segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Borelli remonta ‘Jardim de Tântalo’


Marcela Benvegnu

O objetivo da Borelli Cia. de Dança entre os dias 25 e 28 de setembro, no Teatro de Dança, em São Paulo, é comemorar 11 anos de trajetória. Para isso optou por remontar “Jardim de Tântalo”, que reflete sobre a insanidade, sobre outro estado de segregação social, aquele em que se encontra quem não se ajusta aos padrões formais de comportamento.

A montagem faz parte do projeto Cantos Malditos, que tem como objetivo remontar e apresentar alguns dos espetáculos mais significativos do repertório da companhia, como “Senhor dos Anjos” (inspirado na vida e obra de Augusto dos Anjos), e “Bent, o Canto Preso” (da obra teatral de Martin Sherman). Neste projeto há ainda uma nova criação: “Che Guevara” (título provisório, inspirada na vida e obra de Ernesto Che Guevara).

“Jardim de Tântalo” é, na mitologia, um lugar em que, apesar de irreal, acontecem torturas e também no qual um personagem foi condenado pelos deuses a passar fome e sede por ter roubado seus manjares. Neste universo insano, as noções de tempo e espaço se apresentam completamente alteradas e, portanto, o real e o não-real confundem-se assombrosamente, a ponto de desencadear outro tipo de olhar, instaurando um elemento fascinante: o saber.

O espetáculo estreou no Centro Cultural São Paulo em 2001 e foi apresentado no Festival Internacional de Londrina. No elenco figuram Daniella Rocco, Edson Calheiros, Elisângela Ferreira, Elizandro Carneiro, Robson Ferraz, Vanessa Macedo, Roberto Alencar (bailarino convidado) e Mariana Costa (estagiária).

Os quatro trabalhos do projeto Cantos Malditos têm em comum justamente a investigação sobre o pensamento que resiste à massificação, que se contrapõe à transformação da vida em mercado e do ser humano em mercadoria e que trafega na contramão do mercado cultural.
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MAIS DANÇA — No dia 30 de setembro, às 14h, com coordenação de Uxa Xavier, terá início o Casa Aberta, novo programa do Teatro de Dança em que serão realizados encontros especiais voltados à formação e investigação da dança com aulas abertas, simpósios, debates, ensaios abertos programados por coletivos, universidades, grupos de estudos, pesquisa e curadores especiais. Na ocasião, os grupos selecionados no projeto Mapa Cultural Paulista (categoria dança), participam de vivências especiais e apresentam seus trabalhos, que são debatidos por especialistas. Entre eles estão o Grupo Faces Ocultas, de Salto, e o Grupo Camafeu, de Dracena.

A universalidade de Pederneiras


Marcela Benvegnu

A figura de Rodrigo Pederneiras, coreógrafo residente do Grupo Corpo, de Belo Horizonte, foi desvendada pelo jornalista Sérgio Rodrigues Reis em “Dança Universal — Rodrigo Pederneiras e o Grupo Corpo”, de uma forma leve e convidativa. O livro, que acaba de ser lançado pela Imprensa Oficial e integra a Coleção Aplauso, narra a trajetória deste ícone brasileiro da dança contemporânea em 193 páginas de puro movimento.

O que mais chama a atenção na publicação é a forma da escrita. É Rodrigo quem conta em primeira pessoa e parágrafos curtos, sua história, que aliada às fotografias de época fazem com que o leitor divida com ele suas conquistas e glórias. Não é à toa e muito menos por acaso que o Grupo Corpo se tornou o maior fenômeno da dança contemporânea brasileira, já tendo se apresentado no mundo todo.

Reis é feliz quando diz que Pederneiras “moldou a música de Bach, Chopin, Villa-Lobos e Brahms. Conseguiu dar forma ao minimalismo das obras de Marco Antônio Guimarães e Philip Glass. Ajudou a lapidar a brasilidade das composições de João Bosco, José Miguel Wisnik, Tom Zé e personificou as influências urbanas de Arnaldo Antunes e a tropicalidade de Caetano Veloso (...). Fez mais: potencializou a emoção presente nas músicas, por meio dos gestos de seus bailarinos, deu alma a composições esquecidas, levou o público a chorar e a sorrir de emoção”.

