sexta-feira, 27 de março de 2009

Duato e Scheir: os novos da SPCD

"Ballo": a estréia
Crédito: João Caldas


Marcela Benvegnu


A São Paulo Companhia de Dança nasceu mostrando resultados. Mesmo sem sede fixa, com uma nova audição realizada para completar o elenco e projetos que envolvem professores e nomes da dança (o Figuras da Dança e o Corpo-a-Corpo, são exemplos disso), ela continua na estréia de trabalhos. Gostem ou não, talvez a companhia seja a única no país com um repertório tão grande e importante em pouco mais de um ano de existência. Aos olhos dos outros, cabe saber como esse tempo (e dinheiro) foi aproveitado e se a gramática corporal desses novos bailarinos já está mais evidente nas criações.

Considerações à parte, a São Paulo Companhia de Dança, dirigida por Iracity Cardoso e Inês Bogéa, estréia a partir desta semana, no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo, duas novas montagens, “Gnawa” (2005), de Nacho Duato (1957), e “Ballo” (2009), de Ricardo Scheir (1961), para marcar a abertura de sua temporada 2009. As coreografias se unem a “Serenade”, de George Balanchine, e “Les Noces” (1923), de Bronislava Nijinska (1891-1972) — trabalhos apresentadas pela São Paulo Companhia de Dança no ano passado — em dois programas.

Os trabalhos do primeiro programa, que vai de hoje a domingo, têm em comum a relação com rituais. “Les Noces”, parte da trivialidade, um casamento tradicional de camponeses russos, para criar uma geometria de movimentos que aliou a tradição do balé às vanguardas modernistas do início do século 20. Já “Gnawa”, de Duato, diretor da Compañía Nacional de Danza, da Espanha, é inspirada no universo étnico e religioso de uma confraria mística muçulmana do norte da África. De origem sub-saariana, os gnawa incorporam cantos às suas práticas espirituais, e Duato adota como base do trabalho, canções dessa comunidade.

No programa dois — de 2 a 5 de abril — “Serenade” (1935), de George Balanchine (1904-1983), criada inicialmente para os alunos da School of American Ballet, encontra ecos na nova criação de Scheir, “Ballo”, com música original de André Mehmari (1977). A composição teve como ponto de partida o tema de um madrigal de Claudio Monteverdi (1567-1643), “Ballo Delle Ingrate” (“Baile das Ingratas”). Na peça, Mehmari apresenta variações que remetem a diversos momentos da história da música e, assim, propõe um diálogo do antigo com o novo, do moderno com o arcaico. Da mesma forma, Scheir busca referências na obra de Monteverdi para tratar das relações humanas e de questões importantes para o homem de todos os tempos.

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PARA VER—
São Paulo Companhia de Dança. Temporada 2009. “Les Noces” e “Gnawa”. Até 29 de março. “Serenade” e “Ballo”, de 2 a 5 de abril. De quinta-feira a sábado, às 21h, e aos domingos, às 19h, no Teatro Sérgio Cardoso (rua Rui Barbosa, 153). Ingressos custam entre R$ 10 e R$ 20. Data, local e horários foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 3288-0136.

terça-feira, 24 de março de 2009

Cia. Druw apresenta ‘Corpoético’ no Municipal

crédito: Arnaldo Torres

Marcela Benvegnu


Em cena, o corpo é levado pelo jogo do acaso estruturando um estado de plena composição lírica. A movimentação cria ambientes, situações, imagens e dinâmicas baseadas nas poesias. Na união de todos esses contornos instala-se “Corpoético”, espetáculo de dança contemporânea da Companhia Druw, de São Paulo, que sobe ao palco do Teatro Municipal “Dr. Losso Netto”, hoje, às 20h. Antes, às 10h, na Sala 2 do Municipal, o grupo ministra um workshop. As entradas para as atividades são gratuitas.
Com direção da consagrada Miriam Druwe, a coreografia busca a linguagem poética no corpo que dança. “É a busca de um estado de prazer pleno em brincar com a construção da palavra corporal, guiado por simples impulsos”, fala Miriam. “Todas as nossas emoções e vivências ficam registradas no nosso corpo e refletem no outro uma experiência. Essas relações nos permitem criar imagens internas. É como se eu estivesse tranqüila por fora e fosse invadida por um turbilhão de pensamentos. Chamo esse processo de dinâmicas internas, que variam de um estado para o outro. O trabalho foca isso”, aponta a coreógrafa.
A montagem, que também usa recursos multimídia, permite que o público possa ter a experiência de olhar o corpo de diferentes ângulos. “Temos algumas projeções e em alguns momentos filmamos partes do nosso próprio corpo. São cenas que o público não vê. Estados desse corpo que dança. Uma outra história com todas as suas possibilidades”, fala Miriam.
O trabalho reflete também de forma lúdica e divertida sobre a questão do corpo feminino que se sujeita aos rigores de uma moda que o afasta cada vez mais de sua essência e vive o caos de querer ser outro corpo. “O cabelo que se pinta, alisa, enrola. Os seios que crescem, as rugas do tempo, o aumento do peso, ou seja, um corpo perdido de sua autêntica poesia”, completa a coreógrafa que divide o palco com Adriana Guidotte e Tatiana Guimarães.
Inspirado em “Corpo-Tempo-Espaço”, de Cecília Meirelles, e “Necrologia dos Desiludidos de Amor”, de Carlos Drummond de Andrade, “Corpoético” é um trabalho de 2006, que retornou aos palcos no ano passado. “Montei em 2006 logo depois de ter meu segundo filho. O tive com 40 anos e tenho uma menina de 19 anos. Sempre achei que teria outro filho. Era uma sensação. ‘Corpoético’ trabalha essas sensações que se instalam no nosso corpo e vão sendo transformadas com o tempo”, fala Miriam. “Agora somos os mesmos corpos em cena, modificados pelas nossas imagens, pelo tempo e por outros registros. É interessante vivenciar isso novamente”, revela Miriam.
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WORKSHOP — Expansão do Movimento com Cia Druw é o nome do workshop que o grupo ministra hoje, às 10h, na Sala 2 do Municipal. O objetivo da aula é possibilitar ao corpo que ele desenvolva qualidades de movimentos que contribuam de forma efetiva na formação do bailarino intérprete-criador. A estrutura é baseada em estudos práticos da arquitetura desse corpo em movimento, no tempo e no espaço, de forma a ampliar o repertório do bailarino. “O estudo técnico aqui se refere às possíveis evoluções que esse corpo seja capaz de executar de forma segura e consciente, ampliando seu domínio e potencializando sua expansão”, fala a coreógrafa.

