“Danço na minha idade, porque a dança e o teatro são a essência da minha vida. Consegui vencer meus dissabores — vida e morte, morte e vida: meu desejo do corpo, da alma e do cérebro me leva à mudança, me dá humildade e descubro o princípio da sabedoria. É o desejo que determina o movimento e as imagens”. A frase é da bailarina Renée Gumiel em seu discurso de comemoração de seu aniversário de 90 anos, organizado pela crítica de dança Inês Bogéa, no Sesc Vila Mariana em São Paulo, em 2003. Desde domingo passado, às 23h30, Renée não dança mais no nosso plano. A vida foi vencida por uma broncopneumonia no Hospital Santa Cruz, em São Paulo e a classe artística perdeu uma das maiores representantes da dança moderna. Sua imagem — ou melhor, o seu desejo que determinava o movimento — era forte; unhas pintadas, batom vermelho e cigarro entre os dedos, sem esses “adereços”, a bailarina nascida em 1913, na cidade francesa de Saint-Claude e radicada no Brasil desde a década de 50, não era ela mesma.Se orgulhava em contar suas histórias — muitas delas gravadas no documentário “Renée Gumiel — A Vida na Pele”, dos diretores Inês Bogéa e Sérgio Roizenblit produzido pela TV Cultura — afinal, participou da efervescência da vida cultural em Paris antes da 2ª Guerra Mundial e conviveu com personalidades históricas como Igor Stravinski (1882-1971) e Jean Cocteau (1889-1963). Foi aluna de Kurt Joss (1901-1979) e Rudolf Laban (1879-1958) e chegou a dançar com Harald Kreutzberg (1902-1968).Era valente, resistiu a três cânceres. “Através da arte, consigo viver como uma árvore, cujas folhas caem no inverno mas crescem de novo na primavera. Vivo sempre me reconstruindo”, dizia a bailarina que ainda trabalhava nos espetáculos do diretor José Celso Martinez Corrêa e também dava aulas (concorridas, por sinal). Coreografou trabalhos marcantes, como “Stabat Mater” (1957), “Huis Clos” (1963), “Amargamassa” (1978), “Uma Lágrima Quer Nascer para Unir-se ao Mundo” (1986), “A Memória Gruda na Pele” (1993) e atuou como atriz e bailarina em “O Trem Fantasma” (1979), “As Galinhas” (1980), “O Eterno Regresso” (1980), Cacilda (1998) e outros.Mesmo longe, deixa um recado eterno ao bailarinos: “Vida, morte, renascer; luz e sombra. Somos um corpo, somos alguém — eu sou alguém autêntico. Busquem a natureza: sejam vocês mesmos”.
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Thank you, Dance!
by Judy Smith "
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