Pederneiras imprimiu no Grupo Corpo uma gramática corporal própria. Movimentos que só o seu corpo poderia inicialmente produzir. Conseguiu criar uma matriz perfeita de grandes executores e com isso um idioma que só seus bailarinos conseguem expressar: uma dança de qualidade, que chega ao limite da perfeição proposta e também imposta pelo padrão da companhia.

Em “Dança Universal”, o leitor conhece aqueles que estão por trás de o Grupo Corpo e se depara com uma equipe coesa. O diálogo entre todos funciona por isso: Pederneiras tem espaço e autonomia para criar. Foi assim desde suas primeiras coreografias, como “Cantares” (1978), “Sonata” (1984), “Canções” (1987), “Missa do Orfanato” (1989), “21” (1992), até trabalhos mais recentes, como “Santagustin” (2002), “Leucona” (2004), “Onqotô” (2005) e “Breu” (2007).

Qualquer tipo de menção ou detalhe de sua história ficaria pequeno e sem valor se comparado à riqueza de informações de “Dança Universal”. Diferente daqueles livros biográficos, a publicação vai além e escreve sobre dança para um público leigo. Está aí o tão sonhado e famoso caminho para a formação pela informação. Acesso fácil tendo o prazer como resultado final.

A reinvenção da dança popular

Marcela Benvegnu

Com mais de 30 anos de estrada, o Balé Popular do Recife mudou a cara da dança pernambucana, abriu um amplo mercado de trabalho e, por meio da valorização da arte e dos artistas populares, aproximou a sociedade da sua própria cultura. Para comemorar essa trajetória de sucesso, o grupo montou um novo trabalho, que marca a reinvenção do balé em termos de linguagem. Intitulada “As Andanças do Divino”, a montagem poderá ser vista pelo público piracicabano hoje, às 20h, no Sesc Piracicaba, e integra a programação especial da 9ª Bienal Naïfs do Brasil 2008.

Com direção artística de André Madureira e roteiro de Antonio José Madureira mais conhecido como Zoca o espetáculo propõe um diálogo com o teatro de bonecos e outras vertentes da dança, e resulta em uma obra integrada, que apresenta a trajetória de Simão Maranduera, mestre mamulengueiro, que sai do sertão rumo ao litoral, encenando “A Paixão de Cristo” com seus bonecos; e também de Jesuíno, um típico nordestino, misto de ícones do messianismo brasileiro, como Antônio Conselheiro e Padre Cícero, com a figura de Lampião e do próprio Jesus Cristo.

O espetáculo tem como objetivo falar da luta apaixonada de mártires da história de Pernambuco e da cultura popular, porém afastando-se do perfil folclórico que caracterizou os primeiros trabalhos do Balé do Recife. Segundo André Madureira, esse espetáculo marca a reinvenção da companhia. “Demos um passo à frente na consolidação da linguagem brasílica da dança, que é uma metodologia própria desenvolvida pelo grupo. ‘As Andanças do Divino’ vem coroar essa pesquisa de passos, movimentos coreográficos e mímicos, mas agora representada de outra forma”, fala Madureira, em entrevista ao Jornal de Piracicaba. “O público poderá ver o xaxado, o frevo, o maracatu, o caboclinho, a ciranda, o coco de roda, o pastorio, e várias outras manifestações da cultura popular em um outro contexto de linguagem, mas sem perder a identificação.”

As “andanças” do balé durante esses 30 anos foram intencionalmente inseridas em alguns momentos do trabalho com o objetivo, segundo o autor e o diretor, de revisitar a trajetória e valorizar a memória cultural pernambucana. “Esse espetáculo está sendo pensado por nós desde 2003. Precisávamos renovar nossa linguagem e fundamentos e para isso houve muito estudo”, revela Madureira. “Meu irmão (Zoca) compôs a trilha sonora da peça e hoje posso afirmar que o Balé tem um grande trabalho em mãos. Estreamos em abril de 2008 com a sensação de missão cumprida”, fala o diretor, que se apresentou em Piracicaba há mais de 25 anos. “Acho que estivemos aí com o balé em 1981, quando fizemos uma turnê pelo Estado de São Paulo. Estou adorando a idéia de voltar”, diz.
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LINGUAGEM CONSOLIDADA
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O Balé Popular do Recife foi fundado no dia 20 de maio de 1977. Naquela época, o grupo era conhecido como Grupo Circense de Dança Popular e era composto por 12 bailarinos. O primeiro espetáculo montado foi o “Brincadeiras de um Circo em Decadência”, que logo conquistou o público e a crítica, acabando por levar a trupe de brincantes a um circo de verdade, armado no cais da Rua da Aurora: o Circo da Onça Malhada. E foi justamente nessa época que o grupo ganhou o nome de Balé Popular do Recife, batizado pelo então secretário municipal de Educação e Cultura, o escritor, jornalista e dramaturgo Ariano Suassuna. Em seus primeiros meses de existência, o balé contou com a subvenção da prefeitura do Recife, passando em seguida, e até hoje, a manter-se com recursos próprios.