COREÓGRAFA — Miriam Druwe é uma importante coreógrafa da cena contemporânea brasileira. Integrou como intérprete algumas das principais companhias nacionais, como o Balé da Cidade de São Paulo, Cisne Negro Cia. de Dança, República da Dança e Cia.Terceira Dança. Trabalhou com coreógrafos de renome como Luiz Arrieta, Ana Mondini, Vitor Navarro, Vasco Wellemcamp, Gigi Caciulenou e Phillip Tallard. Participou como intérprete dos espetáculos “Mucho Corazon”, “Alma em Fogo” e “O Bailado do Deus Morto”, de José Possi Neto, e coordenou diversos projetos na área de dança e literatura. Já coreografou para a Distrito Cia. de Dança, de Ribeirão Preto; Cia Stacatto, de São Caetano, entre outras

Quanto pesa o público?


Marcela Benvegnu

A Cia. Corpos Nômades estréia hoje, às 21h, no O Lugar — sede do grupo — em São Paulo, o espetáculo “Hotel Lautréamont — Os Bruscos Buracos do Silêncio”, que foi contemplado pelo 4º Programa Municipal de Fomento à Dança. Com coreografia e direção de João Andreazzi, a montagem explora todo o espaço cênico do local de forma itinerante e participativa. A entrada é gratuita.
No hotel o público é recebido por camareiras e encaminhado à pesagem, onde os bailarinos, com grandes rabos de cavalo, estão de prontidão. A somatória do peso da platéia é utilizada em cena posteriormente e toda a coreografia traz um universo surreal e instigante ao público que assiste o trabalho caminhando pelo espaço e bem perto dos intérpretes. Frases saem das bocas das personagens de variadas formas: ora roendo unhas, pelo microfone, ou soprada boca a boca. Formas de animais surgem na cena, unindo corpos e expressões. As cores, a iluminação e a sonoplastia trazem um ar sombrio de antigos hotéis, como os que o Conde de Lautréamont costumava se hospedar para escrever suas histórias.
João Andreazzi e a Cia. Corpos Nômades se inspiraram na obra de Isidore Ducasse, que adotou o pseudônimo de Conde de Lautréamont para escrever “Os Cantos de Maldoror” — escrito entre 1868 e 1869. Nascido no Uruguai, o autor morreu misteriosamente em 1870, desconhecido, aos 24 anos, em Paris. No elenco do trabalho estão Aldiane Dela Costa, João Andreazzi, João Pirahy, Mariana Mantovani, Ricardo Silva e Tiago Teles. Para a montagem a companhia teve assessoria poética e dramatúrgica de Claudio Willer.
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PROCESSOS —Todos os trabalhos da Cia. Corpos Nômades buscam experimentar as amplas possibilidades de atuação cênica corporal, envolvendo múltiplas linguagens além da própria dança contemporânea, como teatro, vídeo-arte, música, literatura e instalações performáticas. O objetivo da companhia é atuar na formação, criação e na difusão das artes cênicas contemporâneas. Em nove anos anos de atuação a Corpos Nômades recebeu alguns prêmios significativos como o da Associação Paulista de Críticos de Arte 2000, Funarte — EnCena Brasil 2002, Rumos Itaú Cultural Dança 2003, Prêmio Estímulo à Dança 2004, Associação Paulista de Críticos de Arte 2005, 1º Programa Municipal de Fomento à Dança de São Paulo 2006, Funarte Klauss Vianna 2007 e 4º Programa Municipal de Fomento à Dança de São Paulo.
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PARA VER — “Hotel Lautréamont — Os Bruscos Buracos do Silêncio”, com a Cia. Corpos Nômades. Estréia hoje, às 10h, em O Lugar (rua Augusta, 325), no Centro, em São Paulo. A temporada vai até o dia 26 de abril. Às sextas e sábados, 21h, e aos domingos, às 20h30. A entrada é gratuita. Mais informações (11) 3237-3224 ou www.ciacorposnomades.art.br.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Stacattosp estréia “Dispnéia 33 33 33”



