculo se desenvolve em quatro principais momentos. No primeiro deles, há a preparação para um baile, com gestuais, situações e objetos da experiência cotidiana. Em seguida, um grande lustre redondo e rendado ocupa o centro do palco, e ao som Vivaldi, de Nelson Gonçalves ou mesmo das palavras leves e roucas de Julie London, a cena transcorre, em clima de reminiscências, o grande baile, com pas-de-deux, movimentos líricos e a lembrança viva dos romances nos grandes salões.

Aos poucos, pequenas transformações de climas e intensidades denunciam o curso do tempo. Toma lugar em cena uma grande mesa móvel. É em torno dela que se desenvolvem as relações familiares, os encontros e desencontros que marcam as mutações dos afetos. Com esse grande objeto em cena, Deborah mantém evidente uma constante em seu trabalho: a relação primordial entre espaço — e a interferência no espaço — e movimento. “É sempre o espaço que propõe para mim uma nova relação com os movimentos”, diz Deborah.

No segundo ato de “Cruel”, um jogo de grandes espelhos que se movimentam empresta um tom surrealista ao espetáculo. Fragmentos dos corpos atravessam as estruturas, pessoas se entremeiam e se confundem. Nesse cenário de reflexos e luzes, cada um está mais só e experimentando o acúmulo de suas histórias pessoais. “Em frente ao espelho é só você. E sua história se reflete na sua própria imagem”, enfatiza a coreógrafa. Sua nova aposta está no encontro entre o violento e o amoroso, o cruel e o sensível. Esse é também o encontro entre o lúdico e o trágico, o romance e a dor. O encontro entre pessoas.
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PARA VER — “Cruel”, com a Cia. de Dança Deborah Colker, no Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, 722), em São Paulo. De 12 a 14 e 17 a 21 de setembro (quarta, quinta, sexta e sábado, às 21h e domingo, às 18h). Ingressos custam de R$ 40 a R$ 90. Data, local e horário foram enviados pelos

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Na rota da seda

Crédito: Alceu Bett

Marcela Benvegnu

Com direção de Roseli Rodrigues, o Raça Cia. de Dança chega hoje, às 20h, ao Sesi Piracicaba, para apresentar “Caminho da Seda”. Inspirado na Rota da Seda — elo entre o Ocidente e o Oriente — o trabalho leva ao palco mais de 600 metros de tecido que se misturam aos movimentos dos bailarinos. Hoje, após a apresentação, acontece um bate-papo com o grupo. Amanhã, às 15h, a companhia oferece um workshop gratuito, e às 20h a montagem será reapresentada. A entrada é gratuita.
Com coreografias de Roseli, o espetáculo de dança contemporânea mostra a união entre as nações e as etnias por onde passava a Rota da Seda, que além de servir como rota comercial, também deu origem à transmissão de conhecimentos, idéias e culturas e foi palco de inúmeras histórias, batalhas e romances. “O trabalho estreou em 2002, no Festival de Dança de Joinville, e depois sofreu uma releitura em 2005, para o mesmo festival”, conta Edy Wilson, assistente de direção da companhia.
“O ponto de partida da montagem é a Rota da Seda, mas a pesquisa da Roseli (Rodrigues) foi buscar o lado humano e não político do fato. Ela tentou desenvolver as sensações, emoções e relações que a rota promoveu e também tentou transcrever a nós artistas e ao público esses mesmos idéias”, conta Wilson. Em cena estão 12 intérpretes — Andrea Spósito, Carolina de Sá, Danilo Francisco, Jhean Allex, Juliana Portes, Luana Espíndola, Luis Crepaldi, Anderson Couto, Priscila Ribeiro, Rafael Luz, Rafael Zago e Rony Dias — que usam os mais de 600 metros de tecido com fibra de seda, não como cenário, mas sim como elemento coreográfico.
A parte musical conta com arranjos de Fábio Cardia e músicas do duo australiano Dead Can Dance, da cantora israelita Ofra Haza e Greg Ellis. O projeto de iluminação é de Yves Christian, e concepção de figurinos e maquiagem assinados por Maurício Pina e Roseli Rodrigues.