O grupo tem como finalidade a preservação, divulgação, documentação e recriação dos autos e folguedos populares do Nordeste e em particular do Estado de Pernambuco. No decorrer de sua trajetória conseguiu catalogar mais de 500 passos de dança, além de criar novos. Centenas de bailarinos foram e ainda são formados por essa rede social, que instituiu um método próprio de trabalhar as danças populares, a metodologia Brasílica. Sendo assim, o grupo conquistou uma linguagem própria, que o diferencia de outros grupos de dança popular do Nordeste, inspirando ainda a formação de novas companhias de dança, como é o caso da Cia. Trapiá de Dança, Balé Brincantes, Maracatu Nação Pernambuco e Companhia de Arte da Cidade Alta de Olinda.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Piracicaba tem audição da Cedan

Ady Addor, um dos grandes nomes da dança, estará na banca de seleção

Marcela Benvegnu

Concentração e disciplina serão requisitos mínimos na audição da Cedan (Companhia Estável de Dança de Piracicaba), que acontece hoje a partir das 9h30, no Centro Cultural Antônio Pacheco Ferraz — Estação da Paulista. Isso porque os mais de 35 bailarinos inscritos passarão pelo crivo de alguns dos maiores nomes da dança brasileira. A banca de seleção será composta por Maria Pia Finócchio, diretora do Sindicato dos Profissionais da Dança do Estado de São Paulo e jurada do Dança dos Famosos no programa do Faustão; Ady Addor, que foi a única brasileira a ser primeira bailarina do American Ballet Theatre; Eduardo Bonnis, que atualmente trabalha com a São Paulo Companhia de Dança, e Oderagy Manhani, que foi bailarino do Balé do 4º Centenário, e está radicado em Piracicaba há três anos.
“Toda cidade deveria ter a sua companhia estável. Na Europa, toda cidade, por menor que ela seja, tem seu teatro, sua ópera e sua companhia de dança”, fala Ady. “A Cedan tem tudo para dar certo. Conheço o trabalho da Camilla (Pupa, diretora artística da Cedan) e acho que a companhia estará em boas mãos”. Ady enfatiza que a dança clássica merece e precisa de espaço. “Precisamos de mais companhias para que possamos dar emprego aos nossos bailarinos no Brasil. Piracicaba pode e deve ter a sua companhia porque público para isso ela tem”, fala a professora que também foi primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
“Buscamos para essa companhia o que há de melhor no trabalho da dança piracicabana. Acredito que iremos selecionar bailarinos que estejam a altura dos trabalhos que serão montados. É preciso uma boa técnica para a execução de balés de repertório e consequentemente outros balés”, avisa Maria Pia. “A Cedan é um passo para a profissionalização dos bailarinos da cidade de Piracicaba. O que o Sindicato dos Profissionais da Dança do Estado quer é que nossos bailarinos tenham emprego em suas cidades e possam dançar no Brasil”, justifica.
“Fiz questão de convidar esse júri especializado pessoalmente para a primeira banca da Cedan. São pessoas muito requisitadas no meio da dança. Piracicaba merece recebê-las”, fala a diretora artística.
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AVALIAÇÃO— A audição será dividida em três fases. A primeira será uma redação sobre história da dança; a segunda, uma aula de balé clássico, e após essa etapa serão anunciados os aprovados para a terceira fase, que é a apresentação de uma variação do repertório clássico. A lista final de aprovados será divulgada no dia 3 de outubro. Dirigida por Camilla Pupa, a Cedan tem como objetivo proporcionar a rotina de uma companhia estável para os aprovados e também mais experiência em dança. “Queremos que os alunos levem conhecimento para dentro de suas próprias escolas com as visitas programadas a outras companhias de dança, espetáculos diversos, aulas com profissionais renomados”, fala Camilla.
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PREPARAÇÃO — A bailarina piracicabana Monique Cristina de Souza,17, inscrita para a audição, vê na Cedan a chance de vivênciar uma companhia profissional. “Quero ser bailarina e sonho com uma carreira internacional. Acredito que se for aprovada vou poder experimentar outro tipo de rotina de aulas e estarei melhor preparada para o mercado de trabalho”.
Também na seleção estará a bailarina Gisela Almeida, 20, de Limeira. A jovem que faz faculdade de dança na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) diz que uma companhia profissional é o sonho de qualquer bailarina. “Se eu for aprovada não vejo problemas em vir para cá para integrar a companhia”, fala a bailarina.