Marcela Benvegnu

Depois de assistir ao espetáculo “Suíte Funk” em Piracicaba este final de semana e descobrir um pouco mais sobre as relações da dança contemporânea com outras esferas, que tal ir a São Paulo para assistir “Dispnéia 33 33 33”, de Fernando Machado, com Stacattosp Cia. de Dança, no Centro Cultural São Paulo? A montagem, que fica em cartaz no espaço até o dia 29 de março, às sextas e sábados, às 20h30, e aos domingos, às 19h30, dialoga dança contemporânea com poesia. A entrada é gratuita.
Em “Dispnéia 33 33 33”, as palavras podem ser bonitas, feias, cheias de signos, significantes ou significados, novas ou velhas, de acordo com a interpretação subjetiva do espectador. Poesia e dança numa métrica perfeita desenvolvida por movimentos executados de forma milimétrica. O escopo de fundo é, por derradeiro, um corpo fragilizado que criou poesia que inspirou a dança de outros corpos. É poesia mobilizando corpo, corpo gerando poesia-dança. A trilha sonora do espetáculo foi especialmente composta pelo músico Loop B, que recentemente compôs trilha para a Companhia de Dança de Diadema.
Fundada em 2001, por um grupo de mulheres formadas pela Fundação das Artes de São Caetano do Sul, a companhia se mudou para São Paulo em 2006, e a contar com a direção de Fernando Machado. O coreógrafo atuou como intérprete na Druw Cia. de Dança, Grupo Caleidos, Cia. de Danças de Diadema (de 1997 a 2008) — na qual foi também professor e coreógrafo — Raça Cia. de Dança, Watt’s Cia de Dança.
No elenco da obra estão Paula Sanchez, Aline Proetti, Maitê Molnar, Paula Sanchez, Silvia Martins e Vanessa Pinto. O espetáculo conta com a participação especial de Philippe Iwantschuk.
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COMPANHIA — Veículo de expressão artística de pesquisa em dança contemporânea, a Stacattosp Cia. de Dança desenvolve uma técnica particular e instaura projetos de pesquisa e de formação, sempre com o propósito de unir teoria e prática no desenvolvimento da dança buscando uma proposta estética própria e diversa.
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PARA VER — “Dispnéia 33 33 33”, de Fernando Machado, com a Stacattosp Cia. de Dança. Até dia 29 de março, no Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 1000), no Paraíso, em São Paulo. As apresentações acontecem às sextas e sábados, às 20h30, e aos domingos, às 19h30. Recomendado para maiores de 12 anos. A entrada é gratuita. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 3397-4002.

Suíte Funk: retrato da rua

Companhia Urbana de Dança, do Rio de Janeiro, no espetáculo coreografado e dirigido por Sonia Destri / Crédito: Viazeen Xavier


