Marcela Benvegnu / marcela@jpjornal.com.br
Nas últimas décadas, o movimento de produção de livros sobre dança aumentou consideravelmente – embora seu acesso ainda não esteja democratizado. Uma das responsáveis por este avanço é a crítica de dança do jornal “Folha de S. Paulo”, Inês Bogéa, que acaba de publicar o livro “Contos do Balé”, no qual apresenta cinco balés de repertório ao público infanto-juvenil.
Inês foi bailarina do Grupo Corpo, de Belo Horizonte, por 12 anos, é autora de “O Livro da Dança”, organizadora de “Kazuo Ohno” e “Espaço e Corpo, Guia de Reeducação do Movimento” e co-autora dos documentários “Movimento Expressivo – Klauss Vianna”, “Renée Gumiel, a Vida na Pele” e “Maria Duschenes – O Espaço do Movimento”. Em entrevista ao Jornal de Piracicaba por conta do lançamento de seu livro, Inês também falou sobre a produção de crítica no país.
Jornal de Piracicaba – Como você vê o movimento da crítica de dança no Brasil hoje?
Inês Bogéa – A dificuldade em se estabelecer uma regularidade nas respostas críticas, seja nos jornais, sites de dança e revistas torna a área frágil, apesar do crescimento do número de pessoas capacitadas para exercer este papel. A importância da resposta crítica para a área é grande, pois nos diálogos entre criadores, críticos e público prolonga-se a existência de uma área tão efêmera quanto a nossa. A crítica procura entender e identificar o que compõe uma obra, questionar nossos hábitos de compreensão e situar nossas interpretações num contexto amplo da cultura.
JP – Por que a maioria das críticas privilegia somente trabalhos de companhias contemporâneas?
Inês – Na minha visão o espaço é escasso para todos os gêneros. A diferença está no grau de profissionalismo com que os espetáculos são apresentados e também no público que cada espetáculo mobiliza. A tendência nos jornais é dar mais espaço para grandes produções nacionais e internacionais. A imprensa responde, de alguma maneira, à produção apresentada, claro que o que é muito visível para a área nem sempre tem tanta visibilidade para os meios de comunicação. Aí a importância de revistas especializadas, colunas e sites que promovam a diversidade das linguagens em cena.]
JP – Você é diretora da Escola do Movimento do Ivaldo Bertazzo, em São Paulo. Como está o Dança Comunidade?
Inês – Depois de 30 anos de estrada, Bertazzo tem a sua primeira companhia fixa, fruto do seu trabalho de formação com os jovens do projeto Dança Comunidade/Sesc. Neste ano, o repertório da Cia. – “Milágrimas” e “Samwaad” – será apurado, vindo de encontro à capacidade técnica dos dançarinos.
JP – Vocês também têm outro projeto, o Cidadança.
Inês – Sim. O projeto prevê dez meses de ensino a 100 adolescentes de 15 a 17 anos, moradores de distritos carentes. Ao longo deste período trabalhamos para que eles conhecessem a nossa realidade, e nós a deles. Os contrapontos da cidade se tornaram mais explícitos e ao mesmo tempo menos brutos e previsíveis. O acolhimento humano em todas as circunstâncias foi impressionante e não pode não ser mencionado, para além de qualquer receio de sentimentalismo, do qual não tem nada.
JP – O Cidadança estréia um espetáculo amanhã. Qual é a temática da montagem?
Inês – “Tudo o que Gira Parece a Felicidade” é idealizado por mim e Bertazzo, com trilha sonora de Arthur Nestrovski. A montagem estréia amanhã no Teatro do Tuca e fica em cartaz até 20 de maio. No palco, se mantêm as individualidades e cresce a possibilidade de cada um ocupar o espaço de forma integrada. O encontro com o público é um espelho que é capaz de dar identificação própria e promover o reconhecimento de um sujeito entre seus semelhantes.
JP – Você acabou de lançar “Contos do Balé”. Como surgiu a idéia de escrever este livro?
Inês – Essas histórias são parte da minha história de bailarina. Um dos meus grandes desejos quando aprendia um novo balé era o de ouvir a sua história. Foi muito difícil escolher somente cinco contos, mas a escolha veio da força e da continuidade dessas histórias por meio do tempo.
JP – Existe a idéia de um próximo livro?
Inês – Estou terminando uma pesquisa sobre o teatro de Dança Galpão – que na década de década de 70 foi um grande momento para a modernização da dança brasileira – e pretendo terminar meu doutorado e publicá-lo, pois conta a trajetória coreográfica de Bertazzo.
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