Mariana Muniz une poesia e dança em "Rimas no Corpo"


Marcela Benvegnu

O projeto Sesi Dança chega ao final da edição 2008 — que contou com 12 espetáculos — este final de semana, com a apresentação da Cia. Mariana Muniz de Teatro e Dança, no Sesi Piracicaba. O público poderá assistir ao espetáculo “Rimas no Corpo”, que tem como objetivo revelar a poética do movimento por meio da dança e da poesia, hoje e amanhã, às 20h. Após a apresentação de
hoje acontece um bate-papo com Mariana Muniz, e amanhã, às 15h, um workshop. A entrada é gratuita.

Com concepção de Mariana e Cláudio Gimenez, “Rimas no Corpo” é um projeto de dança onde a poética do movimento é tecida pela articulação entre dança e poesia. As ações corporais se estabelecem em relação aos temas dos poemas, numa construção cênica que se caracteriza por uma estrutura narrativa feita de inserções, interrupções e colagem. O espetáculo se delineia a partir de experimentações, improvisações, confrontos entre intérprete, textos, espaços e ritmos.
“Temos poemas, texto, mas a prioridade do trabalho é o movimento. Não existe palavra sem movimento”, fala Mariana, que é a intérprete do solo.

A montagem estreou em 2003 e hoje ganhou ares de renovação. “Em 2003 entramos em um projeto do Centro Cultural São Paulo em que o trabalho deveria ter 17 minutos. Depois que o projeto terminou optamos por desenvolver mais a coreografia e colocar mais informação e dança
na proposta”, fala Mariana. “Na versão tínhamos uma trilha assinada por mim e pelo Gimenez com textos gentilmente cedidos pelo Arnaldo Antunes; nesta nova versão temos música especialmente composta pelo Ricardo Severo, que dialoga com quatro pequenos textos de ‘Dois Ou Mais Corpos no Mesmo Espaço’, de Antunes. Ficou muito interessante”.
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ARTISTA — Mariana nasceu em Pernambuco, onde começou seus estudos de dança clássica, e
formou-se no Rio de Janeiro pela Escola de Dança Clássica do Teatro Municipal. Em 1974 encontrou-se com Klauss e Angel Vianna e, desde então, dedica-se ao trabalho com a dança
contemporânea. Em 1983, trabalhou com Klauss, quando ele criou o Grupo Experimental do
Balé da Cidade de São Paulo, e dançou no Grupo Coringa, de Graciela Figueroa. Estudou em Nova
York nas escolas de Martha Graham, Mercê Maucouvert e estagiou na Cia. de Maguy Marin.
Mariana também participou de muitas produções importantes em teatro e recebeu os prêmios
APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor intérprete em dança com “Dantea”
(2000), melhor autora-intérprete em dança com “Paidiá” (1989) e revelação como coreógrafa em “Corpo de Baile” (1988).
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SERVIÇO — Sesi Dança 2008 apresenta “Rimas no Corpo”, com a Cia. Mariana Muniz de Teatro e Dança. Hoje e amanhã, às 20h, no Sesi Piracicaba (rua Luiz Ralph Benatti, 600) na Vila Industrial. Amanhã, workshop, às 15h. A entrada é gratuita para todas as atividades. A classificação é livre. Data, local e horário foram enviados pelos organizadores. Mais informações
(19) 3421-2884.

sábado, 13 de setembro de 2008

As várias formas de ‘Polígono’ / Crítica - São Paulo Cia. de Dança

Foto: Gal Oppido


Marcela Benvegnu

Olhares atentos esperam os três sinais. Os convidados estão acomodados nas poltronas do Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo; a imprensa com máquinas fotográficas barulhentas, clica as personalidades; discursos de autoridades são proferidos, e finalmente, as cortinas são abertas. É a estréia da São Paulo Companhia de Dança, com “Polígono”, do italiano — radicado no Japão — Alessio Silvestrin, com colaboração de Ricardo Scheir e Maurício de Oliveira, sob a “Oferenda Musical”, de Johann Sebastian Bach (1685-1750), revisitada pelo grupo belga Het Collectief.