Marcela Benvegnu


O retrato da rua em forma de dança urbana. A fórmula conhecida do hip-hop aliada à sofisticação e pesquisa dos movimentos de dança contemporânea. Uma “Suíte Funk” protagonizada pela Companhia Urbana de Dança, do Rio de Janeiro, que retrata, em diversos ritmos de rua, a rotina das vidas de seus integrantes que vivem nas favelas e subúrbios da cidade. Apresentado na 25ª Bienal de Dança de Lyon em 2008, o trabalho chega aos palcos piracicabanos amanhã e domingo, às 20h, no Sesi Piracicaba. “Suíte Funk” é um dos 13 espetáculos selecionados para integrar o circuito Viagem Teatral 2009 do Sesi São Paulo, promovido pela entidade em todo o Estado. A entrada é gratuita.
Coreografado e dirigido Sonia Destri, a montagem mistura passos de hip hop, funk, capoeira e samba, sem abandonar a contemporaneidade. Para ela, o objetivo da apresentação é mostrar o Rio de Janeiro de um ponto de vista múltiplo, de quem vive nos subúrbios, nas favelas, na linha de risco. “Suíte Funk é uma construção fragmentada, um olhar dos integrantes da companhia sobre a cidade em que cresceram, ao som dos ritmos da rua”.
O trabalho nasceu por conta de algumas pesquisas de investigação do corpo da coreógrafa. “Quando nos apresentamos em Lyon em 2006, recebemos o convite para 2008. Assim eu deveria montar um novo trabalho. Em 2007 recebi um prêmio de residência coreográfica do Sesc, e ainda estava em busca de uma idéia. Foi quando eu coreografei um baile funk para o filme ‘Maré Nas Histórias de Amor’. Achei que a idéia poderia vir do funk, que é uma coisa clássica e ao mesmo tempo violenta do Rio de Janeiro. Achei que era um retrato interessante”, aponta a coreógrafa.
Porém, com o passar do tempo ela encontrou dificuldade. “Eu queria falar do universo de uma manifestação cultural e, sobretudo, carioca, mas achei que tinha que trazer um pouco do universo da dança contemporânea para eles. Assim o trabalho virou uma suíte. E enquanto eu não tiver patrocínio para criar outras coisas, continuarei falando do Rio de Janeiro. Não é algo bairrista, mas é onde lido com um universo íntimo e isso facilita a minha vida. É uma zona de conforto grande para a minha dança”, fala Sonia.
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FORMAS DE OLHAR
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A Companhia Urbana de Dança é formada por um grupo de jovens moradores de áreas populares na capital fluminense. Na companhia, os integrantes têm contato com um espaço de expressão artística, socialização e formação, no qual suas experiências e idéias são incorporadas como material de criação. O currículo do grupo acumula diversas participações especiais em filmes, programas de TV, campanhas publicitárias e desfiles como Fashion Rio e Fashion Recife.
“A minha relação com a companhia, que já tem cinco anos, surgiu de forma natural. Ela foi estabelecida com negros da favela, que ensaiavam comigo depois das 23h, quando tínhamos uma sala livre para ensaios. No começo eu não sabia o que ia acontecer, mas depois que eu vi o resultado não pensei duas vezes em continuar. Não abro mão deles. As pessoas são preconceituosas e eu quero provar para essa rapaziada que eles fizeram uma escolha bacana. Que a dança pode mesmo transformar a vida deles e que eles têm que ser grandes protagonistas da história e não somente dos textos bonitos, que falam de uma relação de pertencimento que eles declamam em ‘Suíte Funk’”, revela a coreógrafa.
Sonia vem de uma escola de dança eclética. Fã da coreógrafa alemã Pina Bausch e do coreógrafo francês Maurice Béjart (1927-2007), com experiências em teatro e TV — ela foi diretora do núcleo de dança da TV Manchete — Sônia descobriu essa dança urbana na Europa. “Eu dava aulas de dança contemporânea na Alemanha e conheci um americano que me mostrou uma movimentação desconhecida do movimento hip-hop de periferia. Era algo mais urbano. E eu brinquei com isso por um tempo, acabou que entrou no meu corpo. A dança urbana me deu leveza, felicidade e a contemporânea o amor”, revela.
A coreógrafa conta que os jovens da companhia — André Feijão, Clayton Hilário, Cleber Hilário, José Amilton Junior, Junior, Miguel Fernandes, Raphael Russier Felipe, Ruy Chagas Junior e Tiago Souza — sempre estiveram abertos aos movimentos propostos por ela. “Quando eles vêem a palavra entrar no corpo, muda tudo. Quero que eles saiam da favela, que tenham outros olhares. Para mim todos são indivíduos da sociedade, com nome e sobrenome”, finaliza.
Além de Lyon, a companhia já se apresentou no Museu Quai Branly, na França; Recontres Choréographique de Carthage, no Festival Internacional de Biarritz, e na Semana do Brasil no Teatro de Chelles, em Paris.
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SERVIÇO — Viagem Teatral 2009 apresenta “Suíte Funk”. Amanhã e domingo, às 20h, no Sesi Piracicaba (avenida Luiz Ralph Benatti, 600), na Vila Industrial. A entrada é gratuita e os ingressos devem ser retirados com uma hora de antecedência. A classificação é livre e a montagem tem duração de 50 minutos. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações: (19) 3421-2884.

domingo, 8 de março de 2009

Meu olhar sobre "Tieta do Agreste"

Uma das cenas coreografadas de "Tieta do Agreste - O Musical"

Marcela Benvegnu

Antes de tudo isso não será uma crítica. Isso porque defendo que crítica é crise, quebra de obra em pedaços, e que passa muito (mas muito) longe de gosto ou opinião. (Falaremos muito de crítica, critérios e afins no curso de Redação Crítica de Dança, que eu vou ministrar no 27º Festival de Dança de Joinville, que acontece de 15 a 25 de julho, este ano). Confesso que é mais do que complicado explicar isso para as pessoas. A maioria acha que crítica é opinião. O que falarei em poucos parágrafos abaixo será simplesmente a minha opinião, coisa inédita nesse espaço.

Fui ao Municipal assistir "Tieta do Agreste - O Musical" ontem, dia 7 de março. A minha expectativa era grande. Fiz uma matéria que me movimentou por dentro jornalisticamente ("O Amado Brasil", que está abaixo deste post), uma matéria que eu tive tempo de produzir, pensar, e quando temos isso, de fato, o trabalho fica melhor do que o pá-pum. Depois produzi outro texto sobre os bastidores... figurinos e tal. Tudo bem divertido. Sendo assim, o musical seria para mim o fecho dessa tríade, de ouro.

Eu tinha uma visão privilegiada do palco. Antes das cortinas se abrirem sabia que os desenhos coreográficos poderíam ser vistos (e analisados) com perfeição e que eu iria devorar aquele musical. Estou acostumada a ir em espetáculos em SP, nos últimos anos foram poucos os musicais ou espetáculos de dança de grandes companhias que eu não assisti. E confesso que "Tieta" vindo a mim, na minha cidade, é algo bem mais fácil...

Mas... porém... entretanto, achei o espetáculo lonnnnnnnnnnnnnnnngo, talvez porque a montagem já começou atrasada 40 minutos. Tânia Alves segura o papel título com brilhantismo, assim como Emanuelle Araújo, a verdadeira voz das cenas. Blota Filho está impagável, sua voz cativa o público e quando ele troca de personagem nos faz parar e pensar: "Será que é ele mesmo?". O elenco funciona muito bem... a peça flui e os diretores foram felizes.