HISTÓRIA — Fundado na década de 80, o Raça Cia. de Dança de São Paulo tem em seu repertório trabalhos assinados por renomados coreógrafos como Luis Arrieta, Ivonice Satie, Henrique Rodovalho e Roseli Rodrigues — coreógrafa residente. A itinerância dos workshops e espetáculos do grupo pelas principais cidades do Brasil tem como objetivo principal popularizar a prática da dança e favorecer a criação de platéias. Em 2001 e 2002, com o apoio da Funarte e do Ministério da Cultura, a companhia se apresentou em diversas cidades dos Estados de Minas Gerais e São Paulo.
Como convidada, realizou turnê pela Itália, incluindo as cidades de Roma, Terni, Salermo, Tagliacosa, Crotone, Enna, Calabicheta, Piazza Armería e pela Sicília. Em 2004, se apresentou em Portugal no 39º Festival de Sintra, e no ano seguinte foi convidada para a Noite de Gala do 23º Festival de Dança de Joinville. “Estamos muito felizes com a participação no projeto Sesi Dança. O público tem prestigiado em peso as nossas apresentações, fruto do reconhecimento do nosso trabalho”, atesta o assistente.


Sapateado internacional invade Campinas

JASON SAMUELS SMITH, PADRINHO DO FESTIVAL
Crédito: Eduardo Patino

Marcela Benvegnu

Sempre que o final do mês de agosto se aproxima, os sapateadores afinam suas plaquinhas para participarem do Brasil Internacional Tap Festival. Um evento de sapateado, organizado por Christiane Matallo, que visa criar um intercâmbio entre sapateadores e interessados pelo gênero no Brasil e mundo. A nona edição do evento, que acontece no Sesc Campinas, começou ontem e vai até domingo.
Este ano o festival recebe grandes estrelas internacionais do mundo do sapateado, como Jason Samuels Smith (EUA), que é diretor do L.A Tap Festival, de Los Angeles, e ganhador do Emmy Awards como coreógrafo. Smith é o padrinho oficial do Brasil International Tap Festival e ministra aulas em todos os dias do evento para os cursos adulto e infantil.
Também nesta edição do festival estão Dormeshia Sumbry Edwards (EUA), que participou de musicais, como “Black and Blue”; “Bring in Da’noise, Bring in Da’funk” e “Imagine Tap”; Lisa La Touche (Canadá), co-diretora da Cia. de Lane Alexander (Chicago) e Corinne Karon (EUA), que já sapateou em todos os continentes.
Entre os nomes nacionais figuram Mestre Sombra, da bateria da Mocidade Alegre; o contrabaixista Gilberto de Syllos, que acaba de lançar em quatro idiomas o livro “Técnica para Baixo Elétrico na Música Brasileira”; Leandro Barsalini, que é professor de bateria e rítmica no Departamento de Música da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a organizadora e diretora do festival, Christiane Matallo, recém-chegada da Alemanha. Durante a programação o público poderá conferir o CD “Tap Bass”, de Christiane e de Syllos, que é o primeiro CD de contrabaixo e sapateado lançado no Brasil. Os interessados podem adquirir a obra no estande da Só Dança.

ATIVIDADES — Dividido em quatro dias com uma programação intensa de aulas diárias, o evento ainda traz aos interessados em geral quatro atividades distintas e com entrada gratuita. Ontem, às 17h30, aconteceu uma Tap Jam, com a banda do contrabaixista Gilberto de Syllos. Hoje, às 20h, é hora de ver as plaquinhas se agitarem na apresentação dos grupos amadores, e amanhã, no mesmo horário, os sapateadores profissionais convidados (KS Cia. de Dança e Luizz Baldijão) e os professores do evento se apresentam na mostra dos profissionais. No domingo, às 17h, é hora de ficar antenado nas últimas tendências do sapateado no mundo com uma mostra de vídeos. As atividades são todas gratuitas.

AULAS — Se você não fez a sua inscrição para as aulas do festival, ainda dá tempo. Amanhã e domingo acontecem as aulas do curso iniciante/infantil, com Jason Samuels Smith, Corinne Karon e Lisa La Touche, além das aulas dos professores do curso adulto, para as quais também é possível se inscrever. Para saber mais sobre os valores das aulas e da programação acesse o site www.christiane-matallo.com.br

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Metro quadrado que dança

na foto: Tatiana Leskova e alunos da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil

Marcela Benvegnu

O Festival de Dança de Joinville terminou há pouco mais de 20 dias. Muito se ouviu e leu sobre os grupos premiados, companhias com propostas inovadoras, bailarinos que se revelaram. A mídia deu grande destaque para todos esses assuntos, porém, pouco se leu sobre os bastidores, sobre as pessoas que realmente fazem acontecer e, sobretudo, sobre os grandes nomes da dança que passam dias ministrando aulas para uma nova geração.
Eles estão por todos os lados, mas se encontram mesmo nas festas, que acontecem depois da Noite de Abertura, da Noite de Gala, ou da Noite dos Campeões. Esse ano, na celebração pós- Noite de Gala — depois da apresentação do “Dom Quixote”, com a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil e os solistas russos — oferecida pelo governador Luiz Henrique da Silveira, alguns desses nomes estiveram presentes.
Nas festas é que se encontra o metro quadrado mais dançante do festival. Isso porque os nomes não vivem soltos por aí. Um exemplo é Tatiana Leskova, 88, figura a parte na história da dança brasileira. Carinhosamente chamada de Dona Tânia, ela anda pelo corredores do Centreventos Cau Hansen como se estivesse em uma Olimpíada. Seus passos rápidos, são assim como sua voz. Ela fala o que pensa, a hora que quer independente se isso agrade ou não às pessoas. Autêntica e divertida. Vale a pena observá-la.
Mais do que acessível é Sylvio Lemgruber, coreógrafo do Dança dos Famosos e do balé do Faustão. Lemgruber prova com poucas palavras que todos podem dançar e que ele faz isso por amor. Nos dois últimos anos ele foi a Joinville para dar aula nos Palcos Abertos, e com o trabalho de popularização em dança, fez uma multidão de fãs e novos adeptos.
Pelo encontro também é possível ver uma Silvia Soter — crítica de dança de O Globo — solta e se deliciando com os hits da banda convidada. Roberto Pereira, crítico do Jornal do Brasil, conversa com um, com outro. Seu olhares não perdem nada. Imprescindível lembrar de Kika Sampaio e Christiane Matallo, uma dupla forte e imbatível do sapateado; Caio Nunes e Fernanda Batah Chamma, com a efervescência do jazzdance; Boris Storojikov e seu balé russo impecável, e outros.
Há dois anos toda a imprensa do festival era convidada para o ‘meeting’. Desde o ano passado o encontro passa perto do segredo. Convidados fingem que não são convidados. Quem sabe da festa e não foi convidado, finge que ela não acontece. Inexplicável essa seleção mais do que seleta. Vale dizer que em anos anteriores a ‘nata da dança’ comparecia em mais peso, porém, mesmo com esses percalços, o reduto de convidados ainda torna o evento o metro quadrado mais dançante (e importante) do país.

sábado, 16 de agosto de 2008

‘Traces’ chega ao Brasil

Crédito: Natasha Fillion

Marcela Benvegnu

Desde que foi fundada em 2002, na cidade de Montreal, a companhia Les 7 Doigts de La Main/7 fingers percorreu uma trajetória que pode ser considerada fulminante. Foram precisos poucos anos para estabelecer um currículo de apresentações celebradas em todo o mundo, passagens aplaudidas pelos principais festivais do gênero e uma coleção de críticas que celebram o inusitado mix de artes circenses e acrobacias tradicionais chinesas misturadas a esportes de rua — como basquete e skateboarding — piano, dança, teatro, humor e instalações visuais, apresentado pela companhia. Pela primeira vez a trupe chega ao Brasil, e traz aos palcos “Traces”, que poderá ser visto em São Paulo, no Citibank Hall, este final de semana e de 20 a 24 de agosto.
“Traces” é o espetáculo mais celebrado da companhia canadense. Com uma alta dose de energia e impacto visual, misturando acrobacias tradicionais com manifestações urbanas, a montagem é ao mesmo tempo poética e explosiva, bem-humorada e reflexiva. O trabalho reúne no palco uma trupe de amigos — Francisco, Raphael, Brad, Heloise e Will —, que se encontraram na adolescência e hoje representam o que há de mais moderno no mundo do circo contemporâneo, a nova geração daquela que é considerada a terceira onda do circo mundial, o Circo Urbano.
A montagem acontece em um momento imaginário em que a humanidade está à beira de uma catástrofe. Trancados em um bunker, os cinco personagens vivem seus últimos momentos, determinados a criar um antídoto para o desastre iminente usando todos os modos de expressão disponíveis para eles. Contando histórias de seu passado, dividindo experiências pessoais, eles vão se revelando ao público sob todos os ângulos possíveis para tentar deixar uma última marca pessoal neste mundo, os seus traços (traces, em inglês), antes de desaparecer. Uma mistura surpreendente, que não deixa o público se sentir indiferente em nenhuma parte do mundo.
Este ano o trabalho foi apresentado durante três semanas no Victory Theatre, em Nova York. Recebeu duas indicações e ganhou um dos principais prêmios do teatro norte-americano, o Drama Desk Awards.
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PARA VER — “Traces”. Hoje, amanhã e domingo e de 20 a 24 de agosto, no Citibank Hall (avenida Jamaris, 213), em São Paulo. Às quartas, quintas e sextas-feiras, às 21h30; sábados às 17h e 21h30; e domingos, às 16h e 20h. Ingressos custam de R$ 180 a R$ 60. Mais informações (11) 6846-6040.