Polígonos são formas geométricas de igual número de lados e ângulos — traços que se encaminham para diferentes direções e cujo encontro compõe um corpo geométrico organizado e coeso. “Polígono” segue estrutura semelhante. O linóleo branco que evidencia os corpos e as sombras chinesas — muito usadas no trabalho — servem de espelho para que os corpos dos 40 bailarinos da São Paulo Companhia de Dança possam dialogar. O contraponto funciona, estabelece a relação ao mesmo tempo de concordância e discrepância entre as vozes musicais, com um mesmo motivo enunciado com variações de tempo e maneira.

As evidências são capazes de comunicar corpos treinados (para pouco tempo de companhia), que por vezes aparecem e desaparecem por meio de biombos, por um piscar de olhos, por uma troca de movimento musical ou mesmo de sapatilha. Em alguns momentos a expressão de uma ou outra bailarina nos obriga a reparar pequenas arestas deste quadrado quase perfeito, é um sorriso fora de sintonia aqui, uma risada dissonante acolá. Simples de recolocar. Aplausos à iluminação de Wagner Freire e Silvestrin, ela sim, foi além do esperado.

Silvestrin criou um trabalho cujas formas, retas e ângulos — que nos faz lembrar William Forsythe, coreógrafo com quem o italiano já trabalhou — feitos pelo corpo se aliam a uma leve torção de ombro ou mesmo inclinação de cabeça. Um excelente ponto de partida para uma companhia recente, que ainda deve firmar no cenário da dança brasileira sua gramática corporal. Melhor “Polígono” do que outro trabalho que apontasse comparações.

O figurino simples — elas de colant e eles de calça e camisa, sendo que todos têm as costas transparentes — evidenciou formas (algumas sinuosas) e compôs a proposta que também utilizou recursos de dança e tecnologia. Em um determinado momento, uma sombra chinesa revela outra imagem: o meio do palco é projetado de cima para frente, sendo que o público consegue ver tudo o que se passa por trás da tela. Nada novo, porém, bem colocado. Os movimentos limpos absorvem a dramaturgia de Bach — que diversas vezes é inevitavelmente mais forte — para revelar os quatro lados do corpo. O polígono se fecha para dizer que a São Paulo Companhia de Dança nasce com o pé direito, porém, a dança pede mais e para isso será preciso (e natural) esperar mais um pouco.


TRABALHOS — Criada para valorizar talentos brasileiros em janeiro deste ano, a São Paulo Companhia de Dança tem direção artística de Iracity Cardoso — que foi diretora artística do Ballet Gulbenkian de 1996 a 2003 e co-diretora de 1988 a 1993 — e direção adjunta de Inês Bogéa — crítica de dança do jornal “Folha de S. Paulo” de 2000 a 2007. Os próximos trabalhos da companhia, “Les Noces” (1923), de Bronislava Nijinska (1891-1972); “Serenade” (1935), de George Balanchine (1904-1983); e uma criação inédita do coreógrafo brasileiro Paulo Caldas, poderão ser vistos a partir de novembro, em São Paulo, João Pessoa, Belém e Curitiba.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Deborah Colker estréia ‘Cruel’

crédito: Flávio Colker

Marcela Benvegnu

“Cruel”, o nono espetáculo da Companhia de Dança Deborah Colker, segue seu próprio caminho, parte de uma história em pleno curso. No trabalho, Deborah Colker propõe um enigma: uma série aberta de elementos narrativos que só se completa com o olhar do espectador. Corpos em movimento que exigem a decifração, um novo jogo entre o acaso e a necessidade. Histórias ordinárias, daquelas que se repetem invariavelmente na vida das pessoas, e que envolvem amores, amantes, família, laços que atam e desatam. Histórias quase sempre cruéis, que podem ser vistas em cena a partir do dia 12 de setembro, no Teatro Alfa, em São Paulo.