Sem comparações por favor. Mas pensei muito em Charles Muller e Claudio Botelho, que são conhecidos adaptadores de musicais... Pensei em Batah Chamma, em Tania Nardini, coreógrafas de musicais... Isso porque estamos acostumados com essas montagens "broadway", e a diretora de Tieta (Christina Trevisan) foi clara quando disse que de Broadway eles só tinham o padrão de qualidade. Figurinos, cenários, trocas de roupa, microfonia. OK. Tudo muito bom mesmo. Acredito que Piracicaba nunca tenha visto algo semelhante, ainda com música ao vivo. Os músicos eram ótimos. CLAP! CLAP! CLAP! Mas falta dança. Se aquilo é tão brasileiro como é intitulado e o brasileiro é um povo que faz festa mesmo quando seu time fica em segundo lugar... acho que faltou movimento.

(Vale lembrar que isso é uma opinião e não uma crítica, e se fosse crítica ela teria outro tom e outra forma de colocação, talvez algo do tipo: "Rosely Fiorelli, a coreógrafa, poderia ter mostrado mais pelos corpos que tinha em cena ...", porque é crítica, e não opinião. E CRÍTICA NÃO é GOSTO. E aqui estou publicando o meu gosto).

Não que eu estou defendendo a minha área, mas às vezes a palavra não dá conta de dominar o palco sozinha. A inciativa de criar um musical brasileiro é fantástica. Dá a chance de mais pessoas terem a oportunidade de entrar em contato com essa forma de arte e nos educa para um outro olhar. Confesso que preciso ver mais musicais brasileiros, para ver as tendências, ou mesmo a relação corpo-palavra. Tomara que eles produzam mais. Não é simples tirar do corpo a referência que você já tem... por isso como o trabalho é "brasileiro" não podemos e nem devemos criar comparações.

O Amado Brasil


Marcela Benvegnu
publicado no Jornal de Piracicaba, em 6 de março de 2009 / caderno Fim de Semana

Os aspectos mais corriqueiros da vida popular do povo baiano, seus costumes, modo de ser, agir, religiosidade e estratégias de sobrevivência foram mais do que traduzidos por um escritor da terra: Jorge Amado (1912-2001). Entre suas mais de 30 publicações, destaca-se “Tieta” (1977), espécie de espelho de algumas representações da identidade do povo brasileiro, que depois de ter sido tema de novela e filme, será pela primeira vez na história narrada em forma de musical, pelas mãos de uma mulher, a diretora e adaptadora Christina Trevisan. E para comemorar o Dia Internacional da Mulher, a montagem “Tieta do Agreste — O Musical”, estrelada por Tania Alves, será apresentada amanhã, às 21h, e domingo, às 19h, no Teatro Municipal “Dr. Losso Netto”, com apoio do Jornal de Piracicaba, na abertura da temporada 2009 do espaço. Piracicaba é a primeira e única cidade do interior a receber a montagem que fez temporada em São Paulo e agora excursiona pelo país.

Amado conseguiu expressar em palavras a essência da Bahia. Nas ruas do centro de Salvador ou nas plantações de cacau de Ilhéus, narrou conflitos e injustiças sociais, maravilhas e peculiaridades do seu Estado natal, além de construir personagens que esbanjavam sensualidade, como Tieta. “Quando a produção me procurou para que eu adaptasse a obra em um musical eu fui taxativa e afirmei que não faria algo estilo Broadway. Porque o que era preciso fazer com a obra de ‘Tieta’ era trazer à tona a sua brasilidade”, fala Christina.

Segundo a diretora e adaptadora da montagem, o musical revela um subtexto que vai além do seu regionalismo. “São anseios comuns de qualquer cidade pequena nesse Brasil. É a religião, os conflitos de sexualidade reprimidos, as relações familiares”, revela Christina. “E dentro desta proposta, me aliei ao Pedro Paulo Bogossian, que é o diretor musical, e a Rosely Fiorelli, a coreógrafa, para adaptarmos isso juntos. Eu retirei as letras das páginas do livro de Amado, o Bogossian musicou e a Rosely criou as coreografias. Não apresentaremos um show à la Broadway, porque temos um corpo brasileiro, somos irreverentes, cínicos, entusiasmados. De Broadway só temos o padrão de qualidade”, fala.
Em cena o público verá composições e coreografias que enfocam o forró, samba de roda, xaxado e até o tango. Tudo ao vivo. A banda é formada por seis instrumentistas, que acompanham o elenco em todas as apresentações. “Tenho certeza de que as pessoas se surpreenderão com o trabalho. A prosa de Amado é lírica, tem ritmo, rima. Cada hora nos encontramos em um personagem e aprendemos mais sobre outro. Por isso, Amado nos revela tanto nossa própria identidade e nos permite encontrar muitas Tietas”, atesta Christina.
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CONTEXTO HISTÓRICO
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Nas primeiras cenas do romance, assim como no musical, Sant’Anna do Agreste, pequena vila do interior da Bahia, vive dias de grande expectativa enquanto se prepara para receber Tieta, filha da terra que retorna depois de 25 anos morando no sul do país e trabalhando como cafetina. Aos 17 anos, Tieta (Tania Alves) viverá aventuras amorosas que escandalizaram a população e, denunciada pela irmã mais velha, Perpétua (Maria do Carmo Soares), é expulsa de casa pelo pai Zé Esteves (Osvaldo Raimo).