"Médelei" é a atração do Sesi Dança

Crédito: Rogério Ortiz

Marcela Benvegnu

“Médelei — (Eu Sou Brasileiro (etc} e Não Existo Nunca)”, de Cristian Duarte, manifesto em forma de dança, que chega hoje, às 20h, ao palco do Teatro Popular do Sesi em Piracicaba, é um trabalho que versa sobre a auto-estima nacional. Com performance de quatro bailarinos, a coreografia desafia o público a consolidar uma noção do que é ser brasileiro e a discutir no corpo e no ambiente da dança contemporânea o grande totem dança-emoção-sentimento-espetáculo-performer. A montagem que integra o projeto Sesi Dança 2008 será reapresentada amanhã, às 20h. A entrada é gratuita.
De acordo com Duarte, que também sobe ao palco ao lado de Sheila Arêas, Tarina Quelho e Eros Valério, a idéia da montagem surgiu a partir da campanha do Governo Federal em 2004 (“Eu sou brasileiro e não desisto nunca”). O slogan provocou a inquietação do artista por estarem implícitas na frase, segundo ele, várias questões sobre a nacionalidade, resultando na temática sobre o Brasil.
Além disso, os bailarinos realizaram uma pesquisa sobre a auto-estima nacional e uniram as idéias do neurocientista português, Antonio Damásio, sobre sentimento e emoção. O espetáculo aborda, o nacionalismo, a identidade, e a idéia de típico, universal e clichês. Depois da apresentação de hoje, o grupo — que tem consultoria da crítica de dança Fabiana Dultra Britto — realiza um bate-papo com o público.
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WORKSHOP — Ação Médelei é o título do workshop gratuito que o grupo ministra amanhã, às 15h, no Sesi Piracicaba. Segundo Duarte, a idéia é a de experenciar alguns conteúdos abordados no espetáculo por meio da lógica médelei desenvolvida durante o processo criativo, que aborda o movimento como ação, promovendo uma discussão física e perceptiva das referências que permeiam nosso ambiente e repertórios pessoais.
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SERVIÇO — Sesi Dança 2008 apresenta “Médelei — (Eu Sou Brasileiro (etc} e Não Existo Nunca)”. Hoje e amanhã, às 20h, no Sesi Piracicaba (rua Luiz Ralph Benatti, 600), na Vila Industrial. O workshop acontece amanhã, às 15h. As inscrições devem ser feitas com antecedência pelo telefone (19) 3421-5680. A entrada é gratuita. Data, local e horário dos espetáculos foram enviados pelos organizadores.