“As histórias estão ali para serem apreendidas por cada um de um modo bem particular”, fala Deborah. É nos movimentos e na expressão dos 17 bailarinos da companhia que o grupo lança as peças do jogo, sem qualquer compromisso com a explicitação do sentido, mas sim com a exigência de sua produção. Mas está tudo na cena. Com o auxílio do diretor de teatro Gilberto Gawronski, os movimentos expressivos ganharam forma e intensidade.

O espetáculo se desenvolve em quatro principais momentos. No primeiro deles, há a preparação para um baile, com gestuais, situações e objetos da experiência cotidiana. Em seguida, um grande lustre redondo e rendado ocupa o centro do palco, e ao som Vivaldi, de Nelson Gonçalves ou mesmo das palavras leves e roucas de Julie London, a cena transcorre, em clima de reminiscências, o grande baile, com pas-de-deux, movimentos líricos e a lembrança viva dos romances nos grandes salões.

Aos poucos, pequenas transformações de climas e intensidades denunciam o curso do tempo. Toma lugar em cena uma grande mesa móvel. É em torno dela que se desenvolvem as relações familiares, os encontros e desencontros que marcam as mutações dos afetos. Com esse grande objeto em cena, Deborah mantém evidente uma constante em seu trabalho: a relação primordial entre espaço — e a interferência no espaço — e movimento. “É sempre o espaço que propõe para mim uma nova relação com os movimentos”, diz Deborah.

No segundo ato de “Cruel”, um jogo de grandes espelhos que se movimentam empresta um tom surrealista ao espetáculo. Fragmentos dos corpos atravessam as estruturas, pessoas se entremeiam e se confundem. Nesse cenário de reflexos e luzes, cada um está mais só e experimentando o acúmulo de suas histórias pessoais. “Em frente ao espelho é só você. E sua história se reflete na sua própria imagem”, enfatiza a coreógrafa. Sua nova aposta está no encontro entre o violento e o amoroso, o cruel e o sensível. Esse é também o encontro entre o lúdico e o trágico, o romance e a dor. O encontro entre pessoas.
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PARA VER — “Cruel”, com a Cia. de Dança Deborah Colker, no Teatro Alfa (rua Bento Branco de Andrade Filho, 722), em São Paulo. De 12 a 14 e 17 a 21 de setembro (quarta, quinta, sexta e sábado, às 21h e domingo, às 18h). Ingressos custam de R$ 40 a R$ 90. Data, local e horário foram enviados pelos

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Na rota da seda

Crédito: Alceu Bett

Marcela Benvegnu

Com direção de Roseli Rodrigues, o Raça Cia. de Dança chega hoje, às 20h, ao Sesi Piracicaba, para apresentar “Caminho da Seda”. Inspirado na Rota da Seda — elo entre o Ocidente e o Oriente — o trabalho leva ao palco mais de 600 metros de tecido que se misturam aos movimentos dos bailarinos. Hoje, após a apresentação, acontece um bate-papo com o grupo. Amanhã, às 15h, a companhia oferece um workshop gratuito, e às 20h a montagem será reapresentada. A entrada é gratuita.
Com coreografias de Roseli, o espetáculo de dança contemporânea mostra a união entre as nações e as etnias por onde passava a Rota da Seda, que além de servir como rota comercial, também deu origem à transmissão de conhecimentos, idéias e culturas e foi palco de inúmeras histórias, batalhas e romances. “O trabalho estreou em 2002, no Festival de Dança de Joinville, e depois sofreu uma releitura em 2005, para o mesmo festival”, conta Edy Wilson, assistente de direção da companhia.
“O ponto de partida da montagem é a Rota da Seda, mas a pesquisa da Roseli (Rodrigues) foi buscar o lado humano e não político do fato. Ela tentou desenvolver as sensações, emoções e relações que a rota promoveu e também tentou transcrever a nós artistas e ao público esses mesmos idéias”, conta Wilson. Em cena estão 12 intérpretes — Andrea Spósito, Carolina de Sá, Danilo Francisco, Jhean Allex, Juliana Portes, Luana Espíndola, Luis Crepaldi, Anderson Couto, Priscila Ribeiro, Rafael Luz, Rafael Zago e Rony Dias — que usam os mais de 600 metros de tecido com fibra de seda, não como cenário, mas sim como elemento coreográfico.
A parte musical conta com arranjos de Fábio Cardia e músicas do duo australiano Dead Can Dance, da cantora israelita Ofra Haza e Greg Ellis. O projeto de iluminação é de Yves Christian, e concepção de figurinos e maquiagem assinados por Maurício Pina e Roseli Rodrigues.