Desde a sua partida, o único contato de Tieta com a família era por meio de cartas que tinham como remetente uma caixa postal em São Paulo. Além da correspondência, controlada por Carmosina (Neusa Romano), funcionária dos Correios, Tieta também enviava ajuda financeira para o pai, as irmãs, Perpétua e Elisa (Emanuelle Araújo/ Vyvian Albouquerque) e os sobrinhos. Perpétua acredita que Tieta é proprietária de uma butique famosa em São Paulo e que da morte de seu esposo, um comendador, provém a sua riqueza. Quando Tieta retorna a Sant’Ana do Agreste, acompanhada de Lenora (Tânia Paes), que apresenta como sua enteada —, mas na verdade é sua protegida no bordel —, é recebida com grande pompa. O que as pessoas não imaginam é que ela esconde um grande segredo.

“Alguns estudiosos consideram Tieta uma síntese de todas as mulheres de Jorge Amado. Ela é uma mulher da natureza, que cresceu com as cabras e sua referência de sexualidade é a dos animais. Isso gerou liberdade no seu espírito”, fala Tânia Alves. “A trama revela uma história cheia de dramas e preconceitos. O fato de o pai ter batido nela com um cajado e de ela ter ido embora provocou uma grande dor na personagem”, fala. A atriz e cantora revela que em Sant’Ana do Agreste, Tieta é uma espécie de lenda. “Ela volta influente e tem uma posição política ativa. Regressa para perdoar, se reconciliar com a família”, completa Tânia.
A presença de Tieta em Sant’Ana do Agreste deixa marcas profundas. Enquanto a cidade se transforma pela chegada do progresso — Tieta é responsável por levar luz da Hidrelétrica de Paulo Afonso até a cidade — ela se envolve com o seu sobrinho Ricardo — seminarista e filho de Perpétua—; Lenora e o prefeito apaixonam-se, industriais querem sediar uma fábrica de titânio na praia do Mangue Seco, e Elisa sonha em morar com a irmã na cidade grande.

“Elisa é uma típica personagem de Amado. É a irmã mais nova de Tieta, que é casada com um homem que ela julga pacato e que sonha em se mudar para a cidade grande. Com a chegada de Tieta ela enxerga essa possibilidade de mudar de vida”, fala Emanuelle Araújo, que na novela A Favorita, da Rede Globo, viveu a personagem Manu, uma prostituta, assim como Tieta. “Elisa é apaixonada pela vida e é obrigada e enfrentar a educação rígida imposta pelos pais”, completa a atriz, que afirma que a montagem é um verdadeiro presente à cultura brasileira.

Talvez Elisa não consiga realizar seu sonho, pois quando o segredo da vida de Tieta é revelado, ela é obrigada a partir novamente. Mas, Sant’Ana do Agreste e seus habitantes nunca mais serão os mesmos e nunca serão esquecidos por ela. “Interpretar Tieta tem sido algo marcante na minha vida. Gosto de trabalhos ricos e desafiadores. A personagem exige várias nuances e estabelece uma série de relações com o pai, o sobrinho com quem ela tem um caso de amor, que exige muito de mim como atriz”, fala Tânia, que dedica o espetáculo a Jorge Amado e Zélia Gattai (1916-2008). “Certa vez encontrei com os dois e eles me disseram que gostavam do meu trabalho. Então, onde estiverem, minha Tieta é para eles”, completa.
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IDENTIDADE NACIONAL
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A proposta de Jorge Amado e outros modernos foi definida pelo crítico literário Antonio Candido como “ir ao povo”. Amado, de fato, parece não somente ter ido ao povo, como ter feito parte dele para escrever textos que fossem reflexos de pura brasilidade. Segundo a antropóloga llana Seltzer Goldstein, consultora da editora Cia. das Letras para o relançamento das obras do baiano — até 2012 a editora relançará os 32 livros do escritor — e autora do livro “O Brasil Best-seller de Jorge Amado: Literatura e Identidade Nacional” (Ed. Senac), Amado era um grande observador da realidade, que se relacionava com vários extratos sociais. “Com essa capacidade de trânsito, ele foi capaz de ter uma síntese do Brasil muito particular, que tem relação direta com a imagem que ele fez do país”, fala.

Para Ilana, o escritor conseguiu uma penetração tão ampla na forma de o brasileiro olhar o país que acabou formando opiniões. “A literatura dele estava a serviço da nação”, atesta a pesquisadora, que aponta características similares nas obras do autor, pós-década de 50, quando ele abandona a militância política. “A primeira é a força das personagens, que sabem conviver com a diferença, o que é uma característica do brasileiro. A segunda é a mestiçagem, seguida da força da cultura popular. Ele acreditava que a cultura popular deveria inspirar artistas eruditos e sempre dizia que apesar de ter feito direito, nunca foi buscar o seu diploma. Sua faculdade havia sido a do Pelourinho”, conta Ilana.