Arte em Sua Vida é lançado


Marcela Benvegnu

As atividades do Instituto Arte em Sua Vida — entidade filantrópica com certificação de Organização de Sociedade Civil de Interesse Público — que desenvolve o projeto Criança Fazendo Arte, vem rendendo frutos. As 31 crianças, de 7 a 12 anos com baixa renda familiar, atendidas pelo projeto que ministra aulas de balé clássico, já estão fazendo apresentações. Uma delas acontece hoje, às 19h30, na Società Italiana di Mutuo Soccorso de Piracicaba — parceira do projeto — no lançamento oficinal do instituto. Na noite também figuram trabalhos do Studio 415 e da Oficina da Dança.
Divididas em duas turmas — períodos da manhã e tarde —, elas têm aulas com duração de uma hora e 30 minutos com profissionais especializados como Débora Zambello, Daniela Zambello e Camilla Pupa, recebem uniforme completo, lanche e vale-transporte. Presidido por Adriana Dedini Ricciardi, o instituto vê na realização do projeto o acesso direto à educação. “Temos o objetivo de formar as bailarinas e colocá-las no mercado de trabalho. A primeira apresentação das meninas aconteceu no evento De Portas Abertas, na Dedini Indústrias de Base, que é a patrocinadora do projeto. As meninas são filhas de funcionários da empresa”, conta Adriana.
“A apresentação delas foi um sucesso. Nos surpreendemos com a seriedade em que as crianças encararam a apresentação”, revela Tânia Lacreta, vice-presidente do instituto, que prevê a ampliação do número de crianças atendidas. “Nosso objetivo é o de atender 100 crianças, mas para isso precisamos de novas parcerias. Queremos que as empresas percebam que podem apoiar um projeto em que seus próprios filhos serão beneficiados, além de ter abatimento fiscal”, aponta.
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EDUCAÇÃO — Anteontem as bailarinas se apresentaram novamente. O palco desta vez foi o do Teatro Municipal “Dr. Losso Netto”, na “Grande Gala Piracicabana de Dança”, que lançou oficialmente a Cedan (Companhia Estável de Dança) de Piracicaba na cidade que tem direção artística de Camilla Pupa. As crianças apresentaram “A Bailarina”, de Daniela Zambello e Débora Zambello, e “Movimento Sincopado”, de Camilla. As coreografias serão reapresentadas hoje. “A apresentação no Teatro foi muito importante para todos. É preciso mostrar a sociedade o desenvolvimento técnico e artístico das crianças”, afirma Adriana.
A continuidade do projeto visa aulas de dança moderna, história da dança, higiene bucal, nutrição, arte e outras. Os alunos só podem faltar duas vezes ao ano sem justificativa e devem ir bem na escola. O custo que o instituto tem por ano com cada criança é de R$ 1.224. Aqueles que se interessarem em apoiar as ações do podem entrar em contato com as diretoras pelos telefones (19) 3434-0506 (Adriana) ou (19) 3434-9788 (Tânia).

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Desmundos: Hoje, no Sesi

Crédito: Gil Grossi

Com concepção e direção do coreógrafo Luis Ferron, o Teatro Popular do Sesi Piracicaba recebe hoje e amanhã, às 20h, no espetáculo “Desmundos”, da Cia. Mão na Roda. A montagem com interpretação de Hélio Feitosa e Ferron visa modificar o olhar do público sobre a deficiência física. A obra é uma das 12 selecionadas para integrar a terceira edição do projeto Sesi Dança em unidades do Estado. A entrada é gratuita.
“Desmundos” divide-se em dois momentos no que diz respeito ao seu processo investigativo. No primeiro, utiliza-se de telas dos pintores Otto Dix (Alemanha) e Egon Schiele (Áustria), ambos pertencentes ao movimento expressionista europeu, como fonte inspiradora para refletir e admirar a decadência corporal proposta pelos artistas. “No trabalho destaca-se uma dualidade poética que, por um lado apresenta corpos com características fora dos padrões estabelecidos, e por outro, a necessidade de vivenciar um novo olhar, romper paradigmas”, avalia o coreógrafo. Num segundo momento, um dueto desnudo — que conta com um cadeirante —, busca estabelecer um diálogo entre esses dois mundos corporais distintos.
Hoje após a apresentação do grupo acontece um bate-papo com os artistas, e amanhã, às 16h, no Sesi Piracicaba, um workshop com Ferron. O objetivo da aula é trabalhar os princípios básicos da construção do movimento como ferramenta de apropriação do corpo, sensível e expressivo, e propor os elementos investigativos utilizados no processo de construção de “Desmundos”. Só podem participar interessados acima de 16 anos.
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PROJETO — Fundada pela Secretaria de Cultura de Diadema, em 1999, o projeto Mão na Roda surgiu com o objetivo de atender a demanda de pessoas com deficiências, que atualmente recebem aulas de dança em diversos pontos da cidade. Idealizada e dirigida por Ferron, a companhia tem em seu repertório várias obras, como “Omaromar”, “Brasilitudes”, “Estranhos Corpos”, “Pô — Uma Trilogia Poética”, “Imagens”, e outras. Desde o início da sua formação, o grupo busca o aprofundamento na linguagem da dança por meio de um processo investigativo de dramaturgias corporais, resultando em pesquisas de criação cênica-coreográfica.
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SERVIÇO — Sesi Dança 2008 apresenta “Desmundos”. Hoje e amanhã, às 20h, no Sesi Piracicaba (avenida Luiz Ralph Benatti, 600). Amanhã, o workshop é às 16h. A inscrição é gratuita e as vagas limitadas. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações (19) 3421-2884.

Thank you, Dance!

by Judy Smith "