HISTÓRIA — Fundado na década de 80, o Raça Cia. de Dança de São Paulo tem em seu repertório trabalhos assinados por renomados coreógrafos como Luis Arrieta, Ivonice Satie, Henrique Rodovalho e Roseli Rodrigues — coreógrafa residente. A itinerância dos workshops e espetáculos do grupo pelas principais cidades do Brasil tem como objetivo principal popularizar a prática da dança e favorecer a criação de platéias. Em 2001 e 2002, com o apoio da Funarte e do Ministério da Cultura, a companhia se apresentou em diversas cidades dos Estados de Minas Gerais e São Paulo.
Como convidada, realizou turnê pela Itália, incluindo as cidades de Roma, Terni, Salermo, Tagliacosa, Crotone, Enna, Calabicheta, Piazza Armería e pela Sicília. Em 2004, se apresentou em Portugal no 39º Festival de Sintra, e no ano seguinte foi convidada para a Noite de Gala do 23º Festival de Dança de Joinville. “Estamos muito felizes com a participação no projeto Sesi Dança. O público tem prestigiado em peso as nossas apresentações, fruto do reconhecimento do nosso trabalho”, atesta o assistente.


Sapateado internacional invade Campinas

JASON SAMUELS SMITH, PADRINHO DO FESTIVAL
Crédito: Eduardo Patino

Marcela Benvegnu

Sempre que o final do mês de agosto se aproxima, os sapateadores afinam suas plaquinhas para participarem do Brasil Internacional Tap Festival. Um evento de sapateado, organizado por Christiane Matallo, que visa criar um intercâmbio entre sapateadores e interessados pelo gênero no Brasil e mundo. A nona edição do evento, que acontece no Sesc Campinas, começou ontem e vai até domingo.
Este ano o festival recebe grandes estrelas internacionais do mundo do sapateado, como Jason Samuels Smith (EUA), que é diretor do L.A Tap Festival, de Los Angeles, e ganhador do Emmy Awards como coreógrafo. Smith é o padrinho oficial do Brasil International Tap Festival e ministra aulas em todos os dias do evento para os cursos adulto e infantil.
Também nesta edição do festival estão Dormeshia Sumbry Edwards (EUA), que participou de musicais, como “Black and Blue”; “Bring in Da’noise, Bring in Da’funk” e “Imagine Tap”; Lisa La Touche (Canadá), co-diretora da Cia. de Lane Alexander (Chicago) e Corinne Karon (EUA), que já sapateou em todos os continentes.
Entre os nomes nacionais figuram Mestre Sombra, da bateria da Mocidade Alegre; o contrabaixista Gilberto de Syllos, que acaba de lançar em quatro idiomas o livro “Técnica para Baixo Elétrico na Música Brasileira”; Leandro Barsalini, que é professor de bateria e rítmica no Departamento de Música da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e a organizadora e diretora do festival, Christiane Matallo, recém-chegada da Alemanha. Durante a programação o público poderá conferir o CD “Tap Bass”, de Christiane e de Syllos, que é o primeiro CD de contrabaixo e sapateado lançado no Brasil. Os interessados podem adquirir a obra no estande da Só Dança.

ATIVIDADES — Dividido em quatro dias com uma programação intensa de aulas diárias, o evento ainda traz aos interessados em geral quatro atividades distintas e com entrada gratuita. Ontem, às 17h30, aconteceu uma Tap Jam, com a banda do contrabaixista Gilberto de Syllos. Hoje, às 20h, é hora de ver as plaquinhas se agitarem na apresentação dos grupos amadores, e amanhã, no mesmo horário, os sapateadores profissionais convidados (KS Cia. de Dança e Luizz Baldijão) e os professores do evento se apresentam na mostra dos profissionais. No domingo, às 17h, é hora de ficar antenado nas últimas tendências do sapateado no mundo com uma mostra de vídeos. As atividades são todas gratuitas.

AULAS — Se você não fez a sua inscrição para as aulas do festival, ainda dá tempo. Amanhã e domingo acontecem as aulas do curso iniciante/infantil, com Jason Samuels Smith, Corinne Karon e Lisa La Touche, além das aulas dos professores do curso adulto, para as quais também é possível se inscrever. Para saber mais sobre os valores das aulas e da programação acesse o site www.christiane-matallo.com.br

Thank you, Dance!

by Judy Smith "