Entre os pontos também figura o amor do brasileiros a festas, a força dos sentidos e o jeitinho brasileiro de ser. “Ainda incluo uma outra característica à literatura de Amado pensando em ‘Tieta’, ‘Teresa Batista’ e ‘Gabriela, Cravo & Canela’, que é a violência. Violência de diversos níveis, seja física ou entre o arcaico e o progresso. Essa briga entre o velho e o novo está presente em ‘Tieta’. A questão de gênero também. Embora ele seja acusado de colocar a mulher mulata como objeto na maioria dos seus livros, nesses três que citei, ele mostra mulheres que rompem com a convenção. Tieta foi assim”, completa Ilana.
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SERVIÇO — “Tieta do Agreste — O Musical”, com Tania Alves, Emanuelle Araújo e grande elenco. Amanhã, às 21h, e domingo, às 19h, no Teatro Municipal “Dr. Losso Netto”. Ingressos custam R$ 50 (inteira); R$ 35 (Clube JP, Unimed e Acipi); R$ 25 (estudantes, idosos e professores estaduais). A peça é recomendada para maiores de 12 anos. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações (19) 3434-2168.

Barbatuques de volta

Foto: Manolo Moran

Marcela Benvegnu


Depois de um ano sem se apresentar em São Paulo, o Barbatuques volta com força total e estréia amanhã, às 21h, no Teatro Santa Cruz, o espetáculo “Indivíduo Corpo Coletivo”. O grupo traz à tona sons orgânicos e tribais, colocando-os em contato com sonoridades contemporâneas e celebrando o corpo como fonte infinita de música. Palmas, estalos, batidas no peito, sapateados, vácuos de boca, recursos vocais entre vários outros sons são encadeados na produção de ritmos e melodias.
O grupo tem cumprido uma agenda de shows no exterior, com passagem por países como o Líbano, Espanha, Suíça e França. No final de 2008 fez sua primeira viagem aos Estados Unidos, onde participou de workshops e apresentações com o reconhecido músico e pesquisador Keith Terry, pioneiro da percussão corporal na costa oeste dos Estados Unidos, além de participar do 1º International Body Music Festival (Festival Internacional de Música Corporal) que aconteceu em dezembro, em São Francisco. O Barbatuques foi o grande destaque do evento que contou com a participação de artistas dos EUA, Indonésia, Canadá, França e Turquia.
A experiência vivida e absorvida a partir desta intensa pesquisa e troca cultural influenciou a criação de “Indivíduo Corpo Coletivo”. O show apresenta diversas composições inéditas além de músicas presentes nos dois CDs e no DVD já gravados pelo grupo.
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NA BATIDA — Fundado em 1996, o Barbatuques é dirigido pelo músico Fernando Barba e conta com 14 percussionistas corporais. O primeiro espetáculo do grupo “A Casa” foi apresentado em 1997 e o primeiro CD da trupe — “Corpo do Som” — foi lançado em 2002. Em 2003 eles lançaram o CD “Marias do Brasil”, destinado ao público infantil e resultado da peça homônima que teve trilha sonora de Chico César e direção musical de Fernando Barba. Na sequência eles lançaram “O Seguinte é Esse” (2005), e foram contemplados com o prêmio Tim de Música como melhor grupo de MPB. Foi no início de 2008 que o grupo lançou seu primeiro DVD “Corpo do Som ao Vivo”.

PARA VER — Indivíduo Corpo Coletivo, com Barbatuques. Estréia amanhã, às 21h, no Teatro Santa Cruz (rua Orobó, 277), em São Paulo. A temporada vai até o dia 29 de março, aos sábados, às 21h, e domingos, às 20h. Ingressos custam entre R$ 40 e R$ 20. Datas, local, horários e valores foram enviados pelos organizadores. Mais informações (11) 3024-5191.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Entre Solos, Duos e Trios

crédito: Arnaldo Torres

Marcela Benvegnu

O conhecido Centro Cultural São Paulo é no mês de março de palco para um dos mais importantes eventos da dança contemporânea brasileira. De 4 a 29 de março, o Solos, Duos e Trios agita o espaço, e conta com a participação de nomes consagrados do meio. O objetivo do evento é ampliar a expressão dança contemporânea, suas possibilidades de convivência de idéias de danças e de processos em estágios múltiplos e ampliar o território da criação para um corpo que dança com novos criadores intérpretes.
Em 2009 o evento será dividido em dois programas. No primeiro, o traço característico é a presença de experientes coreógrafos intérpretes. Jorge Garcia aparece com “Nihil Obstat”, um solo que atenta à volatilidade da criação corporal. O trabalho atenta para a liberdade de criação e a possibilidade de transformação, em cada lugar e a cada momento.
Já Diogo Granato, acompanhado de Clarice Lima, apresenta “Dueto”, um exercício em cima da improvisação e coreografia inspirada na música do jazz. “Corpoético”, de Miriam Druwe, com Adriana Guidotte, Miriam Druwe e Tatiana Guimarães — que poderá ser visto em Piracicaba no mês de março no Teatro Municipal “Dr. Losso Netto” — busca um estado de brincadeira com a construção da palavra corporal.
O segundo programa — entre 18 a 29 de março — traz novos coreógrafos e experimentações. O Coletivo de Solos, formado por inúmeros intérpretes e coordenado por Samanta Barros apresenta o projeto “Solos e Reverberações” formado por trabalhos como “O Cego e o Aleijado”, de Alan Scherk; “Entre Contenções”, de Eduardo Fukushima; “Entre”, de Isabel Hölzl; “Porcorpo”, de Manuela Figueiredo; “Um Conto de um Ponto”, de Manuela Afonso; “Uma História Encerrada no Mundo”, de Marcelo Moraes; “Parto da Dança/Noite Escura”, de Ricardo Neves; “O Princípio da Incerteza”, de Samanta Barros, e “Ecologias: Espaços Onde Não Há Mais Espaço ou Pequenos Transbordamentos de Dentro Para Fora”, de Suzana Bayona.
Vale à pena se atentar aos trabalhos de Jorge Garcia, Diogo Granato e Miriam Druwe. Garcia, atuou na Cisne Negro Cia. de Dança e no Balé da Cidade de São Paulo (1997). Fundou o P.U.L.T.S. Teatro Coreográfico e criou a cena coreográfica para o filme “Carandiru”, de Hector Babenco e para “Baile Estelar”, sob direção de José Possi Neto. Atualmente dirige a J. Garcia & Cia. Granato sempre se firmou no cenário da dança contemporânea como um criador e intérprete. É criador da Cia. Nova Dança 4 há doze anos, e diretor do Silenciosas e do Grupo de Terça. Miriam Druwe dirige sua companhia desde 1996 e integrou como bailarina importantes companhias — Balé da Cidade de São Paulo, Cisne Negro, República da Dança e Terceira Dança.

