Marcela Benvegnu
O mais novo espetáculo do coreógrafo Ivaldo Bertazzo ainda pode ser visto no Teatro Tuca (r. Monte Alegre, s/nº, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), hoje, às 21h, e amanhã e domingo, às 20h, em São Paulo. Intitulado “Anatomia do Desejo”, com participação especial do projeto Cidadança com “Tudo o Que Gira Parece a Felicidade” — coreografia de Bertazzo e Inês Bogéa —, o trabalho é um convite à dança e a tradução literal dos processos evolutivos do homem e como ele é capaz de se adaptar aos mais diferentes meios.
Em 1976, São Paulo viu surgir uma nova linguagem cênica, um grupo de pessoas de várias idades, diversas formações e anatomias das mais variadas, reuniu-se para dançar as coreografias Bertazzo, a partir de movimentos simples de consciência corporal. Nascia, assim, o Cidadão Dançante, uma proposta que buscava fazer do ofício da dança um ato possível a todos.
Em 2007, 31 anos depois, Bertazzo trouxe à tona o projeto com uma nova proposta, resultado de uma reflexão que vem fazendo nos últimos anos, sobre o endurecimento das relações e dificuldade do trânsito social dentro da cidade São Paulo.
Para o coreógrafo a sociedade contemporânea inibe nossa comunicação, impossibilita o contato mais íntimo com o corpo e suas múltiplas potencialidades e o prazer do encontro está desaparecendo no seu ponto de vista. Em cena, 120 bailarinos se cruzam, descruzam, desejam os seus e os corpos dos outros, porém, o que mais se evidencia em cena são os corpos que ali estão idênticos, mas que possuem os mais diferentes biotipos, idades e características. De fato, dança feita para e por todos.
MOVIMENTO — O ponto alto do programa é “Tudo o Que Gira Parece a Felicidade”, resultado do projeto Cidadança da Prefeitura de São Paulo e da Escola do Movimento Ivaldo Bertazzo. Com trilha de Arthur Nestrovski, 100 cidadãos das mais diferentes áreas de risco de São Paulo dançam.
Em cena o reflexo das influências indianas de “Samwaad” e africanas de “Milágrimas”, de Bertazzo, com o trabalho de marcações e quadris, que Inês trouxe do Grupo Corpo, onde dançou por 12 anos. O que chama atenção em cena é que em apenas dez meses de ensaio e aulas não existia diferença entre um grupo de bailarinos e outro, todos eram cidadãos, que entre seus maracatus e suas danças de orixás, revelaram um Brasil moldável, que se adapta ao meio. Coreografia da nossa mais real identidade. (publicada em 17 de maio de 2007)
Um comentário:
gosto bastante de dança e gostei muito do seu blog. beijos, pedrita
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