PARA VER — Solos, Duos e Trios no Centro Cultural São Paulo (rua Vergueiro, 1.000), em São Paulo. De 4 a 29 de março. As apresentações acontecem de quarta a sábado, às 21h, domingo, às 20h. A entrada é gratuita. Mais informações (11) 3397-4002.

Nada. Vamos Ver

Crédito: Flávia Meirelles


Marcela Benvegnu


Questionar os lugares que performer e público ocupam dentro de um espetáculo. Essa é a proposta de Gustavo Ciríaco e sua companhia em “Nada. Vamos Ver”, espetáculo de dança contemporânea que está em cartaz na unidade provisória do Sesc Avenida Paulista. As apresentações acontecem às sextas, sábados e domingos, sempre às 19h. No palco o bailarino propõe um questionamento sobre o papel de público e performer, e quebra as formas tradicionais de apresentação. Os bailarinos ocupam as cadeiras do público e levam os espectadores ao palco.
Como tornar visível aquilo que está presente e constituir a situação de um espetáculo de dança em um teatro? Como explicitar o óbvio, o já acordado, porém já esquecido na relação público e artista? Foram essas questões que impulsionaram a criação de “Nada. Vamos Ver”. “O resultado foi uma montagem colaborativa e interativa, em que se entremeiam as histórias do público e do performer”, fala Ciríaco.
A sala de espetáculos é tratada como um espaço de convivência e evasão. O espetáculo começa com uma conversa informal com o público. Os bailarinos distribuem placas de identificação com os dizeres “público” e “performer” e, ao longo da apresentação, sentam-se no lugar da platéia e trazem o púbico para o palco, invertendo papéis, que também mudam conforme alterações sutis do espaço cênico. Tudo isso sob uma trilha de músicas e ambientações sonoras elaborada pela dupla carioca Arpx, responsáveis por trabalhos anteriores de Ciríaco e montagens do bailarino Bruno Beltrão.
“O espetáculo trabalha a expectativa que tem uma pessoa quando vai ver uma peça de dança, uma série de regras que são tácitas: fazer silêncio, não comer, sentar na platéia, ver algo que tenha início, meio e fim. A gente ainda mantém esse encontro entre público e performer, mas ele está toda hora sendo deslocado. Pois não há espetáculo sem essas duas partes, eles são co-responsáveis por fazer acontecer o espetáculo”, completa o artista.
No dia 28 de fevereiro, o bailarino oferece uma oficina de dança contemporânea gratuita intitulada Compartilhando Histórias. Nela, o coreógrafo vai usar como base a pesquisa de seu novo espetáculo para propor, a partir do movimento e da palavra, modos e estratégias de interação entre público e performer em uma sala de espetáculo, em um intercâmbio de histórias reais, códigos e ficções.
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CIRÍACO — Cientista político, Círiaco formou-se em dança pela Escola Angel Vianna. De 1995 a 2005, formou com Frederico Paredes a dupla Ikswalsinats. Desde 2003, desenvolve projetos independentes em associação com outros artistas brasileiros e estrangeiros, como “Jorge” (2003) e “Uma Conferência Imaginária sobre os Meus Arredores” (2004). Em 2006, estreou “Aqui Enquanto Caminhamos” e em 2007, “Still Sob o Estado das Coisas”. Atualmente leciona história da dança na Escola Angel Vianna e é curador do Condança (Porto Alegre) desde 2003.
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PARA VER — “Nada. Vamos Ver”, de Gustavo Ciríaco. Até dia 28 de fevereiro, às sextas, sábados e domingos, às 19h, na unidade provisória do Sesc Avenida Paulista (avenida Paulista, 119). Ingressos custam R$ 20 (inteira), R$ 10 (usuário matriculado no Sesc, dependentes, idosos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$ 5 (trabalhador no comércio). Mais informações (11) 3179-3700.

Thank you, Dance!

by Judy Smith "